Fernando MansurO DIA

“... Eles passarão, eu passarinho...” Como é lindo este poema do Mário Quintana. Tão simples em sua essência, tão profundo em suas linhas, tecidas para apoiar os pássaros do vento, naquele repouso circunstancial após horas de voo. Sonho com o tempo em que, além dos fios, os pássaros pousarão sobre ombros humanos, virão comer na palma de nossas mãos, sem medo e sem ressentimentos.
Somos intrinsicamente bons, devido à nossa origem, porém nos desgastamos com o tempo, nos tornamos vis, pecaminosos, ludibriados pelo ouro de tolo das ilusões. Contam que no Sri Lanka se você esquecer sua bolsa na rua, farão de tudo até encontrá-lo e devolvê-la ao verdadeiro dono. Não só lá deve ser assim.
Sonho, quimera, imaginação? Não importa. Em vários lugares do planeta existem pessoas conectadas com a Realidade. A Realidade é simples e imorredoura. Há Leis que a sustentam. Uma delas é a do Equilíbrio. Quando morremos, alguém nos espera com uma balança para pesar nossos atos e o nosso coração. Do outro lado tem uma pena, a pena de um pássaro, que várias vezes tentou pousar nele, em busca de abrigo e compaixão.
Deixar para uma outra vida não adianta. Só atrasa. Também é dito que uma das coisas mais difíceis é conseguir um corpo saudável para encarnar, pois só aqui podemos aprender e adquirir as experiências que nos permitem avançar. Um dia conseguiremos voar, conscientemente, como os pássaros, não só à noite, quando o sono nos leva a outras alturas.
O mesmo ar fará parte de nosso espaço aéreo, com gente e pássaros compartilhando o mesmo ideal: a liberdade de ser quem se é, respeitando as diferenças, vivendo com sabedoria. Podemos. Vamos!
Fernando Mansur