ATILA25SETARTE O DIA

Superstições têm origem em mitos que atravessam gerações. É a intuição de que algo vai acontecer. Raros são os países cujos povos não se arrepiam quando um espelho se quebra, um sinal que poderá significar “sete anos de azar”. É assim no Brasil, é assim na Conchichina.

Dizem que essa crença popular tem origem na mitologia grega: um rapaz chamado Narciso teria se apaixonado pela própria imagem refletida na água e morreu de inanição após passar a vida inteira admirando-a. Daí a expressão narcisista para os extremamente vaidosos. Os romanos acreditavam que, ao fim dos sete anos, o azar acabaria.

Raro é quem não tenha alguma superstição. Cruzar os dedos, por exemplo, para dar sorte. Na época das perseguições aos cristãos, era hábito se cruzar os dedos, uma referência à cruz. E jogar sal por cima do ombro esquerdo? Para os turcos, o azar é culpa de um anjo do mau que vive no nosso ombro esquerdo, por isso tentamos “cegá-lo” com sal nos olhos. Já derrubar sal na mesa significa azar. Isso surgiu na época em que não existiam congeladores e as comidas eram conservadas no sal, bastante difícil de ser extraído naquele tempo. Por isso, para evitar o desperdício, diziam que derrubar sal dava azar.

O significado do trevo de quatro folhas é curioso, pois se baseia na expulsão de Adão e Eva do Jardim do Éden. Eles teriam ido embora com um trevo de quatro folhas, um pedacinho do paraíso, por isso traz sorte para quem o encontra. Já o pé de coelho, por incrível que pareça, tem origem numa crença afro-americana. O amuleto só funciona se for o pé esquerdo de um coelho morto com um tiro.

Muita gente não deixa o chinelo virado para não causar a morte da mãe. Essa superstição é brasileira, datada de 1960, quando as casas usavam o “vermelhão” em cima dos pisos de cerâmica de barro. Se o chinelo ficasse com a sola para cima, o pé ficava sujo. As crianças ficavam com medo de suas mães morrerem. Uma das mais curiosas superstições é a das “orelhas vermelhas”, que podem significar que estão falando mal da gente. Para quem vai casar, jamais deixa varrerem seu pé. Coceira na mão? Pode ser um bom sinal, vem dinheiro por aí.

Se usar roupa branca na passagem do ano tem como fundamento os rituais da Umbanda, pular sete ondas na hora da virada afasta energias negativas no novo ano. Virar os olhos ou fazer caretas quando estiver ventando poderia deixá-lo estrábico para sempre. E quem não bate na madeira três vezes (toc-toc-toc) para afastar o azar? Tem meninas que não mexem no último biscoito do pacote para não perder o seu amor.
Quando crianças, quantas vezes nos disseram que apontar para as estrelas faria criar verruga na ponta dos dedos? Começar o dia com o pé direito, comer Nhoque da Fortuna dia 29 colocando uma nota de dinheiro sob o prato, não arrancar os fios de cabelos brancos, não deixar a bolsa no chão para o dinheiro não ir embora são algumas das outras dezenas de superstições que bilhões de habitantes do nosso planeta levam a sério.

O mais inacreditável é que por preconceito, os fenômenos espíritas, às vezes, são considerados práticas supersticiosas. Os fenômenos mediúnicos nos dão a chave de uma imensidade de fenômenos sobre os quais foram criadas um número infinito de fábulas por imaginações férteis. As manifestações dos espíritos foram mal interpretadas e tidas como puras superstições.

Hoje, graças aos estudos mais sérios, os fenômenos mediúnicos estão livres das ideias supersticiosas cultivadas pelos preconceituosos. Aliás, se os preconceituosos procurassem estudar os fenômenos da mediunidade, descobririam que a matéria não é a única potência da Natureza. Tudo o que não pode ser explicado por essas leis pode ser incrível. E o sobrenatural, dependendo da má vontade de quem analisa a mediunidade, pode ser sinônimo de superstição. Imagine as religiões, que se baseiam, sem exceção, em princípios imateriais. Poderiam ser resumidas como um emaranhado de superstições, não? Para os que creem 100% no que está escrito na Bíblia, Matusalém teria vivido 960 anos...

Os avisos por meio de sonhos não desempenham grande papel nos livros sagrados de todas as religiões? Pois é, a gente já sabe que durante o sono é quando o Espírito — estando desprendido dos laços da matéria — entra momentaneamente na vida espiritual, onde se encontra com os que são seus conhecidos. Essa é a ocasião que com frequência os Espíritos protetores aproveitam para se manifestar a seus protegidos e lhes dar conselhos mais diretos. São numerosos os casos de avisos em sonho, mas nem todo sonho é um aviso ou tem um significado.

A maioria das superstições não traz prejuízos. Pelo contrário. Algumas chegam a ser educativas (não é higiênico deixar chinelos virados com a sola para cima, certo?). Qual é o mal de se usar um talismã, como um pé de coelho? Se faz bem emocionalmente, qual é o problema? E para quem evita superstições, é bom lembrar que este é um comportamento supersticioso.
 
Átila Nunes