Imagine a seguinte situação. Você descobre que não passa de amanhã. Hoje é o seu último dia na Terra. Pense agora quantas vezes você disse obrigado ontem. E quantas vezes disse hoje. Poucas vezes? Nenhuma?

Poucos têm o hábito de agradecer. “Por favor” e “Por gentileza” não são expressões muito frequentes pela esmagadora maioria dos seres humanos. Aqui ou lá na Conchichina. Tem gente até que acha que agradecer é uma atitude subalterna. Por isso existe pouca gratidão no mundo.

As pessoas, especialmente no Brasil, estão sempre na defensiva. Repare. A gente sai à rua preparado para se aborrecer ou se defender de ameaças. Ninguém abraça ninguém. Ceder a vez, nem pensar. E quando isso acontece, não se houve aquela palavrinha mágica: “Obrigado”. Atravessamos uma grave crise de falta de gratidão.

Honestamente, quantas vezes você abraçou seus filhos, seus pais ou seus avós? E os amigos? Falo literalmente de abraçar. Abraçar bem apertado, como se estivesse agradecendo pela amizade. Têm coisas que não têm preço, como chegar em casa e ver uma criança sorrindo e correndo para seus braços. Ela abraça você com muita força como se estivesse querendo dizer: “Eu te amo”.

A gente não agradece às pequenas coisas que nos cercam. Quantos maridos agradecem às suas esposas o preparo de um prato? E o maridão metido a churrasqueiro, quantas vezes ouve um elogio dos convidados? Agora, que você está acordado, já pensou como você é um privilegiado em ter uma cama para dormir? Poder ler, ver, falar...a gente não dá valor a isso, nunca agradecemos por essas dádivas.

Não digo que somos ingratos desalmados. Sem exageros, mas também não podemos ser considerados seres humanos agradecidos pelo que temos, até mesmo os que possuem pouco. Será que somos um bando de egoístas que só vibram quando recebem? Pior do que isso: essa vibração ao receber é guardada dentro de nós de forma egoísta? E quando se mostra o que se recebeu é para provocar inveja, não para compartilhar a felicidade? Ao exibir seu prazer (prazer é só dele), o egoísta esquece que isso só aconteceu porque outros são responsáveis pela sua conquista.

Por isso o egoísta é ingrato: não porque não goste de receber, mas porque não gosta de reconhecer o que deve a outrem, e a gratidão é esse reconhecimento, diz o escritor José Carlos De Lucca. E é a mais cristalina verdade. O ingrato é um egoísta, que ignora que devemos retribuir nossa alegria em forma de gratidão.

Ao agradecer, estamos compartilhando felicidade, aumentando o próprio prazer, o que fará com que a nossa sensação de bem-estar se amplie consideravelmente. Se somos gratos, somos mais felizes. O ato de agradecer é mágico. Tente olhar nos olhos de quem recebe o agradecimento. Os olhos brilham de felicidade. Por isso, a gratidão é irmã siamesa da felicidade. Uma não vive sem a outra e uma engorda a outra, diz o De Lucca.

Se por um lado, a gratidão traz uma felicidade recíproca (para quem agradece e para quem recebe o agradecimento), por outro lado, a ingratidão nos fere na alma, nos deixa deprimidos, infelizes. A ingratidão tem uma capacidade destruidora, não apenas atingindo nossa alma, mas também fisicamente. A ingratidão tem uma energia negativa poderosa.

Se a gratidão é a memória do coração, infelizmente, é também o sentimento que mais rápido envelhece. Por isso, quem recebe um favor, nunca deveria esquecer. E quem o faz, nunca deveria lembrar.
Átila Nunes