A pandemia do novo coronavírus deixou milhares de moradores de São Gonçalo e Itaboraí com transporte público restrito desde o mês de março. Mas, apesar da flexibilização das regras de isolamento social, algumas linhas de ônibus não normalizaram os seus serviços e seguem deixando os passageiros da região na mão, ou melhor, na rua e a pé. As linhas MB 36 (Alcântara x Itaboraí), 700M (Alcântara x Curuzú), 701M (Alcântara x Itaboraí - Via Cabuçu), 403M (Alcântara x Manilha), 430M (Niterói x São José) e 431M (Monjolos x Niterói) são as recordistas de reclamações da população.
Segundo quem depende dos ônibus, o número de carros das linhas foi reduzido drasticamente, o que tem causado uma série de prejuízos na vida dos moradores, especialmente de quem vive nas regiões de Curuzú e São José, em Itaboraí. Ismarlen Aperibencio, de 24 anos, conta que foi demitido do seu emprego por não conseguir chegar ao local de trabalho.
"A gente entende que a pandemia foge ao nosso controle. Mas os moradores estão tendo que voltar ao trabalho e não há transporte público para isso. As pessoas estão chegando atrasadas aos seus compromissos e têm sofrido bastante para realizar qualquer atividade longe de casa. Eu mesmo foi demitido por não conseguir chegar a tempo ao trabalho", relata Ismarlen.
Uma outra opção para os moradores da região de Curuzú, a mais afetada por estar no fim dos percursos, seria uma van que faz o trajeto Alcântara-Curuzú, semelhante ao da linha 700M. Mas a manicure Thamires Oliveira conta que o transporte alternativo também não vem cumprindo o seu papel e reduziu o itinerário na pandemia, deixando os moradores apenas em Cabuçu, dois bairros antes o destino final, obrigando-os a caminhar entre 30 minutos e uma hora.
"Tem pessoas que voltam do trabalho às 23h e não tem transporte essa hora. A gente tem que se virar com mototáxi ou carona com vizinho. Para ir ao trabalho é o mesmo sacrifício, tenho que caminhar no escuro às 4h30 da manhã. Muitas pessoas estão indo para a casa de parentes para terem acesso à condução e poderem ir ao trabalho", destaca a Thamires.
Já o publicitário Leandro Porto relata o medo das pessoas diante da falta do transporte público: "Quem tem idoso ou criança em casa e precisar de um transporte público em uma emergência não tem o que fazer. Os moradores estão enlouquecendo. Se uma pessoa sofrer um infarto e não tiver carro para socorrer rápido, está morta!", desabafa Leandro.
Queixas chegam à Alerj
As queixas levaram o deputado estadual Anderson Alexandre (SDD) a formalizar pedidos ao governador Wilson Witzel e ao secretário estadual de Transportes, Delmo Pinho, para que adotem as medidas necessárias para o retorno das linhas, em especial a MB 36. "Sem essas linhas, o direito de ir e vir da população está fortemente comprometido. A MB 36, por exemplo, sempre foi muito utilizada. É de fundamental importância que volte a circular atendendo os moradores de Itaboraí e São Gonçalo", justificou.