Bebê-diabo levou pânico a moradores de uma cidade do interior de São Paulo - Reprodução Internet
Bebê-diabo levou pânico a moradores de uma cidade do interior de São PauloReprodução Internet
Por Thiago Gomide
O bebê-diabo movimentou massas apaixonadas. Religiosos rezaram para nunca encontrá-lo. Zé do Caixão foi chamado às pressas para ver se conseguia mandar aquele capetinha de volta pro inferno.
 
Publicidade
Os leitores do “Notícias populares", clássico jornal popular, quase tiveram um enfarto em 11 de maio de 1975. A manchete principal afirmava que tinha nascido um bebê com as feições do diabo em São Paulo, mais especificamente em São Bernardo do Campo, no ABC.

O que foi isso? 

Era isso aí. E vou mais: estava escrito que o capetinha nasceu já xingando a mãe, xingando os médicos, sacaneando as enfermeiras. O coisa ruim furou os travesseiros com o chifre e ficou revoltado que a luz do dia incomodava.

Possíveis fotos davam ainda mais molho ao caso.

Aquilo assustou todo mundo. Quais seriam os próximos passos?

Quais seriam? Logo no dia seguinte uma nova bomba: o bebê-diabo meteu o pé pela janela do terceiro andar. Coisa de filme. Fugiu. Pulou pro telhado. Até tentaram capturar, mas nada.

Ele estava às soltas.

Começa nesse instante um desespero geral. O diabo estava solto.

Tudo que acontecia de ruim em São Bernardo a turma botava culpa no bebê-diabo. Separação de casal? Diabo. Fogo? Bebê-diabo.

Um taxista foi visto chorando porque o diabinho pediu uma carona para o inferno.

Parece piada, mas isso mexeu com a cidade.

Religiosos faziam procissões. Rezavam nas ruas. Pediam clemência. Imploravam para que alguém desse fim nesse mal.

Zé do Caixão, grande Mojica!, foi convocado para capturar. Ninguém saberia lidar melhor com o capetinha. Zé não foi e o bicho ruim ficou soltinho da silva.

Mais e mais relatos apareciam. Pessoas que tiveram contato com o bebê-diabo.

O jornal dava tudo, evidente. Uma senhora chegou a dizer que o bebê-diabo limpava as unhas com o próprio rabo. Olha a riqueza no detalhe.

As crianças não mais brincavam na rua. Imagina chegar o diabo e pedir pra fazer parte da pelada. Deus me livre!

As vendas do “Notícias Populares” não paravam de crescer. Ultrapassaram a marca de 150 mil jornais vendidos. Recorde atrás de recorde.

No meio de tanta especulação, é evidente que foram atrás da história da mãe e do pai. Por que eles mereciam isso? O que teriam feito de tão ruim?

O pai diabo era um fazendeiro de Marília que não tirava o chapéu de jeito algum. Corno? Não. Ele ficava com o chapéu por causa supostos chifres.

A mãe teve o diabinho porque, segundo os médicos, se recusou ir a uma procissão enquanto, abre aspas para mãe, o diabo não nascesse.

Energia negativa? Praga? Resposta por aquela fala? Tudo isso e muito mais.

Foram 27 reportagens, uma verdadeira saga, contando as peripécias do endiabrado.

Até internado em clínica ele esteve, com direito a visitação. Ah, o visitante tinha que estar com crucifixo, evidentemente.

Como apareceu, desapareceu.

Bebê-diabo completa 45 anos agora em maio.
Não sabemos o paradeiro dele. Mas que parece que tem um bando de filhos dele por aí, isso parece.
Publicidade
*
Homenagem
Publicidade
Como você sabe, falamos do Rio de Janeiro, mas abrimos uma exceção por causa do falecimento de José Mojica Marins, interprete do Zé do Caixão.