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Por Nuno Vasconcellos
Um dos obstáculos que mais dificultam a superação dos problemas do Rio de Janeiro é a falta de consenso em relação à solução mais adequada: cada um faz força para um lado e, no final, tudo fica parado no mesmo lugar. Há várias ideias conflitantes e falta de acordo até mesmo em relação ao que é prioritário: o que para uns precisa ser feito primeiro, para outros deve ser deixado para o final. Assim, cada proposta que surge, por mais tempo e energia que tenha consumido em discussões, é logo boicotada por quem saiu derrotado do debate.
Essa realidade ficou evidente, mais uma vez, na terça-feira passada, na votação do relatório da Comissão de Representação que desde janeiro analisava na Câmara Municipal medidas emergenciais destinadas a fomentar o desenvolvimento econômico e tributário do município. Conforme mencionei na quarta-feira passada, na coluna Informe do Dia, o relator, vereador Pedro Duarte (Novo), apresentou as 20 medidas que a comissão considerou prioritárias para começar a resolver o problema.
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São, em sua maioria, providências sensatas e realmente necessárias. Entre elas, para se ter uma ideia, estão o corte de despesas públicas e a simplificação dos processos administrativos — temas que contam com a simpatia da maioria dos cidadãos. O relatório ressalta, ainda, a necessidade de se acelerar a cobrança da Dívida Ativa para que os devedores de impostos não se beneficiem do decurso de prazo.

TUDO COMO ESTÁ — São, como se vê, medidas marcadas pelo bom senso. Mesmo assim, houve quem discordasse delas. O vereador Lindbergh Farias (PT), por exemplo, votou contra o relatório por entender que os problemas do Rio devem ser resolvidos com emissão de dinheiro, com o aumento dos gastos da prefeitura e com a retomada dos investimentos da Petrobras. Imaginar que a solução dos problemas do Rio possam estar em medidas superficiais e genéricas com essas é o mesmo que assumir a intenção de deixar tudo como está.
As propostas do vereador petista, porém, têm um mérito. Elas deixam clara a dificuldade de se chegar a um consenso mesmo diante de questões vitais e emergenciais como o estado de calamidade financeira do Rio. A situação se torna ainda mais complexa na medida em que deixamos de concentrar a atenção apenas na capital e passamos a olhar para o estado inteiro. O que fazer?
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Não existe, infelizmente, uma resposta pronta e imediata para essa pergunta. Para encontrar uma saída para seus problemas, o Rio precisa, antes de mais nada, mudar a forma de encará-los. Do contrário, corre o risco de morrer à espera de uma ajuda que só virá caso as forças locais deem o primeiro passo e tomem para si a responsabilidade de salvar a cidade e o estado. No ponto que a situação chegou, o Rio precisa, antes de receber qualquer ajuda, mostrar que faz jus a ela.
O Rio precisa provar que, para além da beleza de suas praias e de sua paisagem exuberante, existe uma cidade pujante, com pessoas que não são apenas descontraídas e bem humoradas. Elas são, também, preparados para explorar as vocações econômicas da cidade. O Rio precisa mostrar que não é só festa e espuma — mas é também trabalho e essência.
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Outro detalhe: o Rio precisa esquecer o que era 20 ou 30 anos atrás e passar a se preocupar com o que pretende ser daqui a 20 ou 30 anos. Precisa, finalmente, de deixar de esperar por soluções milagrosas e começar a elaborar, com inteligência local e colaboradores de fora, o Plano Estratégico que livrará a cidade de suas dificuldades. As providências precisam começar a ser tomadas hoje, com os olhos voltados para 2040.
Não é a primeira vez que a necessidade urgente de um Plano Estratégico para o Rio é mencionada neste espaço. Também não será a última. Essa não é uma providência para amanhã, é para ontem. O documento deve ser escrito já e contar com a colaboração de especialistas experientes, que já tenham ajudado outras cidades e regiões problemáticas do mundo a superar suas dificuldades.

A HORA É ESTA — Não há dúvida de que a Saúde, a Segurança e, em especial, a Educação devem encabeçar qualquer lista de providências. Também não há dúvidas quanto à necessidade de oferecer para a população empregos de qualidade, em quantidade suficiente para tornar as famílias de baixa renda menos vulneráveis à criminalidade.
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É preciso, a partir de agora, investir no ensino profissionalizante de qualidade, capaz de preparar os jovens para um mercado de trabalho cada vez mais permeado pela tecnologia avançada. A infraestrutura precisa ser modernizada por meio de parcerias com a inciativa privada. Também é preciso não se esquecer do turismo e outras atividades já identificadas como uma vocação natural do Rio. E passar a oferecer serviços bons o suficiente para fazer com que o visitante sinta vontade de voltar. É inaceitável, por exemplo, que os serviços prestados num hotel de primeira linha no Rio sejam, como acontece hoje, inferiores aos de um estabelecimento da mesma cadeia localizado em São Paulo — isso para manter a comparação dentro do Brasil.
Outro ponto importante: ninguém conseguirá resolver os problemas do Rio sem olhar para as comunidades que se espalham pelos morros da cidade. Atenção! Ninguém está sugerindo, a demolição de casas ocupadas há décadas pelas mesmas famílias. O que se propõe é que, a partir de intervenções como as que foram feitas na Comuna 13, na cidade colombiana de Medellin, se mude a face das comunidades.
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Antes dominada pelo tráfico e pelo crime, a Comuna 13 se transformou, depois que passou a ser tratada como prioridade pelo Estado, num lugar em condições de oferecer moradia digna e segura para a população de baixa renda. O mesmo, claro, pode acontecer na Rocinha, no Vidigal ou em qualquer outra comunidade do Rio. Para isso acontecer, no entanto, é preciso começar a trabalhar. E para começar a trabalhar, como os intérpretes de sambas-enredos costumam gritar na avenida, a hora é esta!
(Siga os comentários de Nuno Vasconcellos no twitter e no instagram: @nuno_vccls)
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