O Cordão da Bola Preta foi fundado por Álvaro Gomes de Oliveira (Caveirinha - no centro, em pé), Francisco Brício Filho (Chico Brício), Eugênio Ferreira, João Torres e os três irmãos Oliveira Roxo, Jair, Joel e Arquimedes Guimarães, em 1918. - Divulgação
O Cordão da Bola Preta foi fundado por Álvaro Gomes de Oliveira (Caveirinha - no centro, em pé), Francisco Brício Filho (Chico Brício), Eugênio Ferreira, João Torres e os três irmãos Oliveira Roxo, Jair, Joel e Arquimedes Guimarães, em 1918.Divulgação
Por WILSON AQUINO

O Cordão da Bola Preta chega ao centésimo desfile de sua história amarrado a uma crise de identidade. Desde que perdeu a sede própria, na Cinelândia, em 2008, o mais tradicional bloco da cidade vem sendo gerido pela Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), o Centro Cultural Cordão da Bola Preta. No entanto, sócios-proprietários do Clube Cordão da Bola Preta acusam o Centro de ficar com a parte boa da instituição, que é o controle da marca e a organização do desfile, enquanto dívidas milionárias consomem o que resta de patrimônio do Bola original, como salas comerciais e uma sede campestre, na Região Serrana.

Somente ao Condomínio do Edifício Municipal, onde ficava a sede, o Bola Preta deve cerca de R$ 4 milhões. Além dos problemas com os antigos sócios, o Centro Cultural também enfrenta uma disputa com a polícia. O atual espaço ocupado pelo Bola, na Rua da Relação, é reivindicado pelo Sindicato dos Policiais Civis (Sinpol). Segundo o presidente Fernando Bandeira, a entidade gastou cerca de R$ 500 mil para reformar o imóvel, que estava abandonado e caindo as pedaços, para depois o ex-governador Sérgio Cabral "tomar" e entregar ao atual Bola Preta. "Desalojaram a gente na maior covardia. O espaço pertence à RioTrilhos e nos foi cedido em regime de comodato pela ex-governadora Rosinha (Garotinho)", explicou Bandeira, que prossegue: "Aí assumiu o Cabral e no primeiro ano deu esse golpe na família policial".

O DIA procurou o Centro Cultural Cordão da Bola Preta, mas a assessoria de imprensa informou que o presidente Pedro Ernesto não ia atender a reportagem.

CEM ANOS

Apesar das crises internas e externas, o Cordão da Bola Preta resiste. Isso porque, muito além de ser o mais tradicional bloco de embalo da cidade, o Bola, na opinião do professor de Ciências Sociais da Estácio de Sá, o antropólogo Artur Nunes Gomes, representa "a capacidade extraordinária do povo carioca de fazer festa, celebrar a união e, principalmente, combater de forma lúdica as desigualdades e problemas sociais". E uma das versões para a fundação do bloco, em 31 de dezembro de 1918, foi justamente um problema social. É que naquele ano, o chefe de polícia baixou uma portaria ameaçando prender os foliões e cassar a licença dos cordões e grupos que perturbassem a ordem pública. Alvaro Gomes de Oliveira, o Kveirinha, conhecido folião da época, resolveu desafiar a polícia. Juntou os amigos e alugou a sede do Clube dos Políticos, na Rua do Passeio, onde inaugurou o Cordão com um 'maxixético e rebolativo' baile. A princípio, o grupo se chamaria 'Só se bebe água'. Mas a visão de uma linda foliã usando camisa branca com bolas pretas mudou o destino do bloco.

Embalado pelo ressurgimento dos blocos de rua, o Cordão da Bola Preta tem arrastado multidões em seus desfiles, que são realizados no sábado de Carnaval, com a presença de foliões anônimos e até personalidades, como Tia Surica.

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