Escritor aponta para local onde caiu o Zeppelin americano  - Acervo de Leandro Miranda
Escritor aponta para local onde caiu o Zeppelin americano Acervo de Leandro Miranda
Por Thiago Gomide
Vou contar o que aconteceu em Arraial do Cabo envolvendo o Zeppelin, mas antes você precisa conhecer um pouquinho da história do autor do livro que inspirou essa coluna.

O avô do Leandro Miranda era pescador e guardava um alicate como se fosse uma pérola. Motivo? Era uma recompensa pelo trabalho de resgate do dirigível americano.
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Leandro cresceu ouvindo esse caso um tanto insólito. Pra dar ares científicos ao que o avô Ricardo falava e muitos da cidade concordavam, eis que ele vai atrás de pistas e mais pistas sobre o acidente.
Vamos ao que aconteceu.

“Em 17 de janeiro de 1944, Arraial, então uma vila de pescadores com 2000 habitantes, entrou no cenário da Segunda Guerra com o acidente do dirigível K-36 da marinha americana. O dirigível pertencia ao esquadrão ZP-42.
Quando o Brasil entrou na guerra um dos acordos com os EUA, foi o envio de dois esquadrões (ZP-41 e ZP-42) de dirigíveis anti-submarinos, para patrulhar nossa costa que vinha sofrendo constantes bombardeios em nossa frota de navios mercantes. Entre as embarcações brasileiras que foram abatidas, estava o barco de pesca Shangri-lá, afundado próximo à costa de Cabo Frio, em 22 de julho de 1943, pelo submarino alemão U-199. O pesqueiro tinha 10 tripulantes, sendo 07 cabistas e 03 cariocas”, pontua o escritor.

Cabista é como é chamado quem nasce em Arraial do Cabo.
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O Zeppelin estava indo fazer uma revisão geral do equipamento e por isso voava até a Base Aérea de Santa Cruz, na capital carioca, onde existia um hangar preparado para manutenção.

Só que ao se aproximar da Ilha do Farol, um forte nevoeiro apareceu. O piloto se afobou. Desesperado, tentou uma aproximação suave com a terra. Não conseguiu ser bem sucedido. Caiu.
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“O pescador Narciso, que estava na canoa de nome Liberdade, observou fogos de artifício saindo do alto da Ilha do Farol e ao se aproximar do Maramutá (local de pescaria), avistou uma pessoa com um objeto luminoso na mão, como que parecendo pedir ajuda”, conta Leandro Miranda.

Em pouco tempo, Narciso enfrentava de cara três problemas imensos: o desconhecimento da língua de quem pedia ajuda, a dúvida se era aliado ou inimigo e como ajudar.
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“Era tempo de guerra e todo pescador tinha, por decreto do Presidente Getúlio Vargas, a obrigação de patrulhar nossa costa. O pescador, pensando em se tratar de alemães hostis, deixou o mestre da canoa, Tio Loro, de vigia na Ilha e voltou para terra o mais rápido possível para avisar ao destacamento do exército. Um Sargento do exército foi destacado para ir ao Maramutá. Ele chegou a chamar reforços. Chegando lá, ele tentou contato sem muito sucesso, pois os supostos militares estrangeiros não entendiam sua língua. O Sargento, assustado, fez gestos com a intenção de pedir para o pessoal acidentado esperar que ele fosse buscar socorro”, diz Leandro.

Mas Brasil é Brasil, né? Mesmo com dificuldades na comunicação, o pessoal conseguiu ajudar os americanos.
A história pouco conhecida revela uma época complicada que vivemos. Entrar em guerra não é moleza. Viver sob a chance de ataque mexeu com o país.
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Durante a Segunda Guerra, até o nosso Carnaval foi modificado. Isso será tema de coluna ainda essa semana.

O livro do Leandro Miranda, “K-36, o Zeppelin que caiu no Cabo”, editora Sophia, traz muitos detalhes.
Vale a pena a leitura.