Roniquito foi o maior criador de confusões em bares cariocas - Reprodução Internet
Roniquito foi o maior criador de confusões em bares cariocasReprodução Internet
Por Thiago Gomide
Esqueça esse seu amigo que adora arrumar uma briga.

Esqueça aquela barraqueira.

Esqueça o pinguço que não pode tomar três que já vira no Jiraya.

Esqueça.

Ninguém chega aos pés do economista Ronald Russel Wallace de Chevalier, o famoso Roniquito, um dos criadores da Banda de Ipanema.

Super rápido nas provocações, Roniquito não perdia a piada. Debochava de quem conhecia e de quem nunca tinha visto na vida.

O Rio de Janeiro das décadas de 1960 e 1970, em especial a dupla de bairros Ipanema e Leblon, seria movimentado por ele.
Roniquito, como definem os amigos, era um lord sóbrio e endiabrado quando bebia. Antes de dar o primeiro gole, até brincava dizendo que uma personalidade se despedia da outra a partir daquele instante.  
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Com o cartunista Jaguar, foi expulso de diversos bares em uma mesma noite. Nem por isso o criador do ratinho Sig, símbolo do jornal O Pasquim, abandonou o companheiro e as farras – com ele.

Certa vez, indo ao velório de um amigo, entrou sem querer em uma sala errada do cemitério. O morto era outro. Não perdeu a chance de falar “esse defunto é horroroso. O nosso é muito mais bonito”.

Quase apanhou.

Ele não sossegou nem no regime militar.

Em 1964, bebendo em Copacabana com dois amigos, resolveu criticar as Forças Armadas. Aos berros.

Azar: na mesa ao lado, um grupo de militares à paisana não tardou a impor ordem naqueles cidadãos.

Não conheciam Roniquito.

A polícia foi chamada para prende-los. Roniquito desacatou os policiais também.

O delegado logo se arrependeria de ter levado . A quantidade de piadas era inesgotável.

Foram liberados – com ajuda de um padrinho influente, of course.

Boa parte dos causos de Roniquito acontecem no Antônio's, que ficava no Leblon, pertinho do Jobi.

Ali se reunia a fina flor da intelectualidade do Rio de Janeiro. Parecia um imã de histórias interessantes, curiosas, engraçadas.

Teve um dia que o bar foi assaltado. No meio da tarde. Ousadia pura.

Trancaram os poucos bebuns no banheiro. Se não se calassem, ia sobrar chumbo. Nada de graça. 

Roniquito não se conteve ao ouvir que os homens estavam indo embora. Fez questão de avisar que esqueceram de levar as notas de quem estava na lista de devedores, ao lado do caixa.
Os assaltantes provavelmente acharam graça e seguiram o pedido. 

Sem saber quem devia, restou ao Antônio's levantar a poeira, esquecer o passado e servir mais chope.

Em 1981, uma tragédia: Roniquito foi atropelado. Quebrou as pernas. Teve que se locomover com a ajuda de muletas.

Sem abandonar o whiskinho, morreu cedo, com pouco mais de 45 anos. Enfarto. Sozinho. Em casa.

*

Aspone

O escritor Ruy Castro, no livro “Ela é Carioca”, conta que Roniquito é o criador da palavra Aspone ( assessor de p* nenhuma).

Aconteceu o seguinte: amigo desde a infância de Walter Clark, Roniquito foi chamado para trabalhar no começo da TV Globo.

Clark, antes de Boni, foi quem colocou a hoje toda poderosa nos trilhos.

Pois bem, apesar de brilhante economista, erudito e poliglota, Roniquito não costumava realizar grandes coisas na emissora.

O ofício era ser um assessor que não fazia nada.

Chegamos ao nome.

*

Jô Soares era amigo

Em sua “autobiografia não autorizada”,que saiu pela Companhia das Letras, Jô Soares fala de Roniquito:

“Ronald foi ao mesmo tempo um dos caras mais doces, leitor de poesia, frequentador das salas de cinema, grande humor, bom de conversa, e um dos caras mais agressivos, desafiador, cri-cri e briguento que já conheci. Ser amigo dele era ser amigo de todo o pacote”.
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Livro da Scarlet

Quer saber mais sobre o Roniquito? A irmã dele, a saudosa jornalista Scarlet Moon Chevalier, escreveu o livro “Dr. Roni e Mr. Quito”, pela Ediouro, contando muitas outras histórias.

Vale muito a leitura.


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