Fernando MansurO DIA

A rua é fixa, o rio é móvel. Por ambos passam muitas vidas, umas cabisbaixas, outras altaneiras. Algumas sabem nadar e conhecem o fluxo das marés; outras apenas acompanham o ritmo das ondas, como naus perdidas na imensidão do mar.
Pelas ruas transitam muitos que passam pela mesma calçada a vida inteira, mas nos rios a estagnação é impossível. O peixe não sabe que está na água, apenas nada e busca sobreviver, procria e tenta escapar de seus predadores.
Os homens fazem quase o mesmo: velejam sem rumo, a procura de alimentos e prazeres, mas também sem saberem o motivo de estarem aqui. Rios e ruas contêm muitas histórias, algumas incontáveis. Porém tudo fica gravado na aparente solidez das pedras.
Sábio é aquele que percebe os sinais dos ventos e se adapta a eles; sabe que quem manda é a Natureza, esta senhora vetusta e implacável, amorosa e companheira, que dita os rumos dos elementos e apenas obedece ordens.
Estas ordens procedem de quem é o Timoneiro mor, o grande Senhor das Marés, aquele que sabe discernir na balança desequilibrada pelo peso dos insensatos o rumo que a nau tem que seguir. Estamos no mesmo barco. É o nosso sopro coletivo que pode fazer mover a vela na direção correta.
Sejamos bons navegadores. Confiemos no momento e para onde nos leva o vento. Sigamos. Podemos. Vamos!