Junior Perim (à esq.) com o juiz Fragale: treinamento com magistrados - Divulgação
Junior Perim (à esq.) com o juiz Fragale: treinamento com magistradosDivulgação
Por Thiago Gomide
Junior Perim é bastante conhecido nas rodas culturais do Rio de Janeiro. Ex-secretário municipal de Cultura, ele está à frente do “Circo Crescer e Viver”, na Cidade Nova, há 16 anos.
Não conhece o trabalho do Circo?
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“Impactar vidas e transformar contextos através da arte é nosso grande espetáculo. Somos um circo que junta pessoas para inventar histórias individuais e fazer do encontro o trampolim para saltos coletivos”, ressalta parte do texto que apresenta o trabalho do grupo.
Convidei Junior Perim para ser o último entrevistado da série que debateu a importância do setor no combate à Covid-19.  
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Algumas horas após a gravação da entrevista, o presidente Jair Bolsonaro sancionou a lei Aldir Blanc. A quarta pergunta, feita aos cinco participantes, envolvia exatamente o então PL 1075/2020.
“Eu sou crítico dessa lei. Como aspecto de auxílio ao artista, acho que a Cultura deu um tiro no pé com essa lei, porque ela cria uma categoria especial de trabalhadores informais”, disse Perim.
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Mais à frente, você pode ouvir, na estreia do nosso espaço de áudios e podcasts, a longa explanação do entrevistado sobre a lei Aldir Blanc.
Agora, vamos às três primeiras perguntas que versam sobre a relação da Cultura com a cidade e a importância do setor na luta contra a Covid-19.

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Coisas do Rio – Como a cultura pode e contribui para enfrentarmos a Covid-19?
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Junior Perim – Acho que a cultura tem contribuído pouco. Eu acho que a cultura se aprisionou em uma agenda corporativa de debater os impactos sobre as suas próprias atividades e deixou de cumprir o papel histórico que ela quis cumprir na sociedade, que é de enfrentar os grandes temas da agenda pública brasileira. Isso explica o fato da gente ter poucas iniciativas, na minha análise, liderando ações de solidariedade às pessoas mais afetadas pela crise gerada pela Covid-19.
Coisas do Rio – Como a cultura irá ajudar a retomada econômica do Brasil?
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Junior Perim – Acho que, primeiro, a atividade criativa, artística, cultural tem um papel a cumprir na mobilização de pessoas, na produção do encontro. A produção de fluxos, inevitavelmente, é geradora de dinâmicas não só estéticas, mas de dinâmicas econômicas. Acho que o grande papel da cultura pós-Covid vai ser resgatar e ativar novos encontros para a produção desses fluxos. Espero que esses fluxos não se limitem a difusão, a função estética, mas sobretudo ao encontro no foco em geração de dinâmicas de desenvolvimento, de inclusão produtiva, de geração e novos negócios, de novas oportunidades econômicas, em especial para as camadas mais atingidas pela pandemia.
Coisas do Rio – Como a cultura contribui para o desenvolvimento de uma cidade, impactando as mais diversas áreas da sociedade?
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Junior Perim – Acho que para isso se tornar mais efetivo nós temos que pensar governança cultural na esfera pública. Cultura não pode ser mais um campo setorial da ação pública ou estatal. Ela precisa ser um campo estratégico. E para isso ela precisa ser absorvida como uma agenda de diferentes funções de governo e áreas da ação pública. Há um potencial de impactar desenvolvimento econômico, social e humano, desde que a Cultura deixe de ser propriedade de uma única esfera de governo. A Cultura precisa ser tratada de maneira mais programática e menos “setorializada”. A gente terá oportunidade de usar esse potencial ainda inexplorado quando a Cultura se tornar programática e parte da agenda de diferentes setores da sociedade. Da agenda urbana, da educação, da saúde, da assistência social, da agenda de geração de trabalho e renda. A Cultura precisa ser transversal. A gente costumou a tratar Cultura no âmbito público como uma agenda ligada a linguagem, às manifestações artísticas, às expressões criativas...e pouco isso dá conta do que se produz de cultura em termos de cuidado, em termos de contraprestação de inúmeros serviços, em práticas sociais...Em Nova York, por exemplo, existe um departamento de Cultura no departamento de trânsito. No Rio de Janeiro existe uma experiência: a secretaria de Saúde tem um museu ligado a saúde mental (Museu Bispo do Rosário). A gente precisa, em especial a classe artística, entender que só vai realizar todo potencial de contribuição com desenvolvimento da cidade em diferentes planos se a gente romper com a governança verticalizada do setor e se a gente conseguir horizontalizar a agenda.

Aqui está o comentário de Junior Perim sobre a Lei Aldir Blanc:


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Projeto na luta contra Covid-19 

O “Circo Crescer e Viver” tem um trabalho extenso. Fica aqui o site e o Facebook da turma. Há muitos caminhos para serem conhecidos.
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A coluna chama atenção para o projeto do Circo que conta com o apoio da BR Distribuidora. O Instituto Unibanco e o Itaú Social também estão nessa iniciativa. 
Olha só:
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O projeto assiste 2862 famílias na Cidade Nova, Estácio, Centro, Gamboa e Santo Cristo, oferecendo 120 reais mensais por cada núcleo familiar.
Idosos recebem mais 120 reais. A duração é de três meses.
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De um total de 8872 pessoas que são atendidos, 593 já ultrapassaram os 60 anos. Todos se encontram em extrema pobreza, pobreza e baixa renda.
Um grupo de 20 jovens se dividem para acompanhar esses idosos. As histórias estão sendo colhidas e divulgadas nas redes sociais do “Circo Crescer e Viver”.
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Mais informações? Clique aqui