A "Geral" era conhecida como um dos espaços mais democráticos do futebol brasileiro - Arquivo Nacional
A "Geral" era conhecida como um dos espaços mais democráticos do futebol brasileiroArquivo Nacional
Por Thiago Gomide
A vovó tricolor, com sua cartola grandona, zanzava de um lado pro outro. O Batman acompanhava o desespero. Um homem imitando urubu gritava Mengo. Robin e Mister M também davam o ar da graça. 
O variado mosaico de personagens marcantes da “geral” propiciava cores ao espetáculo. 
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Não tinha marasmo.

Ali era a alma do estádio, o canto popular que estimulava a mistura e os gritos.

A “geral” já custou um real. A “geral” era o berro na chuteira. O lugar do protesto bem humorado e afiado. Quem não lembra das cartolinas com dizeres de apoio e reclamação, ou mesmo um "eu te amo"para a pessoa amada?
A “geral”, mesmo com chuva, enchia. A “geral” era pra quem amava o futebol.

Se a bola quicasse pra lá, era possível organizar uma pelada paralela. Por instantes, é verdade, mas podia.
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Se a bola não entrasse, podia berrar tanto que o jogador saia zonzo. Se a bola entrasse muitas vezes, pobre goleiro.

Os “arquibaldos” eram marcas nossas. E essas marcas que nos diferenciava de todo o resto.

Não tinha Morumbi. Não tinha Santiago Bernabéu. Não tinha Camp Nou. Não tinha nem La Bombonera, que é estádio de uma torcida só.

Sempre que falo sobre esse tema corro o risco de ser chamado de romântico. Como se isso fosse ruim.

Paciência com quem torce pela televisão. Com o ar-condicionado a 22 graus pra não coçar a garganta, por favor.

Ou com quem está tranquilão em pagar 50, 70 reais só de ingresso na arquibancada. Uma saída leve, com o guri a tira colo, não sai por menos de 100 pratas.

Voltemos à “geral”.

Lembro de Fluminense e Dom Pedro, em 1999, pela terceira divisão. Estava no estádio com um primo, vascaíno mas caridoso. Ficamos na arquibancada. O time formado por bombeiros fazia jogo duro.

Na “geral”, a turma não parou um segundo. Era xingamento. Era estímulo. Era gente até pedindo pra jogar.

Quem foi ao Maracanã antes de 2005 certamente tem alguma história envolvendo esse espaço sagrado que nasceu juntinho à criação do estádio, para a Copa de 1950.

Tô errado?
 
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Seguindo padrões estrangeiros, estabelecidos pela FIFA, fizeram do estádio uma arena. Não pode ter ninguém de pé. Norma de segurança internacional.

Resultado previsível: ingressos caros e uma meia dúzia de gatos pingados por jogo.

Pena. Não pela segurança e sim pelo todo que propiciou o esvaziamento.
*

A "geral", que funcionou desde 1950, merecia ser considerada patrimônio cultural imaterial da humanidade.

Romântico?
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Os nossos heróis merecem.