Thiago Gomide e estudantes da E.M. Dorcelina Gomes da Costa - Alberto Jacob Filho - Divulgação MultiRio
Thiago Gomide e estudantes da E.M. Dorcelina Gomes da CostaAlberto Jacob Filho - Divulgação MultiRio
Por Thiago Gomide
"Você consegue! Tenha certeza que você consegue!", me disse Zé Luís, inspetor do colégio que eu estudava.
1997 foi um ano terrível. Uma sequência de problemas familiares me fez cair muito de rendimento, ficando em recuperação.
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Chorava no corredor com meu boletim na mão. Aos 11 anos era algo novo em um colégio igualmente desconhecido.
Passei de ano e nunca mais esqueci do Zé Luís.
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Rio de Janeiro. 1997.
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Na entrada lateral do pátio principal da escola havia um apêndice. 
Dentro desse espaço, dividido por uma bancada de tijolos à vista, três mulheres preparavam o almoço da criançada. 
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Era uma segunda-feira, portanto aquela comida seria a primeira refeição de vários estudantes desde a sexta-feira passada. 
Quando o sinal improvisado soou, dezenas de meninos e meninas organizavam-se em uma fila perfeita. "Eles são educados", pontuou a jovem diretora que me acompanhava na visita. 
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"Tia, põe um pouco mais", pediu um garoto aparentando 7 anos mas com idade de 10. 
A imagem da merendeira não sai da minha lembrança. A imagem dela servindo mais um pouco não sai da minha mente. Havia afeto no gesto e no olhar. No sorriso. 
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2013. Porto Acre, cidadezinha a uma hora de distância de Rio Branco, capital do Acre.  
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No primeiro dia que fui dar aula, estava claramente perdido. 
Se perguntassem meu nome, diria Saramago ou Veríssimo ou Elke Maravilha. Nem sabia direito onde era o início, apesar de conhecer o assunto e ter preparado um bom material. 
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A turma de segundo ano do Nave, na Tijuca, era o desafio primeiro. 
Marquei com o coordenador de encontrá-lo momentos antes para ele apresentar-me a turma. Tipo "boas-vindas, esse é o novo professor". 
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Coisas do destino e o rapaz ficou preso no trânsito. 
"Você está por onde?", perguntei na mensagem marota, cheio de dedos para não perder o emprego recém conquistado. 
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Enquanto esperava a resposta, fui ao bebedouro perto da sala dos professores. Não reconheci ninguém que conhecera quatro ou cinco dias antes. 
Um, dois, três, quatro goles. Uns mais curtos, uns mais prolongados. 
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"Você é o novo professor de roteiro?". 
Ouvi a pegunta no caminho para a quinta golada. 
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Era a senhora da limpeza. 
"Estou um pouco perdido. A senhora sabe onde fica minha turma?", questionei. 
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Ela riu graciosamente e me levou ao encontro do coordenador substituto.
"A galera faz muita bagunça?", perguntei andando lado a lado. 
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"São ótimos! Tudo dá certo!", respondeu.  
 Rio de Janeiro. 2012. 
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"Você sabe o que faz uma auxiliar de creche?", perguntou-me uma mulher que estava na platéia. 
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Apresentei durante anos a Jornada Pedagógica da Educação Infantil, grande evento da Secretaria municipal de Educação do Rio de Janeiro para formação dos profissionais desse segmento. 
O questionamento não veio com ar de pegadinha, tão fácil de ser identificada. 
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"Falei alguma coisa errado?", certifiquei-me se tinha trocado bolas. 
Escrevo e vivo no mundo educacional há mais de uma década, mas acontece de comer uma mosca aqui outra acolá. Na educação, inclusive, aprende-se a caminhar junto.  
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Não foi o caso. Era dúvida genuína, com vontade de me contar os pormenores.
Eu pensei que sabia. Tolinho. 
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Voltei para um café com bolo de fubá e tive uma aula sobre os detalhes. 
"Thiago, por que você não mostra o que está acontecendo nas escolas?", incentivou-me uma segunda auxiliar de creche. 
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Quase dez anos depois nasceria o Dando Ideia, pela MultiRio, tentando também responder à essa provocação.
Rio de Janeiro. 2011. 
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Nas escolas modernas, e isso independe de grana, existe um desenvolvimento de todos os profissionais de educação. 
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Quando há escuta, quando há reconhecimento, percebe-se que os resultados são melhores. 
O inspetor é um grande aliado. A pessoa da limpeza pode apresentar soluções. A merendeira pode traduzir problemas. A auxiliar de creche pode abrir cortinas. 
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A escola vai muito além do professor, da coordenadora pedagógica ou do diretor - que não estão sendo diminuídos, por favor.
A escola é uma ciranda e se um largar a mão, perceba, fica um buraco.
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Às vezes as mãos restantes não se encontram nunca mais.
Essa garotada que ilumina a foto de capa precisa dessa união. 
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Esse colunista no meio da conversa está escrevendo aqui por causa também do Zé Luís, do brilho nos olhos da merendeira no Acre, da dica da auxiliar de creche e daquela senhora da limpeza. 
Só me resta agradecer. Muito, muito obrigado.  
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Dando Ideia
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Veja só um episódio do Dando Ideia, produzido pela MultiRio, empresa de midiaeducação ligada a Secretaria municipal de Educação do Rio de Janeiro. 
  
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LDB e a definição de profissional de educação
Volto para editar um pontinho e levantar um debate. 
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A Lei de Diretrizes e Bases da Educação, de 1996, define o profissional de educação aquele que atravessa o magistério. 
Professor Valdemar, carinhosamente, me lembrou sobre isso na minha página no Facebook. 
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Deveria ter ressaltado isso desde a coluna inicial, mas acelerei na quinta marcha e passou. Como na educação caminhamos juntos, nada mais claro que receber o toque de um amigo.
A provocação que faço é o olhar sobre os profissionais que compõe o ecossistema escolar. 
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Uma merendeira, na teoria, pode trabalhar com esse ofício em qualquer espaço. Um inspetor pode, na teoria, trabalhar com a segurança em qualquer lugar. 
Mas sou do time que defende que, quando falamos de educação, esses profissionais se tornam únicos. Quanto mais capacitados, mais podem colaborar para resultados vitoriosos. 
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Na escola, o inspetor não é somente o que controla entradas e saídas e afins. Na escola, a merendeira não é apenas a que prepara e serve refeição. 
São peças de uma engenharia inclusive pedagógica.  
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