Nazista Gustav Franz Wagner: caseiro em Atibaia, interior de São Paulo - Reprodução Internet
Nazista Gustav Franz Wagner: caseiro em Atibaia, interior de São PauloReprodução Internet
Por Thiago Gomide
Atibaia, no interior de São Paulo, não morre de tédio.
A coluna, como o título já entrega, versa sobre Rio de Janeiro. Mas como fazer quando há uma história tão curiosa como a que vou te contar? 
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Vem comigo que vale a pena. 
No dia 24 de abril, o Jornal do Brasil estampou que em Itatiaia, interior do Rio de Janeiro, duas horas de Atibaia, rolou uma festa em comemoração ao aniversário de um tal de Adolf Hitler.
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Evidente que isso gerou uma imensa confusão. Como assim comemorando? Quem são essas pessoas nas fotos?
Não tinha um no Brasil que não tentasse descobrir isso. Será que havia fugitivos nazistas?
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Na América do Sul, e vou trazer só dois exemplos, o Mossad, o Instituto para Informações e Operações Especiais de Israel, identificou Hebert Cukurs, em São Paulo, e Adolf Eichmann, na Argentina.
Por falar na década de 60, um livro precisa ser lembrado: “Inferno em Sobibor”, do Stanislaw Szmajzner.
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Nesse livro, o Szmajzner conta os detalhes do dia a dia do campo, a atuação do carrasco Franz Wagner, as torturas...
Wagner era conhecido como a besta de Sobibor. Um homem que tinha nas costas a acusação de ter colaborado com o holocausto, com o assassinato de mais de 200 mil pessoas, em especial judeus, ciganos, homossexuais, pessoas com deficiências físicas, mentais (...)
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Nesse vídeo mostro os detalhes dessa história: 
Voltando:
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Gustav Fraz Wagner era extremamente violento. Há muitos relatos de sobreviventes que ele torturava prisioneiros até a morte. Gostava de plateia. Gostava de ser visto em ação. Uma vez um jovem, com cerca de 15 anos, não entendeu que ele estava chamando. Isso foi o suficiente para ser surrado até não poder mais. Tinha prazer nisso.
Wagner gostava de ver as câmaras de gás funcionando. Em Sobibor, esse carrasco chegou em 1942 e logo se tornou um tipo de RH do mal: ele selecionava quem iria trabalhar forçadamente e quem iria ser assassinado. E, claro, acompanhava.
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O Stanisaw Szmajzner sobreviveu a isso. E depois veio para o Brasil. E, no Brasil, com esse livro que já disse, ele avisou que Wagner também estava por aqui. 
Estava desde 1950, para ser exato. Ele veio para cá e acabou se mandando pra Atibaia. Trabalhou 28 anos como caseiro em um sítio, vida normal, casado...
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No dia 26 de maio de 1978, um mês depois da reportagem bombástica, uma nova revelação: um caçador de nazistas, especialista no tema, chamado Simon Wiesenthal, cravou: uma das pessoas que aparece na foto é Gustav Franz Wagner. 
Pronto, uma das perguntas que todos estavam se fazendo parecia dar sinais de elucidação. A polícia agora precisava ir atrás. Cadê esse camarada? Parecia filme.
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O DOPS, o Departamento de Ordem Política e Social, expediu ordem de capturá-lo. Ao mesmo tempo, e não de maneira explicita, óbvio, Mossad também estava na cola.
Gustav Franz Wagner, vendo que o bicho estava pegando, se antecipou. Se entregou. Mas se entregou falando que não era bem aquilo, que devia estar acontecendo uma confusão, que nunca geriu um campo de concentração, que nunca fez parte da política secreta nazista, que não matou milhares de pessoas...
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Sabe quem foi comprovar que ele tinha culpa no cartório? Szmajzner. A foto que marca esse encontro é forte. Torturador e torturado.
Gustav Franz Wagner foi preso.
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Vários países, entre eles Israel, Alemanha ocidental e Áustria, país de origem do rapaz, tentaram de todas as formas a extradição.
O STF negou.
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Mais: Gustav Franz Wagner foi solto também pelo Supremo Tribunal Federal, com a alegação que os crimes estavam prescritos.
Em 1980, com 69 anos, após cinco tentativas mal sucedidas, Wagner se suicidou com uma facada. Esse laudo é polêmico, ok? Há vertentes que defendem que ele foi assassinado.
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Pra terminar, uma coisa que eu não contei e faz toda a diferença: o homem da foto identificado pelo caçador de nazistas não era Gustav Franz Wagner. Ele não esteve em Itatiaia. Esse erro foi proposital. Era para fazer com que o nazista saísse da toca.
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Bibliografia
Esse texto é baseado em duas fontes: o livro já citado e acervos de jornais.   
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Há um filme sobre esse fato. 
Até hoje esse assunto rende polêmica.