Arte coluna nuno 19 julho - Arte Paulo Márcio
Arte coluna nuno 19 julhoArte Paulo Márcio
Por O Dia

O Rio de Janeiro se habituou, nos últimos anos, a ser tratado como um fardo que pesa sobre os ombros do restante do país. Por obra de uma sucessão de erros, cometidos por gestores estaduais e municipais nas últimas décadas, a cidade e o estado se transformaram, aos olhos dos demais brasileiros, em sinônimo de corrupção, de violência e de ineficiência. Em meio a esse cenário desanimador, no entanto, é mais do que reconfortante perceber que algumas instituições fluminenses não apenas resistiram à destruição como têm servido de exemplo de que, se tudo for feito do jeito certo, nada impede que o Rio deixe de ser visto como o líder dos problemas e passe a ocupar um lugar de honra no centro das soluções do país.

Uma dessas instituições é a Fundação Oswaldo Cruz. Criada no ano de 1900 com o nome de Instituto Soroterápico Federal, para combater uma série de problemas sanitários que ameaçavam a então capital do país, a Fiocruz vem se firmando ao longo de seus 120 anos de vida como uma referência mundial em saúde pública. A fundação, que foi rebatizada em 1908 com o nome de seu criador, o sanitarista Oswaldo Cruz, deverá começar a produzir em larga escala nos próximos meses a vacina desenvolvida pela universidade inglesa de Oxford, que tem sido apontada como a mais eficaz e promissora para o combate à covid-19.

CARÁTER EXCEPCIONAL

O governo brasileiro já negociou com a empresa farmacêutica Astrazeneca, parceira da universidade nesse projeto, os termos para a produção pela Fiocruz de 30,4 milhões de doses da vacina. Ainda é preciso aguardar a conclusão da terceira e última etapa de testes para que se inicie a aplicação do medicamento em larga escala. Quando forem cumpridas todas as exigências e a produção entrar em ritmo industrial, a Fiocruz produzirá até 40 milhões de doses por mês e se tornará a principal fornecedora da vacina não só para o Brasil, mas para toda a América Latina.

"Temos uma infraestrutura robusta e com capacidade produtiva para incorporar novas tecnologias e introduzir novas vacinas rapidamente no Sistema Único de Saúde", afirmou recentemente a pesquisadora Nísia Trindade de Lima, presidente da Fiocruz.

Mesmo estando em fase acelerada, ainda seria necessário, em condições normais, esperar até o mês de junho de 2021 para o registro e a validação exigidos para a distribuição em larga escala da vacina pela rede do SUS. As condições, no entanto, são excepcionais e isso deve acelerar o processo.

A diretora médica da Astrazeneca Maria Augusta Bernardini acredita que, na hipótese de os testes da terceira fase confirmarem a eficácia da vacina, as autoridades mundiais de saúde podem liberar a vacina em caráter de urgência. Se isso acontecer, nada impedirá que as autoridades brasileiras sigam o mesmo caminho — mesmo porque, parte dos testes dessa terceira fase estão sendo feitos no Brasil, com cinco mil voluntários.

VACINA BIVALENTE

A vacina de Oxford não é a única que tem se mostrado eficaz. A Fiocruz também não é o único centro de excelência em condição de produzir o medicamento no Brasil. Embora menos adiantados, os testes com a vacina criada pela chinesa Sinovac Biotech, realizados pelo Instituto Butantã, de São Paulo, vem gerando resultados animadores. Outros movimentos importantes estão sendo feitos.

Nos últimos dias, os Estados Unidos e a Rússia fizeram movimentos que fizeram lembrar os tempos da chamada Guerra Fria. Na terça-feira passada, a Universidade de Sechenov, da Rússia, anunciou que dará início à distribuição em larga escala de uma vacina desenvolvida em seus laboratórios. Não foi informada, porém, a técnica utilizada nem as condições em que os testes foram realizados. No dia seguinte, a Moderna, uma farmacêutica americana, publicou numa revista científica respeitada informações sobre a eficácia de seu medicamento.

Discutir se a solução virá da Inglaterra, da China, da Rússia ou dos Estados Unidos é bobagem: não importa de onde ela venha, o importante é que venha logo. Para o povo brasileiro, é alentador se lembrar de que existe no Rio um centro de excelência que é parte da linha de defesa contra essa ameaça mundial. Mais importante, porém, é saber que a capacidade da Fiocruz não se limita a produzir vacinas desenvolvidas em outros centros.

Os pesquisadores da instituição desenvolveram, por exemplo, um sistema simples e eficaz que melhora a qualidade do ar nas UTIs — reduzindo o risco de contaminação dos profissionais de saúde que lidam com os pacientes em tratamento. Mais: além de trabalhar com o medicamento inglês, os pesquisadores estão desenvolvendo uma vacina bivalente, que protegerá tanto contra o corona quanto contra o vírus influenza. Ou seja: com uma picada só, a pessoa se livrará de duas ameaças graves. Para um lugar que se habituou a ser visto apenas pelo lado negativo, a Fiocruz é um exemplo de que o Rio é capaz de oferecer soluções para o país e para o mundo.

 

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