Comissão de frente da Paraíso do Tuiuti ganhou o Tamborim 2018 - Daniel Castelo Branco
Comissão de frente da Paraíso do Tuiuti ganhou o Tamborim 2018Daniel Castelo Branco
Por Bruna Fantti

Rio - O troféu de vice-campeã da Paraíso do Tuiuti foi recebido ontem na quadra em São Cristóvão, às 18h20, aos gritos de 'É campeã!' pelos torcedores. De vilã, em 2017, a protagonista de um desfecho apoteótico no Carnaval 2018, a escola já tinha sido coroada na terça-feira a grande vencedora do Prêmio Tamborim de Ouro, concedido pelo DIA, e virou a página em sua história botando o dedo em feridas sociais, políticas e trabalhistas.

Sobrou ousadia para colocar na Sapucaí um ator fantasiado de vampiro em alusão ao presidente Michel Temer. O enredo 'Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?', do carnavalesco Jack Vasconcelos, comparou a Reforma Trabalhista a um retrocesso como o trabalho escravo. Operários usando a carteira de trabalho como escudo contra os ataques às leis trabalhistas reforçaram a mensagem. Manifestantes batedores de panela montados em patos da Fiesp, manipulados como marionetes, serviram de crítica aos movimentos pró-Impeachment de 2016. Colarinhos brancos, moedas de ouro e mãos acorrentadas retrataram a desigualdade social e a corrupção.

"Eu precisava que as pessoas entendessem o que a gente estava falando. Lancei mão de uma figura pública e a encarei como charge. Não é pessoal, é uma crítica a um grande sistema", destacou Vasconcelos.

O presidente Renato Thor ressaltou que o resultado foi uma espécie de vitória moral. Fundada há 65 anos, a agremiação nunca tinha saído do último lugar no Grupo Especial, onde desfilou apenas três vezes. Foi também a responsável pelo acidente com um carro alegórico desgovernado que matou a radialista Liza Carioca e deixou 19 pessoas feridas no ano passado. Só não foi rebaixada por decisão extraordinária da Liesa. "A comunidade faz a diferença, sem esse povo eu não sou ninguém. É o ano da superação. É um título sim. Tuiuti é campeão!", comemorou Thor.

A apuração foi acirrada do início ao fim e a Tuiuti só pulou do terceiro para o segundo lugar no último quesito, samba-enredo, totalizando 269,5 pontos. Somente um décimo a menos que a vitoriosa Beija-Flor. Motivo de orgulho para Moacyr Luz, um dos compositores, junto com Claudio Russo, Dona Zezé, Jurandir da Silva e Aníbal.

"Estou emocionado como nunca estive nos meus 60 anos de idade. É a vitória da alternativa, da ousadia, de apostar no que acredita, sem fazer média com ninguém, sem fazer um samba rotulado, fazendo as coisas com sinceridade. Eu acho que essa é a grande receita da Tuiuti. Uma escola que entrou de favor nesse último ano e não caiu escutando todo tipo de piadinha, que virou a mesa, e chega na hora totalmente desacreditada, é vice-campeã por milésimos para ser campeã", vibrou.

"Mostramos para o mundo inteiro o que acontece aqui. O Brasil hoje está aí retratado. Quando compusemos a letra, acreditávamos que, se o povo entendesse o samba, ia pegar na Avenida. E pegou", destacou Jurandir.

*Com o estagiário Gabriel Thomaz

Carnaval da superação
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Jurados do Prêmio Tamborim de Ouro concordam que o desfile da Tuiuti foi uma superação para a escola após a tragédia de 2017. "Acho que o resultado foi muito importante para a Tuiuti. Outro ponto é que o desfile da escola colaborou para retomar o lado crítico do Carnaval (muito presente nos desfiles dos anos 80). A agremiação teve mais conceito de Carnaval do que a Beija-Flor, por exemplo. Os jurados tiveram mão muito pesada em alguns quesitos como a bateria, o que não dá pra entender", avaliou a jurada Bárbara Pereira.
"Pelo que eu vi na Avenida, queria a Tuiuti em primeiro lugar do Carnaval, foi um desfile excelente e inovador. Foi a minha aposta como vencedora", disse Aydano André Motta.
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