Samuel: atingido no trabalho - Reprodução Facebook
Samuel: atingido no trabalhoReprodução Facebook
Por RAFAEL NASCIMENTO

Rio - O corpo do garçom Samuel Coelho foi enterrado no início da tarde deesta segunda-feira, no Cemitério do Catumbi. O jovem, de 24 anos, foi atingido no peito por um disparo de fuzil durante um tiroteio na Rua Conde de Bonfim, na Tijuca, na noite do último sábado. Amigos e parentes se despediram de Samuca, como era conhecido, em um velório realizado nesta manhã.

"Ele era muito querido, tanto pelos frequentadores do bar do Momo e quanto do bar do Pinto. Agora fica a lembrança de uma pessoa muito simpática e querida que foi arrancada da convivência da gente dessa forma super brutal. O cara estava trabalhando e morreu dessa forma. Ele sempre trabalhou, pois era de família humilde e muito batalhadora", disse Sara Paixão, 37 anos, jornalista e amiga da família.

A mãe de Samuel é costureira e o pai trabalha em uma empresa de ônibus, segundo Sara, vizinha de porta do garçom e que o viu nascer. "Eu vim das um beijo nela (na mãe). Quero compartilhar dessa dor. Fiquei sabendo da morte através da internet e fiquei super assustada pois eu queria ir nesse bloco. Quem participa do bloco são pessoas da Tijuca mesmo. Coisa de amigos", falou.

"Sentimento de profunda dor. Uma pessoa que está trabalhando e é arrancado dessa forma. Infelizmente, virou rotina de perdermos pessoas dessa forma. O sorriso dele é o que fica", lamentou a jornalista.

No bar do Pinto, local onde acabou morto enquanto trabalhava, as portas estavam fechadas na manhã desta segunda-feira. Um bilhete anunciava o não funcionamento por motivo de luto. 

'Bonde' saiu da Rocinha e seguia para a Formiga

Bandidos que saíram da Rocinha e seguiam num 'bonde' para 'encontro' com traficantes do Morro da Formiga foram interceptados por PMs e houve confronto. Dois policiais e uma idosa foram baleados. Na ocasião, o bloco "Não Muda Nem Sai de Cima" passava pela via.

O tiroteio começou quando bandidos em um Honda Civic foram interceptados na Rua Maria Amália. O 6º BPM (Tijuca) teria conhecimento que eles seguiriam para o morro da Formiga. Apenas dois policiais foram destacados para o local. O que os PMs não esperavam era que outros dois veículos um Jeep Cherokee e uma Mercedes também vinham no bonde. Após parada frustrada, os homens com fuzis e pistolas abriram fogo. Por quase um quilômetro houve intensa troca de tiros.

Assim que os criminosos acessaram a Conde de Bonfim, Samuel, que servia clientes, foi atingido. No trajeto era possível ver paredes de prédios e lojas perfuradas por tiros. Em um apartamento da Rua Dr. Otávio Kelly havia mais de 15 marcas de tiros. No terceiro andar, uma bala acertou a janela do quatro de um casal.

"Eu assistia o bloco quando começou um barulho. Pensamos que fossem fogos. Quando saí do quarto um tiro acertou a janela. Me joguei no chão com a minha esposa", lembrou o aposentado Geovani Garcia, 69, que há um ano mora no prédio. O idoso escolheu a Tijuca após deixar Angra dos Reis, por conta da violência. Entretanto, ele não esperava que vivenciar uma situação de risco.

Quando os policiais chegaram perto da Rua Palmira Gonçalves Maia, o motorista do Honda perdeu o controle e bateu em um muro. Os bandidos que vinham atrás atiraram. Na rua Alves de Brito, uma outra rajada foi disparada contra a viatura policial que ficou encurralada entre dois carros. O soldado Estelen foi alvejado na perna e no ombro e o sargento Euder ferido por estilhaços. Uma idosa, que estava em um Uber, foi baleada no braço.

O tiroteio acabou em frente a padaria Modelo onde José Reginaldo Rufino, 36, trabalha. O balconista contou que ajudou a socorrer uma das vítimas. "Peguei a mulher e trouxe aqui para a padaria. Ela sangrava muito no braço", contou.

Os bandidos fugiram na contra-mão da rua Alves de Brito e abandonaram os carros na Rua 18 de Outubro, na entrada do Morro da Formiga. Os três feridos foram levados para os hospitais Central da PM, no Estácio, e do Andaraí, respectivamente. Até o fechamento da edição as unidades não haviam informado os estados de saúde das vítimas.

A DH da Barra fez perícia no local e investiga o caso. O DIA questionou a PM se o comando do 6º BPM tinha informações de que o bando passaria. O porta-voz major Ivan Blaz se limitou a dizer que "essa informação não existia". Segundo ele, "os policiais estavam na região fazendo patrulhamento ordinário dos blocos". Mas, nota da enviada pela PM informava que policiais do 6º BPM perseguiram um carro e que cerco foi montado para tentar pegar os criminosos.

Desespero toma conta dos foliões após o bloco
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Na altura da rua Alves de Brito, dezenas de pessoas acompanhavam o bloco "Nem Muda Nem Sai de Cima". Assim que perceberam o tiroteio, os foliões se desesperaram e correram. O dentista Jorge Mauro Fernandes, 57, relatou os momentos de pânico. "Graças a Deus o bloco já tinha passado. Foram cinco minutos de rajadas. Poderia ter ocorrido uma tragédia aqui", disse. Ontem, o bloco divulgou uma nota nas redes sociais lamentando o ocorrido e se solidarizou com os familiares de Samuel Ferreira.
O último emprego de Samuca, como era carinhosamente chamado, foi no Bar do Momo, também na Tijuca. Por quatro anos ele serviu no local. Há três meses deixou o estabelecimento por motivos pessoais. "Eu considero como um filho. Tinha um carinho imenso por ele. No entanto, me disse que estava muito cansado e queria descansar um pouco", lembra emocionado Antônio Carlos Lafrague, dono do Momo.
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Com um atendimento cativante, Samuca era um dos queridinhos do bar. "Ele gostava muito de sorrir. Há um mês surgiu dele cobrir férias lá no Bar do Pinto e ele foi. Eu estava em casa quando fui avisado. Saí correndo e, quando cheguei lá e vi aquela cena", disse Lafrague que completou: "Samuel era o filho caçula de dois irmãos e mãe dele está aos pedaços".
'Super-heroínas' ficam no fogo cruzado
Tiroteio na Tijuca - Carro atingido por 17 tiros - Acervo pessoal
Tiroteio na Tijuca - Carro atingido por 17 tiros - Acervo pessoalacervo pessoal
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Um dia após ficar no meio do fogo cruzado durante um confronto entre bandidos e policiais militares, na Tijuca, a administradora de empresas Monique Lorosa, de 35 anos, chora ao relembrar os momentos de horror e pânico vividos na noite do último sábado.
O carro em que ela estava com a amiga Jade Burmeister, de 33, foi atingido por pelo menos 17 tiros, alguns deles de fuzil mas as amigas saíram ilesas. Elas voltavam de um bloco, na Gávea, Zona Sul do Rio, e estavam fantasiadas de super-heroínas, e quando pararam no sinal de trânsito, no cruzamento da Rua Alves de Brito, foram surpreendidas pelo intenso tiroteio.
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"O trânsito estava forte devido a um bloco na Conde de Bonfim, nós paramos o carro no sinal é de repente ouvimos um carro derrapando e em seguida muitos tiros", disse a administradora.
Monique contou que "os tiros vinham de todos os lados. Nosso carro foi um verdadeiro escudo", revelou."Pela minha cabeça passou que a gente já estava morta", contou.
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Mesmo em pânico, as duas mulheres conseguiram sair do veículo. "Ficamos no carro nos protegendo dos tiros por alguns minutos, quando ela disse 'amiga acho que fui baleada'. Então eu tomei coragem e abri a porta do carro, puxei ela e me joguei no chão. Eu olhava pra ela e pra mim pra ver se estávamos feridas e graças a todas as energias positivas do universo nos duas saímos dali ilesas", desabafou.
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