
O que foi isso?
Era isso aí. E vou mais: estava escrito que o capetinha nasceu já xingando a mãe, xingando os médicos, sacaneando as enfermeiras. O coisa ruim furou os travesseiros com o chifre e ficou revoltado que a luz do dia incomodava.
Possíveis fotos davam ainda mais molho ao caso.
Aquilo assustou todo mundo. Quais seriam os próximos passos?
Quais seriam? Logo no dia seguinte uma nova bomba: o bebê-diabo meteu o pé pela janela do terceiro andar. Coisa de filme. Fugiu. Pulou pro telhado. Até tentaram capturar, mas nada.
Ele estava às soltas.
Começa nesse instante um desespero geral. O diabo estava solto.
Tudo que acontecia de ruim em São Bernardo a turma botava culpa no bebê-diabo. Separação de casal? Diabo. Fogo? Bebê-diabo.
Um taxista foi visto chorando porque o diabinho pediu uma carona para o inferno.
Parece piada, mas isso mexeu com a cidade.
Religiosos faziam procissões. Rezavam nas ruas. Pediam clemência. Imploravam para que alguém desse fim nesse mal.
Zé do Caixão, grande Mojica!, foi convocado para capturar. Ninguém saberia lidar melhor com o capetinha. Zé não foi e o bicho ruim ficou soltinho da silva.
Mais e mais relatos apareciam. Pessoas que tiveram contato com o bebê-diabo.
O jornal dava tudo, evidente. Uma senhora chegou a dizer que o bebê-diabo limpava as unhas com o próprio rabo. Olha a riqueza no detalhe.
As crianças não mais brincavam na rua. Imagina chegar o diabo e pedir pra fazer parte da pelada. Deus me livre!
As vendas do “Notícias Populares” não paravam de crescer. Ultrapassaram a marca de 150 mil jornais vendidos. Recorde atrás de recorde.
No meio de tanta especulação, é evidente que foram atrás da história da mãe e do pai. Por que eles mereciam isso? O que teriam feito de tão ruim?
O pai diabo era um fazendeiro de Marília que não tirava o chapéu de jeito algum. Corno? Não. Ele ficava com o chapéu por causa supostos chifres.
A mãe teve o diabinho porque, segundo os médicos, se recusou ir a uma procissão enquanto, abre aspas para mãe, o diabo não nascesse.
Energia negativa? Praga? Resposta por aquela fala? Tudo isso e muito mais.
Foram 27 reportagens, uma verdadeira saga, contando as peripécias do endiabrado.
Até internado em clínica ele esteve, com direito a visitação. Ah, o visitante tinha que estar com crucifixo, evidentemente.
Como apareceu, desapareceu.
Bebê-diabo completa 45 anos agora em maio.