Paulo MárcioPaulo Márcio

Quantas vezes já ouvimos que “depressão é frescura”? E quem sempre diz isso é quem não tem a mais longínqua noção do que é essa grave doença que se espalhou por todo o planeta. As principais características da depressão são a alteração do estado de humor, tristeza e abatimento profundos, absoluto desinteresse pela vida. O mundo fica cinza, perde a graça, viver passa a ser um fardo. Todos os pensamentos são pessimistas.

A definição do Dr. Wilson Ayub Lopes para depressão é perfeita: uma emoção estragada. É claro que, eventualmente, todos nós ficamos tristes. É uma emoção natural. Só que se a tristeza se estender, é porque tem algo errado. Os psiquiatras dividem a depressão em três formas. A primeira, é a reativa ou neurose depressiva, que depende de um fator externo como a morte de um ente querido e perdas frustrantes (divórcio, emprego etc.).

Já a depressão secundária é resultante das doenças orgânicas como um acidente vascular cerebral (“derrame") ou um tumor cerebral, por exemplo. E a terceira, é a depressão endógena, que se origina no interior do organismo ou pela influência de fatores externos, quando há deficiência de neurotransmissores. A psicose maníaco-depressiva é um exemplo disso.

São mais de 20 milhões de brasileiros com depressão, afetando desequilíbrios orgânicos, liquidando com a qualidade de vida, transformando pessoas em criaturas infelizes. O espírito de André Luiz destaca que a mente transmite seus estados felizes ou infelizes a todas as células do nosso organismo. Ayub diz que a mente pode agir como tanto um sol irradiando calor e luz, como uma tempestade gerando raios que nos desequilibram.

Depressão é grave porque mexe na divisão celular, dando chance para o surgimento do câncer, além de outras doenças imunológicas, abrindo campo para infecções. E por quê? Porque na depressão, a gente perde a energia vital do organismo. Imagine-se com um sentimento de autoestima em baixa, sem chance de abrir-se em relação aos problemas existenciais e mágoas. É óbvio que isso cria um ambiente vibracional negativo, que dificulta o acesso dos bons espíritos.

Aliás, é impressionante como a energia (improdutiva, aliás) se esvai. O Ayub está certo. O paciente depressivo, invés de viver as experiências e os desafios que a vida lhe oferece, joga fora sua energia nos sentimentos de autocompaixão, tristeza e lamentações. Sofre, sofre e não evolui. Impossível dissociar a depressão da tristeza e da culpa representada pelo remorso.
E o que fazer? Bem, o primeiro passo é a consciência de que temos que buscar o aperfeiçoamento. Repetindo: aperfeiçoamento. Isto é, compreender que erramos porque somos imperfeitos. O que não dá é para ficar se autopunindo, porque é isso que acontece com que sofre de depressão.

O espírito de François de Geneve relata que a uma das razões da melancolia que invade o coração do paciente depressivo é a busca do espírito pela liberdade que encontrará na vida espiritual. O problema é que o espírito se vê preso ao corpo e mergulha em tristeza e abatimento, espelhando isso no corpo. E tudo começa com a frustração de metas não alcançadas e um imenso medo do futuro. A causa inicial é essa ânsia frustrada de felicidade, a liberdade almejada pelo espírito encarnado, além dos aborrecimentos da vida com suas dificuldades de relacionamento, somados às influências negativas de maus espíritos.

Um dia, vão mensurar as consequências dramáticas nas milhões (bilhões?) de pessoas que ficaram enclausuradas em casa por causa da pandemia da covid-19. Os índices de depressão são estratosféricos, porque o isolamento e o medo passaram a conviver com os que se recolheram em pânico com a possibilidade de contraírem o coronavírus.

É bem verdade que vivemos uma era de valores questionáveis, como lembra o Dr. Wilson Ayub: consumismo, o prazer imediato, a competitividade, a necessidade de não perder, de ser o melhor, de não falhar, enfim, de tudo que nos afasta de nós mesmos e da natureza. Daí que passamos a interpretar ‘papéis’ na sociedade, nos fechando cada vez mais, sem expor.

Adotamos então, uma máscara que serve para representarmos um ‘papel’ na sociedade, sem expor nossas emoções, cada vez mais fechados, enclausurados (literalmente), cada vez mais sozinhos. A solidão não é estar só, mas se sentir só. É a insatisfação da pessoa com a vida e consigo mesma.

Solução? Nesses momentos devemos buscar pessoas e coisas que nos façam ficar bem. A solidão é péssima. Repare nas crianças: quando ainda frágeis e inseguras, não buscam o apoio dos pais e das pessoas que lhe deem atenção e proteção? Só assim sentir-se-ão seguras. Tem adultos que agem como crianças: têm dificuldade em amadurecer, não participam, exigindo sempre carinho e atenção, sem se preocuparem da mesma forma com os outros. São eternas ‘vítimas’, sem assumir qualquer responsabilidade. E ai de quando se deparam com algum tipo de frustração. Aí vem a depressão.

Depressão é um vazio de sentimentos, é a perda da capacidade de amar, de ser generoso com o próximo. Esses sentimentos é que permitem a sintonia com o Deus interior que nós temos em nós. Quem tem dificuldade em amar a si mesmo e ao próximo, também deixa de receber o amor do outro. Quem ama muito, muito recebe. Quem pouco ama, pouco recebe. Esse afastamento de si, e por conseguinte de Deus, gera a tristeza, o vazio, a depressão e a doença.
Átila Nunes