Na pandemia do coronavírus, ações de apoio e reconhecimento aos profissionais de saúde se multiplicam no Rio. Em Niterói, a Universidade Federal Fluminense (UFF) deu início, nesta semana, ao projeto 'Hospedagem Solidária' para oferecer estada gratuita a profissionais da saúde do Hospital Universitário Antônio Pedro (Huap) que, por motivos de saúde ou de logística, não possam retornar para suas casas durante o período da pandemia da covid-19. As estadas começaram na segunda-feira.
Ao todo, serão até 60 vagas no Hotel Solar do Amanhecer, localizado em Charitas, durante 30 dias, e com direito a café da manhã. O 'Hospedagem Solidária' é uma iniciativa do Gabinete do Reitor, em conjunto com a Faculdade de Turismo e Hotelaria. Nesse primeiro momento, o público alvo do projeto são todos os profissionais do Huap que tenham alguma restrição para retornar às suas residências durante o período mais crítico da crise.
Segundo o reitor da UFF, Antonio Claudio Lucas da Nóbrega, o projeto tem o objetivo de proteger os agentes que atuam na linha de frente do combate à covid-19, e resguardar as pessoas que convivem com eles.
"Estamos providenciando hospedagem temporária para dar maior segurança aos profissionais de saúde. Muitos enfrentam problemas para chegar ao hospital ou não querem colocar em risco familiares e pessoas próximas nos locais em que vivem. Essa medida é fundamental para maior conforto e segurança sanitária dos servidores", disse Antonio Claudio.
Heróis de jaleco
Um dos profissionais que estão hospedados no Solar do Amanhecer é o médico Ueliton Santos. Ele é bioquímico e trabalha no laboratório de urgência do Hospital Antônio Pedro. Morador de Barra da Estiva, na Bahia, Ueliton conta que decidiu ficar no hotel não apenas pela distância de casa, mas também pelo cuidado com os familiares.
"Tenho esposa e um filho de seis anos em casa, além de pais e outros parentes que são idosos. Ainda vai demorar para nos vermos, pois quando eu voltar para a Bahia terei que ficar ainda dez dias em isolamento para só então poder abraçá-los", conta Ueliton, que, na parte de noite, após terminar o expediente no hospital, faz contato com a família por chamadas de vídeo: "É muito difícil essa situação. A saudade é grande demais", se emociona o médico.
Segundo Ueliton, a apreensão é um sentimento comum a todos os profissionais do hospital:
"Temos contato com pacientes de covid-19. Apesar de todas as precauções, isso nos traz preocupação. Mas é o nosso trabalho e temos que fazê-lo bem, pois a sociedade precisa da gente neste momento".
Com o enfermeiro Oswaldo Ferreira não é diferente. Morador da cidade do Rio, ele também se hospedou no hotel para evitar transtornos no deslocamento e resguardar os parentes.
"Neste momento crítico, é muito complicado para nós ficarmos longe das pessoas que mais amamos. É muito difícil, mas é necessário", diz o enfermeiro.
Além da preocupação com os familiares, também há a receio com a própria saúde durante a rotina de trabalho:
"Tem sido tenso assumir um plantão de 12 horas. Precisamos de muitos materiais de proteção e me questiono se teremos equipamentos suficientes para todos nós se os casos aumentarem. Durmo e acordo preocupado. Mas o amor pela profissão está acima de qualquer coisa. O prazer de atuar salvando vidas é gratificante demais".