O vereador Vanderson Bento (PTB) falou sobre o assunto na sessão da Câmara de quinta-feira (14) e chegou a chamar a composição de "inversão de valores". Divulgação

Um grupo de cristãos de Cabo Frio está insatisfeito com o Projeto de Lei da Prefeitura para criação do Conselho Municipal de Diversidade Religiosa e Combate à Intolerância.

Segundo o documento, seis vagas são destinadas a representantes de religiões de matriz africana, enquanto apenas uma é para um conselheiro pentecostal ou neopentecostal.

O vereador Vanderson Bento (PTB) falou sobre o assunto na sessão da Câmara de quinta-feira (14) e chegou a chamar a composição de “inversão de valores”.

Ao Portal O Dia nesta segunda (18), o parlamentar explicou que não tem nada contra qualquer tipo de religião, mas, enquanto protestante, achou a composição desproporcional a alega que “quando começar a ter votações, as religiões de matriz africana vão ter sempre um peso maior, tomar as decisões”.

“Não tenho nada contra religiões de matriz afrodescendente, respeito muito, admiro. Acho que as pessoas têm uma visão até equivocada, mas eu sou protestante. Meu avô é pastor e essa bandeira meu pai sempre defendeu, meu irmão sempre defendeu e, quando eu vi isso, me senti na responsabilidade não de deixar maior do que nenhuma outra religião, mas deixar igual”, afirmou Bento.

O parlamentar informou que pediu ao prefeito José Bonifácio (PDT) para recebê-lo com o Conselho dos Pastores de Cabo Frio para conversar sobre a questão. Vanderson disse que Bonifácio foi solícito e ficou de marcar uma data para o encontro.

“Eu não quero briga. Quero levar a solução, não quero fazer politica com isso. Quero mostrar ao prefeito, ao secretariado e ao Executivo lá, que está fazendo isso, que a gente está sendo desprestigiado”, concluiu o vereador.

Além de Vanderson, o vereador Léo Mendes (DC) também foi procurado por pastores para falar sobre o assunto e se reuniu com os religiosos no sábado (16).

Criação do Conselho de Combate à Intolerância Religiosa
No documento em que estabelece a criação do Conselho Municipal de Diversidade Religiosa e Combate à Intolerância, a Prefeitura de Cabo Frio sugere que sejam escolhidos 20 conselheiros.

Metade destes representam o governo municipal, sendo integrantes de pastas como Educação, Promoção de Igualdade Racial, Turismo e Cultura.

Os outros dez são da sociedade civil, sendo quatro vagas para o candomblé, duas para a umbanda, um para o espiritismo de doutrina kardecista, um para religiões pentecostal ou neopentecostal, um para o catolicismo e um representante dos demais segmentos religiosos não mencionados.
Trecho do PL enviado à Câmara pela Prefeitura de Cabo Frio para criação do Conselho Municipal de Diversidade Religiosa e Combate à Intolerância  - Luiz Felipe Rodrigues (RC24h)
Trecho do PL enviado à Câmara pela Prefeitura de Cabo Frio para criação do Conselho Municipal de Diversidade Religiosa e Combate à Intolerância Luiz Felipe Rodrigues (RC24h)
Respostas para o conflito
O coordenador da coordenador-geral de Promoção da Igualdade Racial de Cabo Frio, Manoel Justino, informou ao Portal O Dia que o conflito foi solucionado com a redistribuição de vagas do Conselho.

Manoel disse que serão quatro cadeiras destinadas para cristãos, sendo uma para pentecostais, uma para neopentecostais, uma para reformados e uma para católicos. Outras quatro serão para religiões de matriz africana, sendo uma para umbanda, uma para candomblé Ketu, uma para Gegê e uma para Angola.

De acordo com Manoel, a emenda modificativa seria encaminhada por Vanderson Bento. Contudo, o vereador disse que só vai propor a emenda “depois da reunião com o prefeito e os pastores”.

O Portal O Dia procurou a Prefeitura de Cabo Frio para entender os critérios usados na divisão das vagas do Conselho e pedir um posicionamento em relação a contestação dos religiosos. Em nota, a prefeitura respondeu o seguinte:
"A Prefeitura Municipal de Cabo Frio anunciou a criação do Conselho de Combate a Intolerância Religiosa em janeiro deste ano. O debate contou com representantes de matrizes africanas, tendo sido devidamente publicizado à época. Considerando que o debate sobre a intolerância religiosa no Brasil é pautado pelo número de crimes registrados nos meios oficiais, considerou-se o predomínio sobre religiões de matrizes africanas. Em diálogo com o Poder Legislativo, na figura do vereador Vanderson Bento, contextualizou-se a lamentável realidade brasileira e acordou-se uma emenda parlamentar que acolha quatro cadeiras para religiões cristãs, quatro para religiões de matriz africana, uma para a doutrina espírita e uma para outros segmentos religiosos".