Professor e pesquisador Miguel Jost - Reprodução TV Uneb
Professor e pesquisador Miguel JostReprodução TV Uneb
Por Thiago Gomide
Miguel Jost é um dos grandes jovens pensadores em políticas culturais no Brasil. 
Doutor em estudos de literatura e cultura pela PUC-Rio, o professor e pesquisador Miguel Jost está embrenhado nas mais diferentes camadas debatendo o universo e os desafios do setor. Vai de A a Z com facilidade e isso é preciso, ainda mais em tempos de cólera. 
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Como de costume, a coluna gosta de apresentar pensamentos múltiplos. Chegou o momento dele.
As quatro perguntas feitas para Sérgio Sá Leitão, secretário estadual de Cultura e Economia Criativa de São Paulo, Danielle Barros, secretária estadual de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro e para Adolpho Konder, secretário municipal de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, foram feita ao Jost. 
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Sem perder tempo, vamos lá: 
Coisas do Rio - Como a cultura pode e contribui para enfrentarmos a Covid-19?
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Miguel Jost - Para além do fato evidente que a cultura tem um papel fundamental para que as pessoas nesse momento possam consumir conteúdo cultural e assim manter sua sanidade mental e emocional, podemos pensar como, nos territórios populares e periféricos, os equipamentos ou grupos culturais poderiam estar ajudando se não houvessem sido interrompidos seus mecanismos de financiamento e manutenção. Digo isso porque poucos entendem o quanto a cultura pode ter um papel importante de mediadora social em territórios com profundas lacunas da atuação do estado. Por não ser um serviço, como a saúde é, e por não atingir um público de faixa etária restrita, como é o caso da escola, os equipamentos de cultura são espaços que aglutinam pessoas diversas, com idades distintas, visões de mundo diferentes e muitas vezes de origens regionais também plurais. Nesse sentido, esses espaços culturais podem ser grandes aliados do poder público para identificação de problemas nesses territórios, assim como de auxílio para a melhor aplicação de políticas de cuidado por parte do estado. A cultura poderia assim, de forma efetiva, ajudar o poder público a enfrentar de forma mais qualificada a crise sanitária que estamos vivendo.

Coisas do Rio - Como a cultura irá ajudar a retomada econômica do Brasil?
Miguel Jost - A cultura não é só fundamental para o desenvolvimento econômico por conta dos mais de 5 milhões de empregos e pelos 3% que representa no PIB brasileiro. A cultura é, e isso é apontado por estudos de importantes centros internacionais de pesquisa sobre economia, um dos 5 principais eixos estratégicos da economia do século XXI. A indústria do conteúdo/entretenimento/cultura é um dos grandes eixos da economia do nosso tempo e há muito pouco espaço para que isso não se confirme ao longo desse século. A comunicação, a tecnologia, o turismo, são todas grandes cadeias que dependem cada vez mais do conteúdo cultural para se destacarem. Um bom exemplo disso é como empresas, como a Amazon e a chinesa Ali Express, têm procurado serem produtoras de conteúdo cultural relevante. No Brasil, vemos cada vez mais as empresas de internet e telefonia procurando também se afirmar como empresas que sejam reconhecidas por sua capacidade de oferecer conteúdo cultural relevante

Coisas do Rio - Como a cultura contribui para o desenvolvimento de uma cidade, impactando as mais diversas áreas da sociedade?
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Miguel Jost - Os benefícios são enormes. Territórios urbanos com equipamentos de cultura ou ações culturais contínuas produzem melhoras das condições de segurança pública, no desenvolvimento urbano, trazem enormes benefícios pra as cadeias econômicas tangenciais da região e ainda são instrumentos de auxílio para os equipamentos de educação presentes nesse territórios e para a cadeia do turismo. No caso de territórios periféricos, ainda tem o papel de serem importantes mediadores sociais como já citei anteriormente. No caso do Rio de Janeiro, pela bagagem cultural que a cidade tem, a cultura pode ser um elemento estratégico para o desenvolvimento e para recuperação econômica da cidade
Coisas do Rio - Se assinada pelo presidente Jair Bolsonaro, como os recursos vindo do projeto de lei Aldir Blanc (PL 1075/2020) irão contribuir para o desenvolvimento do setor e a aceleração econômica do país?
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Miguel Jost - Qualquer setor de grande relevância econômica merece ser protegido em uma crise como essa. Antes de tudo, e isso serve como mensagem para aqueles que insistem em pensar a cultura como algo supérfluo, a cultura merece ser protegida porque sua contribuição econômica é tão significativa quanto a da indústria farmacêutica ou automobilística. Mas é muito mais que isso. Proteger a cultura é proteger nossa diversidade, nossas visões de Brasil e de mundo, é proteger nosso patrimônio e nossa história. Ao proteger os trabalhadores desse campo, estamos protegendo um setor que contribui em vários aspectos para o desenvolvimento. Como nos últimos anos o setor cultural foi um dos alvos de campanhas orquestradas de mentiras, calúnias e fake news que criaram um discurso de ódio contra os artistas no Brasil, é fundamental apresentarmos os inúmeros benefícios que ela traz para que as pessoas comecem a entender que essa ideia de guerra cultural é um dos grandes triunfos da ignorância e falta de visão sobre a importância da cultura brasileira para nós no âmbito interno e para o lugar que o Brasil ocupa no mundo. A cultura é um dos nossos grandes trunfos para tornar o Brasil um protagonista no cenário internacional.
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Tricolor, Vinicius de Moares e "Bondinho"
Miguel Jost organizou e assinou os prefácios dos livro "Samba Falado - crônicas musicais de Vinicius de Moraes" e uma coletânea de entrevistas ( junto do craque Sérgio Cohn) sobre a revista "Bondinho".
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Ambas saíram pela editora Azougue. 
Meio de campo habilidoso, Miguel Jost é tricolor. 
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Próximo entrevistado
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Domingo é a vez de Adolpho Konder, secretário municipal de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, dar o ar da graça. 
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Coluna dedicada
Essa conversa é dedicada à memória e ao barulho do poeta Ericson Pires. Faz falta no debate agora e sempre.