ATILA13NOVARTE PAULO MÁRCIO

Não existe mãe e pai que não se pergunte a razão de ter sido justamente seu filho o escolhido para desencarnar num acidente violento. Esse tema vem a propósito da morte física de Marília Mendonça num acidente que deve ter trazido profundo medo à cantora e aos demais tripulantes do avião, segundos antes da queda.

“Por que, logo com ela, uma pessoa tão boa”? É assim que todos se questionam, familiares e amigos. Foi inevitável? Ela tinha que partir mesmo? Havia uma programação espiritual para ela morrer? Nos desencarnes em acidentes violentos, tudo depende das circunstâncias que foram determinantes para a ocorrência do acidente. Esse tema é delicado, mesmo na ótica espírita, já que nenhum de nós é capaz de conhecer, em profundidade, os desígnios de Deus.

Cá entre nós, a vida aqui nesse planeta, por si só, já é uma expiação para nossos espíritos. O suicídio - que nada mais do que a intenção de acabar com a própria vida - é uma morte violenta, seja por enforcamento, uso de arma de fogo ou ingestão de medicamentos e venenos.

Existe um outro tipo de morte em que a pessoa não tem a intenção de se matar, mas por imprudência, negligência, desrespeito ao corpo e à vida, age de forma irresponsável, desencarnando prematuramente. Fernando Rossit cita como exemplo um motorista que dirige embriagado, em alta velocidade, desrespeitando as normas do trânsito. É como pedir para morrer violentamente. Quando isso ocorre, não há como pensar que tal ocorrência estava prevista para acontecer nos planos divinos. Muitos acidentes são provocados por imprudência e irresponsabilidade.
Crê-se que a maioria esmagadora dos acidentes aéreos é provocada por falha humana, que aparentemente, parece ter sido o caso da Marília Mendonça. As investigações vão comprovar se o piloto estava voando baixo demais, a ponto de ter colidido com os fios da torre de alta tensão. É óbvio que não havia qualquer intenção de se provocar o acidente (embora há registros de casos em que pilotos propositadamente causam acidentes para dar cabo de suas vidas, arrastando vidas alheias). Nesses casos, os espíritos desencarnados terão abrandados seus sofrimentos com a ajuda espiritual que não lhe faltará, aliás, que jamais faltará a alguém. Sempre haverá atenuantes para o sofrimento.

A grande verdade é que as tragédias mostram a pequenez humana diante da grandeza cósmica. No entendimento espírita, as tragédias coletivas são inevitáveis para a evolução do ser humano e do ambiente em que vive. Tragédias ocasionam reflexões e consequentes regenerações e, como consequência final, a evolução. O ser humano pode detectar o terremoto, mas não pode evitá-lo. Ele pode detectar erupções vulcânicas, mas não pode impedi-las. Isso nos leva à reflexão de que há uma forma transcendente que movimenta o mundo, naturalmente Deus, a natureza, a realidade cósmica.

Já nos acidentes provocados pelos seres humanos, propositadamente ou não, é mais um fenômeno de resgate. Sei que é dificílimo para os que não creem na reencarnação aceitar a tese do resgate espiritual. Para nós, é forte a convicção de que alguns vieram cumprir sua trajetória normal, mas que acabam retornando de maneira trágica.

Tragédias geram sofrimento aos que ficam na Terra. O que devemos ter em mente é que nada na Terra tem segurança e que não se pode fugir da morte. Nós podemos fugir de vários fenômenos da morte, mas nunca fugiremos da vida, porque morte é vida para nós. É dolorosa, entretanto, para quem fica, para os familiares que continuam a viver.

Como negar, contudo, que acidentes são traumáticos também para os espíritos que desencarnam? Como o espírito poderá conformar a família? Bem, só cumprindo um tempo designado pelas forças divinas, ocorrerão as comunicações mediúnicas, como a psicografia, por exemplo. O espiritismo prova a imortalidade da alma exatamente através do fenômeno do retorno daqueles seres provando que a vida continua.

O desencarne para aquele que viveu em descompasso desarmônico com as Leis da Vida, de forma egoísta, perdendo oportunidades de amar e servir ao próximo, que viveu preso às manifestações instintivas e emocionais, sem nenhuma preocupação com os valores espirituais para o próprio crescimento, com certeza, fica apegado ao corpo físico, mantendo-o retido ao cadáver mutilado.

Para seres humanos que optaram por viver dessa forma, no ato do desencarne, permanecerá ligado por tempo indeterminado aos despojos cadavéricos que lhe pertencem. Este tempo indeterminado pode levar horas, dias ou meses até a completa e plena autolibertação psicológica, emocional, consciencial e espiritual.

Os passageiros desencarnados num acidente de avião encontram-se, num primeiro momento, numa posição de choque, presos aos respectivos corpos físicos, mutilados parcial ou totalmente. Pode ser que seus espíritos tenham se sentido imantados aos próprios restos cadavéricos, gemendo de dor e sofrimento, em desespero, mantendo-se aprisionados aos despojos físicos, em violenta crise de inconsciência, numa profunda perturbação.

Nestas circunstancias emergenciais a pessoa moribunda agonizante, prestes a desencarnar, emite pensamentos aflitivos que se propagam como se fossem verdadeiros S.O.S. telepáticos, os quais são devidamente captados e registrados por espíritos socorristas, possibilitando a imediata localização e identificação pessoal das vítimas do desastre.

Esses bons espíritos (médicos e enfermeiros em especial), imediatamente acorrem ao local do acidente atendendo a todos com elevado sentimento de compaixão, prestando a assistência espiritual de acordo com a situação de cada um. O socorro espiritual é ministrado indistintamente a todos, sem nenhuma exceção.

A expressão “Se o desastre é o mesmo para todos, a morte é diferente para cada um” é um ensinamento importante e merece ser assimilado. Marília Mendonça e milhões de seres humanos que morrem em acidentes violentos, na sua maioria, viveram de forma harmônica com seus semelhantes, distribuindo o bem e compartilhando amor. É impossível que, logo após os acidentes que os vitimaram, não passem a compreender que estão em outra dimensão, infinitamente melhor do que a em que viviam materialmente.

E para nós, que ficamos aqui, nesse planeta? Acidentes como esse da Marília é um dos que nos chamam nossa atenção imediatamente por causa da popularidade da querida artista. E nos obrigam a parar para refletir de como a vida terrena é frágil, de que isso pode acontecer com qualquer um de nós. Acidentes trágicos com pessoas famosas servem para isso, para nos lembrar que os bens materiais não valem de coisa alguma diante da rapidez como eles deixam de ter qualquer valor quando desencarnamos.

Creio que nesses momentos devemos rezar por esses irmãos, famosos ou não, transmitindo-lhes nosso amor e a nossa compreensão, sem expressar qualquer julgamento depreciativo, haja vista as imperfeições que carregamos dentro de nós.
Átila Nunes