Caique Botkay - Divulgação - Alberto Jacob Filho
Caique BotkayDivulgação - Alberto Jacob Filho
Por Thiago Gomide
Entrei na casa da Pereira da Silva, em Laranjeiras, sem entender bem o que me esperava. Os melhores encontros costumam ser assim. Era domingo de Fla x Flu. 
Dois cachorros ouriçados me receberam na porta com sentimentos aparentemente dúbios: latidos e lambidas.
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Três dias antes, pelo Facebook, um dos compositores mais criativos e mais premiados da história do teatro brasileiro me enviou um pedido de amizade.
Não nos conhecíamos pessoalmente, apesar dele ostentar também no currículo a paternidade de dois queridos amigos, Botika e Henrique.
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Coisas da vida.
Buscando alimentar um relacionamento com os bichanos, fui ganhando metros quadrados. A doce Mônica Botkay, irmã do hóspede, perguntava se eu gostaria de um suco e biscoitos polvilho.
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Caique queria me conhecer. Eu queria entrevistá-lo para um programa de rádio, aproveitando que acabara de reler “Achados”, obra em que ele reúne preciosidades de antigos amigos, como o também tricolor Chico Buarque e Carlos Drummond de Andrade.
“Fui pedindo acervos de pessoas importantes pra mim. Tem de telegrama do Tom Jobim pro Chico a participação de um porteiro que não sabia escrever e pedia que escrevessem seus pensamentos”, explicou. “O porteiro fecha o livro”, concluiu.
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Lá pelas tantas, Caique me deu a exclusiva que iria ser presidente da MultiRio, empresa municipal especializada em mídia e educação, ligada a Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro.
“Você conhece?”, me questionou.
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Tinha sido repórter e apresentador da MultiRio durante dois anos. Ao ir pro Futura, deixei bons amigos.
“Vamos comigo?”, mandou sem pestanejar.
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Arrumei alguns olhares cruzados de quem esperava contar com a minha mão de obra. Todos, sem romantismo, aceitaram minhas desculpas. Ainda agradeço. 
Sem saber pra qual cargo ou salário, fui. Ressalto: Caique também não tinha noção. Tinha desejo e isso era o bastante. 
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Era Caique. Era MultiRio. Era educação.
“Criatividade, Thiago. O céu é o limite”, repetia.
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Trabalhei ombro a ombro com um apaixonado por Federico García Lorca – a ponto de valorizar quem conhecia o poeta catalão, assassinado pela ditadura Franquista por ser mais perigoso com uma caneta na mão a uma pistola.
Diz muito.
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Certa vez, sabendo da foice no orçamento e das dificuldades que enfrentaríamos em algumas produções, avisou:
“Nada assusta quem fez teatro na década de 70”.
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Quando foi pontuado que era pedido um corte profundo de pessoal, nem pestanejou:
“Calma. É a nossa gente”.
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Fui assessor especial de um camarada que, ao ter liberação depois de semanas no hospital, retornou para o trabalho quase que imediatamente. Tentava manter a firmeza que foi amiga até a doença.
“Ficar no Miguel Couto me fez lembrar bastante do Darwin: só sobrevive quem se adapta”, disse a uma plateia formada por incrédulos funcionários.
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Não sabíamos que ele faria uma volta surpresa. Ele não desconfiava que participaria de uma reunião com mais de 100 pessoas e que tinha tudo para ser tensa.
Caique foi até o fim se/me/nos adaptando.
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“A turma está feliz aqui?", me perguntou logo no início da nossa relação profissional.
“Não sei, mas identifico algumas brigas”, indiquei.
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“Sabe como a gente resolve isso no teatro?”, devolveu.
Após minha levantada de sobrancelha:
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“A gente faz festa”.
E riu.
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E ri.
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Mais informações
O Itaú Cultural tem uma boa retrospectiva da obra do Caique. Clique aqui
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A turma da MultiRio fez uma homenagem, relembrando passagens do artista pela empresa. Clique aqui.

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