Rio - Enquanto parentes e amigos sepultavam o corpo do garçom Samuel Coelho, 24, ontem à tarde, no cemitério do Catumbi, moradores da Tijuca tentavam se recuperar do trauma causado pelo intenso tiroteio de sábado à noite. "Moro há 55 anos na Tijuca e nunca vi isso. Nos últimos dois anos, a coisa tem piorado. Sempre teve assaltos e roubos, mas a coisa está feia aqui. Sou comerciante e muitos dos meus colegas estão fechando. É só você observar a quantidade de lojistas da Saens Peña até a Usina que arriaram as portas", lamenta o comerciante Arcelino Costa Pereira, 79.
A sensação de insegurança do comerciante é corroborado pelos dados do Instituto de Segurança Pública (ISP). Em 2015, foram registradas 14.189 crimes na Grande Tijuca. Em 2017, foram 20.451, aumento de 44%, sendo que o roubo de veículos cresceu 258% no período, de 278, em 2015, para 998, em 2017.
A Polícia Civil analisa imagens de câmeras para entender como aconteceu o tiroteio que deixou em pânico os foliões, que acabavam de desfilar no tradicional Bloco 'Não Muda Nem Sai de Cima'. Em nota, a PM esclareceu que "os quatro carros interceptados pelos policiais militares, resultando em troca de tiros, haviam partido do Morro da Formiga e não da Rocinha, como chegou a ser aventado". Além do garçom morto, dois PMs, uma idosa que passava de Uber e um frequentador do Bar do Pinto foram atingidos, mas não correm risco de vida.
Moradores da Tijuca convocaram, pelas redes sociais, manifestação para protestar contra a crescente violência no bairro. O ato, marcado para o próximo domingo, a partir das 14h, prevê uma caminhada da Praça Xavier de Brito até o Bar do Pinto, na Conde de Bonfim, onde Coelho foi morto.
Andando pela rua da tragédia percebe-se que muitas lojas estão fechando as portas. "As pessoas passeavam pela Tijuca sem se preocupar. Hoje, atendo 65 pessoas, por dia. Antigamente, eram 180. Estamos pagando pela má administração dos governantes", diz Ivo Tavares, 41, dono de uma franquia de restaurante japonês.
A atendente de caixa Cristina Duarte, 40, contou que foi assaltada nove vezes, em dois anos, na lotérica em que trabalhava. "Por conta da falta segurança, saí de lá. Era terrível ter uma arma apontada para a cara. Estamos desprotegidos."