Relatos sobre a greve da CSN de 1988 em Volta RedondaDivulgação/ Arquivo

Volta Redonda - Segue viva na memória de jovens e adultos, o dia 09 de novembro de 1988. São 33 anos das mortes de três operários da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional): Willian, Valmir e Barroso, no confronto da Força Federal em Volta Redonda.
Ex-metalúgicos, estudante e professor comentaram sobre a greve. O ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de VR e região, Marcelo Felício relembrou o ocorrido.
“Acho que não podemos perder de vista a importância que teve cada lado naquele momento histórico da greve na CSN em 1988. O grande responsável pelo ataque à classe trabalhadora foi o mercado com a exigência de ‘pacificar’ os trabalhadores para que pudesse privatizar a CSN do jeito que foi. O outro lado foi o apoio da sociedade local e nacional, em especial as CEBs, com o trabalho realizado principalmente pela igreja Católica. Não adianta nem ficar falando de Dom Waldyr Calheiros, pois ele era uma pessoa apaixonante, maravilhoso em relação ao apoio aos trabalhadores. A meu ver esse trabalho, teve um ponto culminante - o abraço à CSN, aquilo foi maravilhoso, definitivo para mim. Mesmo com as lamentáveis mortes de três operários e tantos feridos pelo Exército, o movimento popular sindical foi fundamental. A luta era para resgatar nossos direitos, nossa dignidade, apesar das mortes, que nós jamais gostaríamos que tivessem acontecido. A nossa dignidade naquele momento era maior, tínhamos que lutar, enfrentávamos uma ditadura”, falou Marcelo Felício.
O historiador Paulo Célio, ao fazer memória da greve de 1988 enfatiza o momento importante e dramático da cidade de Volta Redonda, ligando o fato ao cenário político atual do Brasil.
“O nove de novembro, 33º ano da histórica greve na CSN, foi um momento importante e dramático na nossa cidade, ocasião em que três operários, infelizmente foram mortos pelo Exército Brasileiro. O fazer memória e manter vivo a história, e é muito importante, principalmente no momento que vemos tantos ataques à classe trabalhadora, as minorias e aos direitos humanos, fazer memória da greve de 88 é reforçar a luta pela democracia no Brasil. William, Valmir, Barroso e a classe trabalhadora de VR, presentes”, lembrou o professor e doutor em história.
Outro ex-metalúrgico, Adel Olímpio também falou sobre a greve de 1988.
“Como ex-metalúrgico anistiado pelo Ministério da Justiça e aposentado, tendo trabalhado na FEM, comentar sobre a greve da CSN de 1988, que ficou nos anais da história de Volta Redonda, do Brasil é rememorar a triste consequência das mortes dos companheiros pelo Exército, fato que impactou a muito a minha vida. Eu, no passado tinha o Exército como uma das instituições tido como gloriosa, ao deparar com as forças armadas em nossa cidade praticado o que fizeram foi uma decepção muito grande. Desiludi -me. Nós trabalhadores estávamos reivindicando nossos direitos e ele vieram para nos abater. Contudo, para Volta Redonda, acredito que o sentimento da população de VR e região tenha sido o mesmo sentimento, fato que tivemos apoios dos trabalhadores do Brasil todo e de instituições internacional. Nossa luta era justa”, disse Adel Olímpio.
Já a jovem Amanda Mattos, acadêmica de direito na UFF, atualmente na presidência do Centro Acadêmico Dom Waldyr Calheiros (CADOM), neta e filha de operários da CSN, ao falar sobre a greve de 1988, fez questão de referenciar a Dom Waldyr Calheiros.
“Carregar o nome de Dom Waldyr Calheiros no Centro Acadêmico de Direito da UFF, permite-nos ao fazer memória da greve de 1988 e referenciar Dom Waldyr que foi essencial, não apenas nessa luta da greve de 1988, mas também na construção das lutas e justiça na cidade e região. Eu como filha, neta e com tios de ex- metalúrgicos, que participaram ativamente da greve por acreditarem no movimento sinto no dever de testemunhar o fato. O estar na presidência do CADOM. Tenho a convicção de que o legado de Dom Waldyr foi essencial para crescimento da consciência política na cidade. A luta de 1988, foi um marco no rompimento na denúncia da ditadura, e saber que minha família estava lá, particularmente isto tem uma relação com meu crescimento como cidadã. Eu, mulher preta, minha família toda preta, saber que a minha família lutava por dignidade naquela greve engrade-me. Falar aqui não é só honroso, mas também compromisso com a luta pela justiça”, disse Amanda, que também é conselheira no MEP-VR (Movimento Ética na Política de Volta Redonda).
O Fórum de Lutas do Sul Fluminense organizou para esta terça-feira, dia 09, a partir das 17h, na Praça Juarez Antunes - Memorial dos Trabalhadores mortos na greve, um ato público com falas, filme da greve, música e culto inter-religioso.