NUNO11JULARTE KIKO
O mais provável é que, ao invés de beneficiar, o eventual afastamento de Bolsonaro prejudique as pretensões de Lula. Um impeachment pode abrir espaço para um candidato com índice de rejeição inferior ao do presidente, que é de 59%. Lula provavelmente manterá a liderança das pesquisas, mas sua rejeição também é alta: 37%.
É cedo para saber. Processos como esse nunca são rápidos e a lama revolvida durante os debates pode manchar reputações de muitas pessoas além do investigado. O processo que custou o mandato da ex-presidente Dilma Rousseff, por exemplo, se estendeu por longos 273 dias. Tomando esse mesmo tempo como base, se o processo contra Bolsonaro começasse a tramitar na primeira semana de agosto deste ano, ele se estenderia até a primeira semana de maio do ano que vem — ou seja, a apenas cinco meses das eleições.
Há duas abordagens possíveis: a jurídica e a política. No campo jurídico é improvável que o ministro Luís Roberto Barroso, que presidirá o processo, caso o pedido de impeachment seja aceito pela Câmara, trate Bolsonaro com a mesma generosidade que ministro Ricardo Lewandowski dispensou a Dilma — que conservou os direitos políticos depois de perder o mandato. O provável é que Bolsonaro fique impedido de disputar eleições por oito anos, como determina a lei e como aconteceu com Fernando Collor.
Conservando seus direitos, Bolsonaro lidará com uma realidade diferente da de 2018. Ali, ele se beneficiou da rejeição do eleitorado aos candidatos da esquerda. A habilidade em explorar essa rejeição tornou sua candidatura viável, a despeito da insignificância da legenda de aluguel que o abrigou, o PSL. Agora, o eleitor o julgará não pelas promessas, mas pelos resultados de seu governo — e esse julgamento tende a ser desfavorável, como mostra seu índice de rejeição.
Provavelmente não. Mourão não atrai os simpatizantes de Bolsonaro e, caso assuma, tende a sofrer um processo de desgaste semelhante ao que atingiu Michel Temer — que atraiu a ira dos apoiadores de Dilma. Mourão não tem o mesmo traquejo político de Temer nem é capaz de aglutinar apoios como Itamar Franco, o sucessor de Collor. A chegada à presidência, provavelmente não dará a Mourão chances reais de vitória.
A situação da economia é decisiva em qualquer eleição. Se a atividade estiver em alta e a taxa de emprego for crescente, qualquer presidente resiste a qualquer escândalo. Em 2006, para citar apenas um exemplo, Lula foi reeleito com facilidade, mesmo tendo sofrido o desgaste do chamado “Processo do Mensalão”. A questão é saber se os investimentos públicos previstos para o segundo semestre e para o ano que vem produzirão a tempo resultados que possam beneficiar Bolsonaro. É provável que não. A mesma crise que em 2018 trabalhou a favor de Bolsonaro, agora age contra ele.
A postura diante da pandemia da Covid-19 é, sem dúvida, um ponto fraco de Bolsonaro. A falta de clareza em relação à campanha de vacinação e o apoio a drogas sem eficácia comprovada o deixaram em posição desconfortável — e nem mesmo o sucesso da campanha daqui por diante deverá ter o poder de beneficiá-lo. A postura diante da pandemia, que prejudica Bolsonaro, é o grande trunfo de uma eventual candidatura do governador de São Paulo, João Doria.
Lula é maior do que a esquerda que o apoia e seu prestígio, sem dúvida, avança em direção ao “centro”. Doria, por sua vez, não conta com a simpatia da esquerda e também tem críticos ferozes entre os bolsonaristas radicais. De acordo com o Datafolha, sua rejeição é equivalente à de Lula, na casa dos 37%. No entanto, alguns fatores pesam a favor do governador e melhoram suas chances de chegar ao segundo turno. A vacina é um deles. As ações e os investimentos de seu governo no interior poderão garantir a maioria dos votos em São Paulo, maior eleitorado do país. Finalmente, o governador já demonstrou capacidade de trabalho e determinação.
Mínimas. Para se viabilizar, ele teria que convencer parte do eleitorado de esquerda de que é melhor do que Lula, o que é muito pouco provável. O apoio a Ciro, provavelmente, ficará circunscrito a seu estado, o Ceará. Lula é o único candidato de esquerda com chances de conquistar a presidência.
Leite terá, primeiro, que conseguir dentro do PSDB o apoio que Doria também pleiteia. Por mais corajosa que tenha sido a postura do governador e por mais aplaudida que tenha sido a declaração, ainda não é possível medir o impacto de seu gesto sobre o eleitorado — sobretudo sobre os segmentos mais conservadores. Além disso, ele terá que se tornar conhecido do conjunto do eleitorado, o que ainda não é.
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