Arquivo O Dia - Devolução de ingressos no Canecão após casa de show ter sido fechada no ano de 1989. - Arquivo O Dia
Arquivo O Dia - Devolução de ingressos no Canecão após casa de show ter sido fechada no ano de 1989.Arquivo O Dia
Por Thiago Gomide
Maria Bethânia começa a cantarolar “vem, meu menino vadio”.
Boa parte da platéia fica em silêncio. Contemplando. Alguns aplausos.
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No meio da música, um facho de luz trêmulo acompanha uma movimentação no meio da galera.

É Chico Buarque surgindo como quem responde aos apelos de sua própria letra.
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Os gritos afagam. Os gritos abraçam. Os gritos servem como guias para o compositor chegar ao palco.

Ele dá um beijo na testa da baiana. Em poucos emenda “eu quero te dizer o instante de te ver...”
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O show era de 35 anos de carreira de Bethânia.

Na mesa 23 do Canecão, eu, minha mãe, meu pai e meu tio.
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Passei uma tarde, pós escola, para comprar aqueles ingressos.

Era dia de lugar sagrado. Até o salgadinho frio e a lanterninha do garçom tinham graça. 
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Por falar em Chico Buarque. Eu devia ter 9 ou 10 anos. 
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O pai do meu grande amigo Pedro Henrique era e ainda é o produtor e cantor José Milton.
Era apresentação de "Os Saltimbancos". 
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Ficamos em uma mesa só nossa. Eu, Pedro e mais dois amigos. 
Imagina ter essa idade e receber uma cesta de salgados e uma rodada de refrigerante. 
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Até hoje sei as músicas da peça. Até hoje. 
Ficou em cartaz meses. Sempre com sucesso. 
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Ainda quando era somente um bar, Ziraldo foi chamado para pintar um grande mural.
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Estamos em 1967.

São 32 metros de comprimento por seis metros de altura.
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O artista ficou debruçado quatro meses para construir a obra que ficou conhecida como “Última Ceia”.
Certa vez, Ziraldo me disse: “quase dormia lá”.
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Essa preciosidade ficou tampada durante anos.

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Na década de 1960 e comecinho da década de 1970, bem pertinho do Canecão, hoje onde está o shopping Rio Sul, ficava a pensão Santa Terezinha, famoso Solar da Fossa.

Garanto: boa parte da arte brasileira morou naquele espaço.
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Quer saber quem? Caetano Veloso, Ruy Castro, Paulo Coelho, Paulo Leminski, Paulinho da Viola, Ricardo Vilas e até a musa Maria Glayds.

“Alegria, Alegria”, clássico de Caetano Veloso, foi composto no Solar.
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O Canecão, claro, era o quintal.

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Canecão é o mais emblemático espaço artístico do Brasil. Ponto. Voltar é para ontem.
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Logo mais, trarei mais histórias do Canecão. Se você tiver alguma história bem bacana sobre essa casa, me conta no e-mail thigomide@gmail.com