O experiente Alpa Luiz era um dos grandes nomes da rádio carioca - Reprodução Internet
O experiente Alpa Luiz era um dos grandes nomes da rádio cariocaReprodução Internet
Por Thiago Gomide
Um grupo de jovens moradores da comunidade Roquete Pinto, em Ramos, visitava à rádio que orgulhosamente defendia o mesmo nome do médico e professor que trouxe a radiofusão para o Brasil.

Acompanhados por esse colunista, os adolescentes estavam encantados com tudo que viam. Os estúdios, microfones, luzes, sons e afins proporcionavam um espetáculo de reações que se dividia em risos, olhos brilhando e uma interminável sequência de perguntas. 
No último auditório de rádio do Rio de Janeiro, sentados nas cadeiras de madeira, tal qual estivessem na antiga rádio Nacional, os meninos e meninas esperavam as atrações que eu tinha separado. Sou do time que, se deseja conhecer comunicação, é preciso o contato com os arquitetos experientes.

Veterano em rádio, Alpa Luiz desempenhava com carinho único o papel de mestre sala. Era comum vê-lo trafegando com estudantes universitários de um lado para o outro. Convidei-o para fazer uma palestra para a garotada que não ultrapassava os 15 anos. Avisei sobre os riscos da pouca atenção. “Não se importe. Me viro. Quando é?”, respondeu. Na data, estava pronto. Pronto e com uma caixa de doces de leite que havia encomendado de Minas Gerais.

Foi uma festa. Ganhou pela boca e pelo ouvido. Com um tom suave de ir conduzindo a vida, nos levou aos desafios que encarou na carreira. Casos e mais casos foram contados. Com Cazuza, um monte. Com o rock nacional, um bocado. Ele já era experiente na época da rádio Fluminense, a "Maldita", que praticamente revelou essa moçada toda na década de 1980. Sei lá se a turma sabia de quem ele falava, mas que o silêncio imperou, imperou.

Quando todos foram embora, evidente que fui dar um abraço no Alpa. Tinha arrebentado. Ele riu e me deu um doce de leite. Perguntei quanto tinha custado a caixa, disse que gostaria de pagar. “Eu amo isso. Esse doce de leite é simples, mas é muito bom. Não se esquente”, falou. 

Eu e o jornalista Saulo Machado tínhamos um programa que gravava a noite, o “A Rede”. Chegávamos tarde na emissora, lá para as 19:00, 20:00. Na redação, uma luz permanecia acesa. Alpa Luiz costumava ser o último a sair. Ele já estava na casa dos 70 e poucos anos. Era a vida dele. Era o doce de leite do camarada que brinquei várias vezes ter o bigode a semelhança do poeta Olavo Bilac.

O seu programa de domingo era uma beleza. Misturava música, curiosidades, casos, entrevistas e por aí seguia. Voltava de Petrópolis escutando. Quando minha avó ficou doente, ele, sabendo do fiel ouvinte, sempre mandava abraços para mim. Emocionante.

Alpa faleceu aos 78 anos. Trabalhou até o fim. Incansavelmente. Que tenha uma recepção digna em uma fábrica de doce de leite.


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Rádio 94,1 FM

A rádio Roquette Pinto atualmente se chama 94,1 FM. Quem está na presidência é a jornalista Cristiane Almeida.

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Coluna dedicada

Fica aqui meu abraço apertado na turma da emissora. Perdemos um grande. Sigam e contem comigo.
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Abraço especial na Márcia Nogueira e no Ivan Bala, que, enfrentando a timidez, também palestrou naquele dia especial.