Arte coluna Bispo 23 outubro 2022Arte Paulo Márcio

Já parou para pensar quantas vezes acreditamos que estamos no controle de uma circunstância, mas, com o passar do tempo, descobrimos que é só uma história que contamos para nós mesmos, a fim de nos confortar. Quem nunca ouviu aquela célebre frase de uma pessoa fumante: “Quando eu quiser, eu paro”, mas será que para mesmo? Às vezes, para quem repete isso, é somente uma rota de fuga para não assumir que já não tem mais nenhuma força frente aquele desejo que o consume.

Reconhecer que se tornou escravo de determinadas práticas é um golpe duro demais, e, nessas horas, as estruturas de orgulho cegam o entendimento, e enganar a si mesmo é mais aceitável; criar uma realidade em que possa continuar no comando é menos penoso para o ego. Toda mudança de posição só tem início quando “as verdades” interiores são questionadas e o véu do orgulho é retirado. Visto que às vezes a pessoa passa a vida inteira repetindo a mesma compulsão, e continua acreditando que está no controle e, nem para si mesma, admite que precisa de ajuda.

Há ainda os que camuflam sua verdadeira motivação, mas conseguem, através da manipulação, fazer seu desejo ser respeitado. A vontade de comandar é tanta, que são capazes de manipular uma família inteira, os sentimentos, as escolhas, as decisões e até o comportamento dessas pessoas. Muitos filhos não têm o direito de escolher a profissão que sonham, o casamento que gostariam, ou construir uma identidade sem a interferência autoritária de alguém que acha que precisa prever e conter, para que nada de errado aconteça. São invasivos e passam por cima do desejo do outro, para que o seu predomine.

Em relacionamentos amorosos, o controlador literalmente vive perdendo o equilíbrio, toda vez que o outro não se submete às suas vontades. Uma das características dos transtornos ansiosos é justamente a necessidade de se antecipar a qualquer imprevisto. Para lidarem com isso, as pessoas desenvolvem fobias, compulsões e diversas formas de tamponar esse “medo de perder o controle”. Seja honesto consigo mesmo, será que você está no controle ou está sendo controlado?

A resposta está no teste da renúncia. Você é capaz de abrir mão disso? Se sim, você domina, se não, você é dominado! Podemos ser governados por substâncias, sentimentos, dinheiro, jogos, prazeres, comportamentos e etc. Na carta de Paulo aos romanos essa verdade é apresentada: “Não sabem que, quando vocês se oferecem a alguém para lhe obedecer como escravos, tornam-se escravos daquele a quem obedecem...” (Rm 6.16a). É difícil para uma pessoa que acha que precisa controlar tudo acreditar que Deus está no controle da sua vida.
A fé e a necessidade de controle são inimigas declaradas. Ela acaba se enganando e se fazendo serva dela mesma, das suas vontades, não de Deus. Pense nisso!
Bispo Abner Ferreira