Jeremias Moraes, 13 anos, foi vítima de uma bala perdida no Complexo da Maré  - Reprodução Facebook
Jeremias Moraes, 13 anos, foi vítima de uma bala perdida no Complexo da Maré Reprodução Facebook
Por GUSTAVO RIBEIRO

Rio - Um adolescente, identificado como Jeremias Moraes da Silva, foi morto na tarde desta terça-feira, no Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio. De acordo com informações de moradores, o menino, de 13 anos, foi baleado na Favela Nova Holanda e levado para o Hospital Souza Aguiar, no Centro do Rio. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, o garoto já chegou morto na unidade hospitalar. Ainda não há informações sobre a data e local de enterro da vítima.

Abalada com a perda do filho, Vânia Moraes, 39 anos, voltava de um enterro de um amigo quando soube que Jeremias tinha sido baleado. "É só voltar às aulas que começa esse inferno. Parece que eles combinam que quando as crianças voltam às aulas tem que ter operação na comunidade", diz a auxiliar de serviços gerais. "E aí, meu filho de 13 anos, servo do Senhor, um menino de ouro, foi alvejado não sei como, nem aonde e porquê", questiona Vânia. 

Segundo a mãe do adolescente, Jeremias queria ser pastor e havia pedido para subir ao monte para realizar orações na próxima semana. "Ele falava que queria subir ao monte e ficar pertinho de Jesus, agora ele está pertinho de Jesus. Meu Deus, que dor. Que vocês nunca sintam o que eu estou sentindo", lamenta a auxiliar de serviços gerais. "Deus me deu cinco filhos, agora só tenho quatro", completou. 

De acordo com testemunhas, o Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) teria atirado no garoto e levado o corpo para o 22° BPM (Maré), porque teria confundido o adolescente com bandido. A página do Facebook Onde Tem Tiroteio divulgou vídeos com os tiroteios no conjunto de favelas.

Em nota, a Polícia Militar informou que uma equipe do 22º BPM (Maré) foram acionados para denúncias que davam conta que policiais estariam sequestrados por traficantes na comunidade Nova Holanda, Complexo da Maré. De acordo com a PM, houve confronto quando os militares foram checar a denúncia. Os policiais supostamente sequestrados não foram encontrados. Logo após, o Corpo de Bombeiros socorreu um adolescente ferido. O menor foi encaminhado ao Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro, mas não resistiu aos ferimentos.

"É preciso esclarecer que não havia operação policial do Comando de Operações Especiais (COE) na Nova Holanda. Os policiais do Bope, BPChq e Bac atuavam somente nas comunidades do Timbau e Conjunto Esperança", finalizou a PM na nota.

Desde a manhã desta terça-feira, policiais dos batalhões de Choque, de Ações com Cães (BAC) e de Operações Policiais Especiais (Bope) fizeram uma operação no Complexo da Mar. Por meio das redes sociais, moradores relataram tiroteio na comunidade. "Já estamos indo pra 10 horas de operação policial aqui na Maré. Os tiros não cessam, confrontos de grosso calibre em praticamente todo o Complexo", dizia uma publicação da página Maré Vive, às 16h.

Vânia Moraes, 39 anos, mãe do adolescente, fez desabafo: 'ele era um servo do Senhor, nunca fez mal a ninguém' - Gustavo Ribeiro / Agência O Dia

Por causa do intenso tiroteio na região da Maré, o Centro de Operações da Prefeitura (COR) informou que o município entrou em Estágio de Atenção nesta terça-feira, às 16h. A Linha Vermelha chegou a ser interditada, no sentido Centro, na altura da Maré, mas foi liberada. A Linha Amarela, no sentido Fundão, que havia sido fechada na altura da Avenida Brasil também teve o trânsito liberado. 

Já a Avenida Brasil, mantém uma faixa interditada no sentido Zona Oeste, na altura da Vila do João, por causa de objetos na via, na altura da Fiocuz. Às 18h05, o município voltou ao Estágio de Normalidade e as vias foram liberadas.

A Secretaria Municipal de Educação (SME) informou que, por causa da operação policial, 40 unidades escolares ficaram sem aulas nesta terça-feira no conjunto de favelas. Esta é a primeira semana do ano letivo.

Ainda de acordo a SME, 20 escolas, 13 creches e sete Espaços de Desenvolvimento Infantil não funcionaram no Complexo da Maré. 

Fim da operação

Após mais de 14 horas, chegou ao fim a operação policial no Complexo da Maré. Segundo a PM, cinco pessoas foram presas, uma granada, 800 pinos de cocaína, 1,3 mil cigarros de maconha e 35 lolós foram apreendidos, além de 110 caixas com laptops recuperados.

Nas redes sociais, circula a informação de que um jovem de 20 anos foi morto em um confronto. No entanto, a informação não foi confirmada pela PM.

Pezão 'lamenta profundamente' morte de Emily e Jeremias

Em nota, o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, lamentou profundamente a morte dos jovens Emilly Sofia Neves Marriel e Jeremias Moraes. "Estou indignado como toda a população. Essa não é a cidade que todos nós queremos. Quando acontecem fatos tristes e lamentáveis como esses, é um pedaço da gente que vai embora. As nossas polícias têm sido incansáveis no cumprimento de seu papel de combate à criminalidade", disse o governador no texto divulgado nesta tarde.

"A Polícia do Rio está trabalhando muito, enfrentando bandidos cada vez mais fortemente armados e insanos e prendendo cada vez mais criminosos. Os nossos policiais também estão nas ruas protegendo os cidadãos, como fizeram hoje interditando vias da cidade para dar segurança aos usuários e evitar mais ataques de bandidos. Hoje, no Complexo da Maré em ações preventivas, foram recebidos a tiros por bandidos fortemente armados. Ontem mesmo a Polícia Militar prendeu bandidos em Resende que iriam trazer 40 pistolas para o Rio. Há poucos dias, a Polícia Civil e a Polícia Rodoviária Federal prenderam um militar com 60 armas, entre fuzis e pistolas, munição e drogas na Via Dutra. Vamos continuar firmes trabalhando incansavelmente na busca da paz, que todos nós almejamos", completou Pezão.

Criança é morta em Anchieta

Uma menina de 3 anos foi morta e os pais da criança ficaram feridos, na madrugada desta terça-feira, em uma tentativa de assalto, na Rua Cardoso de Castro, em Anchieta, na Zona Norte do Rio. De acordo com informações, os bandidos explodiram um banco em Nilópolis, na Baixada Fluminense, e tentaram roubar a família durante a fuga. Na ocasião, as vítimas foram abordadas enquanto saíam de uma lanchonete 'fast food' em um posto de gasolina.

O motorista, identificado como Uesley de Lima, de 36 anos, teria tentado escapar da ação e os criminosos atiraram contra o veículo. A menina Emilly Sofia Neves Marriel foi baleada, chegou a ser encaminhada para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Ricardo de Albuquerque, mas não resistiu. Já Uesley e a mulher Maria Auxiliadora Marriel, de 21 anos, foram socorridos e levados para o Hospital Albert Schweitzer.

Reportagem com a estagiária Luana Benedito, sob supervisão de Thiago Antunes. Colaborou Rafael Nascimento

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