Rio - Um garçom, identificado como Samuel Ferreira Coelho, 24 anos, foi morto durante um intenso tiroteio, na noite deste sábado, na Tijuca, Zona Norte do Rio. A vítima atendia clientes no Bar do Pinto, na Rua Conde de Bonfim, quando foi atingida no peito por um disparo de fuzil. Segundo a PM, o confronto aconteceu após a abordagem de militares a um veículo com criminosos da Favela da Rocinha, que iriam participar de uma "reunião" no Morro da Formiga.
Ainda de acordo com a polícia, o 6º BPM (Tijuca) desconfiaram de ocupantes de um carro e realizaram cerco ao automóvel. No entanto, os militares foram surpreendidos por bandidos em outros dois automóveis. Eles usavam um Honda Civic prata, um Jeep Cherokee branco e uma Mercedes branca. Houve troca de tiros e um militar foi ferido.
Segundo a PM, mais a frente, houve um novo confronto e um policial foi atingido no tórax e levado para Hospital Central da PM, no Estácio. Uma idosa que estava em um Uber foi atingida no braço e socorrida ao Hospital do Andaraí. Até o momento, não há informações sobre o estado de saúde das vítimas. Quatro veículos foram abandonados na Rua 18 de outubro, também na Tijuca. A Delegacia de Homicídios (DH) investiga o caso.
Moradores relatam momentos de pânico
No prédio do aposentado Geovani Garcia, 69, várias marcas de tiros podiam ser vistas. Três delas acertaram o apartamento do homem que, morava em Angra dos Reis e, está no Rio há apenas um ano. "Eu estava assistindo o bloco. Do nada começou o tiroteio. Me joguei no chão e escutamos o pessoal gritando, pessoas feridas e uma movimentação dos policiais. Quando o tiro pegou na minha janela eu me joguei no chão. Logo depois um outro tiro pegou na coluna e atingiu o cano de água. Hoje estamos sem água por conta disso", conta o idoso. Ainda de acordo com Garcia, em nenhum lugar da cidade existe segurança. "O Rio está terrível. Não podemos fazer mais nada. Sair a noite? Impossível. Estamos sitiados", desabafa.
"A gente pensa que está seguro dentro de casa. O último lugar que eu pensei que uma bala perdida iria atingir seria dentro de casa. Se a gente tivesse deitado (ele e a mulher), esse tiro poderia ter atingido a gente. Minha esposa está com muito medo e preocupada", completa o aposentado.
O dono de um bar, que não quis se identificar, diz que o bar também foi atingido por disparos."Foi desesperador, os clientes gritando eu nunca vi isso", conta o comerciante, que está há 12 anos no local.
Os tiros também atingiram um posto de gasolina e uma bomba de combustível foi perfurada. "Se o disparo pegasse mais embaixo poderia ter uma explosão e morreria todo mundo que estava aqui", conta o responsável pelo lugar.
O dentista Jorge Mauro Fernandes, 57 anos, relata os momentos de pânico que a região presenciou. "Graças a deus o bloco já tinha passado. Foram cinco minutos de rajadas. Desde quando as UPPs foram instaladas na Tijuca não ouvíamos tiros assim. A guerra está voltando", declara.
Já José Reginaldo Bezerra Rufino, 36, balconista de uma padaria perto, contou que ajudou a socorrer uma das vítimas do confronto. "O tenente ficou lá no chão baleado e uma senhora também. Corri lá e peguei a mulher e trouxe aqui para a padaria o braço dela, onde acertou o tiro, sangrava muito", conta. Segundo a testemunha, o tiro teria começado no sentido Alto da Boa Vista. "Quando escutei o primeiro disparo não pensei em nada. Pensamos que era fogos. Só quando deu uma rajada que notei que era tiro. Falei com as meninas que era pra nos escondermos. Na padaria tinha pouca gente", disse.
O tiroteio acabou em frente a padaria onde o homem trabalha. "Os caras atiravam muito. Eram muitos bandidos em três carros. O policial ficou encurralado e foi desesperador. No tiroteio um motoqueiro entrou com a moto aqui pra dentro pra se salvar", finaliza. Trabalhando no local há um ano e meio José Reginaldo disse que foi a primeira vez que presenciou um confronto como o de ontem.
Samuca, garoto de sorriso fácil
O último emprego de Samuel, carinhosamente apelidado de "Samuca" por parentes e amigos, foi no Bar do Momo, também na Tijuca. Por quatro anos o rapaz serviu, no local, clientes com um sorriso no rosto. Há três meses ele deixou o estabelecimento por motivos pessoais. "Eu considero como um filho. Tinha um carinho imenso por ele. No entanto, ele me disse que estava muito cansado e queria descansar um pouco. Então ele saiu", lembra emocionado Antônio Carlos Lafrague, dono do Momo.
Com um atendimento cativante, Samuca era um dos queridinhos do bar. "Ele gostava muito de sorrir. Há um mês surgiu dele cobrir férias lá no Bar do Pinto e ele foi. Eu estava em casa quando fui avisado. Saí correndo e, quando cheguei lám vi aquela cena", disse Antônio Carlos. De família humilde, Samuel era o filho caçula de dois irmãos. "A mãe dele está aos pedaços", completou Lafrague.