Rio,03/05/2020 -COVID-19 -CORONAVIRUS , COPACABANA, praia de Copacabana calcadao de Copacababa. Na foto, pessoas correm no calcadao.Foto: Cleber Mendes/Agência O Dia - Cléber Mendes
Rio,03/05/2020 -COVID-19 -CORONAVIRUS , COPACABANA, praia de Copacabana calcadao de Copacababa. Na foto, pessoas correm no calcadao.Foto: Cleber Mendes/Agência O DiaCléber Mendes
Por Thiago Gomide
“O bater de asas de uma borboleta na China pode provocar um furacão nos Estados Unidos”. Já ouviu ou leu essa frase? Tem filme famoso com Tom Cruise e tudo.

O “Efeito Borboleta”, muitas vezes estudado na teoria do caos, é famoso. Como pode-se entender, um movimento, por menor que seja no outro lado do planeta, atinge a todos. A COVID-19 é um exemplo radical.

Atentos como sempre, o leitor ou a leitora já deve ter feito às correlações ao nosso cotidiano carioca. Um descuido em Copacabana atinge o Méier. Um descuido no Alemão bate em São Conrado. Acredite. Um ignorar do bater de asas do coronavírus na caminhadinha pela Lagoa leva a tia, o avô, o sobrinho. De quem caminhou ou de quem está trancafiado em uma kitnet em Olaria.

Palavra que andava tão em desuso prático ou só aparecendo em discursos poliqueiros, a coletividade virou ordem para a sobrevivência. Lembro do poeta Carlos Drummond de Andrade: “João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém”. Nos dias de hoje e saindo da interpretação original, Lili provavelmente estaria correndo na praia e postando selfie com a hashtag “dane-se a vida”. Dos outros, claro.

Em um país com quase 40 milhões de pessoas vivendo na informalidade, com mais de 2 milhões de pessoas pedindo auxílio-desemprego só mês passado, é inocente acreditar que todos estão encarando essa pandemia da mesma forma. Como dizem, estamos na mesma tempestade, porém com meios de sobrevivência bem distintos. Na teoria do caos, percebe-se que o bater de asas na China gera uma turbulência nos Estados Unidos, mas não com mesma intensidade para todas as camadas.

Hoje era dia de escrever sobre os 131 anos do querido bairro do Méier ( parabéns, moçada!), mas venho de duas semanas de intensas participações nos mais diferentes fóruns de debates sobre os efeitos da Covid-19. Cientistas, pesquisadores sociais, médicos, jornalistas, poder público e líderes comunitários e religiosos trocando informações. As notícias são conflitantes e sempre nos levam para um problema ainda maior. O Rio de Janeiro, por questões que envolvem também a geografia e a forma que não foi desenhada urbanisticamente, tende a sofrer piores consequências. A batida de asas da borboleta em Botafogo pode destruir centenas de vidas na Rocinha, onde muitos moradores têm tuberculose, por exemplo.

Equilibrar os sentimentos é delicado. Há quem saia de casa para sobreviver. Financeira e mentalmente. Mas também há, infelizmente, quem saia porque ignora a queda do outro. Há quem não use máscara, não por ignorância, pelo contrário, porque crê ser imbatível e maior. A coletividade é o meio mais estratégico de enfrentar esse e qualquer outro desafio. Com risco de todos sermos ainda mais despedaçados por causa dos inúmeros egoísmos que nos cercam.