‘Já mataram 36 neste mês e tem mais 40 para morrer. Eu sou o primeiro da lista. Vocês não fazem nada?”. Este foi o apelo de ‘Pirata’, jovem ameaçado de morte, na Baixada Fluminense, há 30 anos. Um grito de socorro que deu ao padre Renato Chiera uma missão: recuperar crianças, jovens e adolescentes da violência. E assim nascia a Casa do Menor, em 1986, em Miguel Couto, em Nova Iguaçu.
Pirata não viveu para ver o sonho realizado, o menino foi assassinado. Situação comum atualmente. É o que mostra a pesquisa feita pelas organizações Visão Mundial e Instituto Igarapé sobre a percepção das crianças acerca da violência. Cerca de 60% dos entrevistados afirmam já terem sofrido violência física doméstica. E outros 35% já receberam, em algum momento, assistência policial e hospitalar por terem sofrido algum tipo de violência.
Contra casos como este, é que o padre Renato luta. “A violência e a agressividade dos jovens são um grito de socorro. Eles dão o que receberam da sociedade. A chave para mudar esta realidade é dar a eles o amor de família que não conheceram e oportunidade”.
As histórias de Lilian da Silva, 33, e Lailson Mota, 25, são provas de tudo o que o padre Renato acredita. Os dois chegaram à Casa do Menor ainda crianças, com histórias de abandono, abusos e drogas. Hoje, em nada lembram as crianças que foram um dia.
“Fugi de casa com 10 anos depois de sofrer abusos na casa de parentes. Morei na rua até conhecer o abrigo. Aos 13 anos saí e acabei engravidando. Voltei com meu filho e fiquei. Virei voluntária, reconstruí minha vida. Hoje tenho dignidade e uma família. Se eu não tivesse sido acolhida, meu destino teria sido trágico”, relembra Lilian.
Com 7 anos Laison já estava envolvido com as drogas. Aos 13 foi apreendido por assalto e tráfico. Aos 15, já estava nas ruas novamente e quase morreu de overdose. “Nunca conheci meus pais. A vida me levou para este caminho, mas a Casa do Menor me mostrou um lado da vida que eunão conhecia, uma vida em família. Me livrei das drogas e dou aula de percussão no abrigo. Faço por outras crianças o que um dia fizeram por mim”.
Nestes 30 anos a instituição beneficiou mais de 100 mil crianças, adolescentes e famílias. Profissionalizou mais de 50 mil jovens e acolheu cerca de 10 mil crianças e adolescentes nas casas lares.
“É claro que não dá pra mudar o mundo, mas muita coisa pode ser feita”, diz o padre.
Casa tem cinco unidades no estado e outras três no nordeste
A ONG Casa do Menor alcança seus 30 anos com três unidades em Nova Iguaçu (Miguel Couto, Tinguá e Rosa dos Ventos), uma em Teresópolis, outra em Guapimirim e três no nordeste (Fortaleza e Pacatuba, no Ceará, e Santana do Ipanema, em Alagoas).
As unidades oferecem programas de profissionalização e atividades de recreação com esporte e cultura. Além disso, tem creche e o “Programa de Casas Lares”, que prepara crianças e adolescentes para voltar à família biológica (ou substituta).
Para comemorar, a instituição preparou uma festa que começa hoje e vai até o dia 15. Na programação tem campeonato de futebol, atividades recreativas, missa e festa na Igreja Matriz de Miguel Couto.
Além disso, haverá uma mostra fotográfica, ‘Simplesmente Presença’. “É um pouco do trabalho que a Casa faz. Um outro olhar sobre uma trágica realidade do nosso país”, afirma a fotógrafa Kelly Duque.
Todas as atividades são gratuitas.
PROGRAMAÇÃO
>Dia 9:
-9h: Final Taça Padre Renato de Futsal (CIDAH- Centro Cultural, Rua Valentina 21, Miguel Couto, Nova Iguaçu)
-16h: Mostra fotográfica (Shopping Nova Iguaçu)
>Dia 11:
-16h: Apresentação Cultural (Shopping Nova Iguaçu)
-18h30: Espetáculo Circo (CIDAH- Centro Cultural, Rua Valentina 21, Miguel Couto, Nova Iguaçu)
>Dia 12:
-15h: Festa ‘Dia das Crianças’ (CIDAH- Centro Cultural, Rua Valentina 21, Miguel Couto, Nova Iguaçu)
>Dia 14
-18h30: Noite de Talentos (CIDAH- Centro Cultural, Rua Valentina 21, Miguel Couto, Nova Iguaçu)
>Dia 15
-18h: Missa e festa popular (Igreja Matriz de Miguel Couto, Rua S. Pedro 74)