Adolpho Konder é secretário municipal de Cultura do Rio de Janeiro - Reprodução MultiRio
Adolpho Konder é secretário municipal de Cultura do Rio de JaneiroReprodução MultiRio
Por Thiago Gomide
Adolpho Konder fala um assunto sério ao celular enquanto se divide em uma reunião presencial e outra pelo Zoom. Parece que vai dar tilt, mas não. Costuma defender que essa caraterística foi adquirida nas caminhadas políticas.
Ele foi presidente do disputado diretório acadêmico da Puc-Rio, fez parte da juventude César Maia, que revelou uma geração de novos líderes políticos, e compôs o governo da professora Aparecida Panisset, na querida cidade de São Gonçalo. Recentemente foi presidente da MultiRio e é o atual secretário municipal de Cultura do Rio de Janeiro.
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Após Sérgio Sá Leitão ( secretário estadual de Cultura e Economia Criativa de São Paulo), Danielle Barros (secretária estadual de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro) e Miguel Jost ( professor e pesquisador de políticas públicas ligadas à cultura), chegou o momento da coluna abrir espaço para o pensamento desse flamenguista que resolveu não disputar nenhum cargo executivo em 2020.
As 4 perguntas feitas ao Adolpho Konder seguem as da série sobre a importância da cultura para o desenvolvimento brasileiro.
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Coisas do Rio - Como a cultura pode e contribui para enfrentarmos a Covid-19?
Adolpho Konder – A cultura teve um papel muito importante desde o começo da pandemia. Mesmo com todo o desafio de ter todos os equipamentos fechados, a cultura teve a capacidade de se reinventar. Óbvio que já havia um movimento tecnológico, de lives, de apresentações online, mas ela acelerou esse processo. Acho que as pessoas, à partir de seus isolamentos, conseguiram interagir com a arte de alguma maneira. Museus estão fazendo visitas virtuais, debates de literatura estão sendo proporcionados online – organizados pela Secretaria municipal de Cultura, pela Secretaria estadual de Cultura e também pelas inciativas próprias de escritores. Há shows com milhares e milhares de pessoas. Essa interação é um alento nesse isolamento, contribuindo para o psicológico das pessoas. A cultura não só se reinventou, mas vai continuar no pós-pandemia com esse processo de reinvenção.

Coisas do Rio - Como a cultura irá ajudar a retomada econômica do Brasil?
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Adolpho Konder - A cultura tem um papel fundamental na retomada da economia, em especial no Rio de Janeiro, que tem uma vocação enorme cultural. 2,5% do PIB fluminense, de acordo com a Firjan, é representado pela cultura. Nós temos uma lei de incentivo, o ISS, que tem uma importância que representa 1% da renúncia do ISS, onde várias empresas aderem e vários produtores culturais submetem seus diversos projetos. Vários eventos culturais, vários livros, peças, shows, enfim, diversas atividades são patrocinadas por essa lei. Nesse ano, por exemplo, mais de 230 projetos foram contemplados pela lei do ISS. Isso tem um papel pós-pandemia. Os produtores já estão repensando como adequar os seus projetos. Nós temos que pensar esse processo de abertura pós-pandemia, prestando atenção na saúde das pessoas, com todas as regras estabelecidas pelo comitê científico criado pela prefeitura, dialogando com a sociedade civil organizada. Estamos pensando nesse modelo de reabertura e entendendo a importância do quanto a cultura sustenta as pessoas, do quanto a cultura movimenta na economia, e a relação cultura e turismo, que não podem ser desassociados.

Coisas do Rio - Como a cultura contribui para o desenvolvimento de uma cidade, impactando as mais diversas áreas da sociedade?
Adolpho Konder - A cultura tem um papel enorme de desenvolvimento de um país. Em especial em um país como o Brasil, com 27 estados, cada um com sua expressão cultural. Na cidade do Rio de Janeiro, só de público, há mais de 60 equipamentos, entre lonas, museus, centros culturais (...). Só esses equipamentos movimentam milhares e milhares de pessoas. Não só fazendo, mas também consumindo cultura. Na retomada pós-pandemia, a cultura tem um papel fundamental no desenvolvimento do Brasil. Sem dúvida tem um papel na reafirmação da identidade cultural desse país e na educação do povo.
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Coisas do Rio - Se assinada pelo presidente Jair Bolsonaro, como os recursos vindo do projeto de lei Aldir Blanc (PL 1075/2020) irão contribuir para o desenvolvimento do setor e a aceleração econômica do país?
Adolpho Konder - A aprovação da lei tem um papel fundamental nesse momento difícil que passa a cultura no país. As atividades culturais foram as primeiras a pararem e certamente serão as últimas a voltarem. O congresso nacional teve a sensibilidade de entender que era necessário um socorro especial nesse momento. A bancada do Rio de Janeiro, em especial, teve um papel fundamental, com seus deputados. O texto foi construído em consenso e com uma ampla aprovação tanto no Senado como na Câmara de deputados. Para a cidade do Rio de Janeiro, esse auxilio vai servir para os artistas, que por causa da paralisação das atividades passam por dificuldades, mas também ao apoio às instituições culturais e ao fomento à cultura. Foi uma grande vitória da cultura. Para a cidade do Rio de Janeiro, vem em boa hora e estamos abrindo um cadastramento grande de instituições e artistas. No ano passado foi aprovada, por ampla maioria na Câmara (dos vereadores), a criação do fundo municipal de cultura. A Secretaria de Cultura vem se organizando para receber esses recursos e fazer com que a gente possa auxiliar. É importante ressaltar o envolvimento da sociedade civil organizada, dos setores da cultura, do conselho municipal da cultura e das comissões tanto da Câmara federal como da municipal para o avanço da Aldir Blanc.

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Prêmio Caique Botkay
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Adolpho está na liderança de diversas ações, como o já badalado "Drive-in" na Cidade das Artes, mas a coluna gostaria de chamar atenção para o prêmio literário Caique Botkay.
O concurso selecionará os 10 melhores contos com narrativas e reflexões sobre o novo formato que a sociedade adotou mediante as circunstâncias de uma pandemia.
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Mais informações? Clique aqui.
Caique Botkay, certamente um dos nomes mais importantes da história do teatro no Brasil, faleceu ocupando o cargo do presidente da MultiRio.
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Adolpho Konder veio em seguida e, pelo visto, não só entendeu como valorizou.
Viva Caique Botkay! Viva a cultura!
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PL Aldir Blanc?

O projeto de lei Aldir Blanc, que passou na Câmara dos deputados e no Senado e está para apreciação do presidente Jair Bolsonaro, destina 3 bilhões de reais a estados e municípios. Esse dinheiro está parado em fundos.
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Audiência
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Desde que a coluna começou a debater cultura, a audiência multiplicou. Obrigado!
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Equipe
André Novo, Carlos Janan e Diego Alves, que está na curadoria e condução das boas lives proporcionadas pela Cidade das Artes, fazem parte da equipe de Adolpho Konder.
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4 perguntas
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Perceba que as quatro perguntas não alteram. As respostas, evidentemente, que se distinguem. O importante é trazer múltiplos e ricos olhares.