A imensa torcida bem feliz do Vasco deu uma prova de amor ao clube  - Daniel Castelo Branco
A imensa torcida bem feliz do Vasco deu uma prova de amor ao clube Daniel Castelo Branco
Por Thiago Gomide
Todos os meus primos cariocas são vascaínos.

Da geração familiar, mesmo contando com a moçada de São Paulo, sou o único que torce para o Fluminense.

Aqueles que atravessaram os 30 e alguns anos vão lembrar de como era duro vencer os cruzmaltinos. Diria impossível.

O Vasco foi uma máquina de 1994 a 2001. Com altos e nunca baixos. No máximo medianos.

Só de cabeça aparecem logo alguns jogadores – e sem lógica de tempo: Valdir, Ricardo Rocha, Dener, Jardel, Edmundo, Mauro Galvão, Juninho Pernambucano, Felipe, Pedrinho, Juninho Paulista, Dinamite, Romário e Carlos Germano (o melhor que eu já vi).

Também puxando pela memória recordo de três momentos envolvendo o meu time e o rival:
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1. Voltando de uma viagem à Cabo-Frio tive que aguentar colado no radinho o Fluminense tomando um chocolate do Vasco. O Pimentel fechou o caixão.
2. Estava com meu pai na final de 1994 quando Jardel arrebentou com tudo. Ricardo Cruz, goleiro tricolor, até pegou pênalti, mas não tinha como parar.
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3. O time de 1997 era um esculacho. No Maracanã lotado, ao lado dos meus primos e do meu tio Luiz, igualmente vascaíno, tive que torcer para o Paulinho McLaren. Quanto sofrimento! 3 a 1 Vasco, com um golaço do Ramón.
Traumatizado, alguns podem estar pensando. 
*

No finalzinho de 1923, Fluminense e Vasco estavam em lados opostos.

Mas não dentro de campo.

Os cruzmaltinos lutavam contra as vontades políticas dos tricolores (com apoio de Flamengo e Botafogo), que desejavam barrar analfabetos, pessoas com subempregos e os atletas profissionais. Futebol era papo de amador, defendiam.

“Havia basicamente duas situações que a Liga tentava evitar: o profissionalismo dos jogadores e a presença de jogadores analfabetos nos times da liga. O combate ao profissionalismo era mais complicado de ser feito, pois na maioria das vezes os jogadores eram registrados em empregos obtidos através da influência de dirigentes e simpatizantes dos clubes”, escreveu o historiador João Manuel Casquinha Malaia Santos em sua tese de doutorado.

Muitos comerciantes vascaínos, em especial os portugueses, contratavam os atletas para seus estabelecimentos e não obrigavam a trabalhar. Mais: até davam um extra para jogarem. Burlou-se assim uma das obrigações.

Para o segundo ponto foi contratado um time de professores para capacitar os atletas. Era a educação servindo, para não variar, como resistência.

Mesmo com essas atitudes, continuava a perseguição ao campeão de 1923. Os camisas-negras, como eram conhecidos, atropelaram. Foi o primeiro clube a levantar o caneco no Rio de Janeiro com pobres, negros e analfabetos no elenco.

Fluminense, Flamengo, Botafogo, Bangu e São Cristóvão, então, criaram a Associação Metropolitana de Esportes Athleticos, conhecida como AMAE. Quem quisesse se associar precisava seguir as regras. O Vasco, por exemplo, teria que eliminar mais de dez jogadores.

De maneira corajosa, o Gigante da Colina tomou a decisão de romper. Isso chocou a opinião pública. Não esperavam atitude tão drástica.

A carta que o presidente vascaíno José Augusto Prestes enviou para o tricolor biliardário Arnaldo Guinle, então presidente da AMAE, é uma pérola. Duas partes estão aqui:

“Os privilégios concedidos aos cinco clubes fundadores da AMEA e a forma pela qual será exercido o direito de discussão e voto, e feitas as futuras classificações, obrigam-nos a lavrar o nosso protesto contra as citadas resoluções.

Quanto à condição de eliminarmos doze (12) dos nossos jogadores das nossas equipes, resolve, por unanimidade, a diretoria do Club de Regatas Vasco da Gama não a dever aceitar, por não se conformar com o processo pelo qual foi feita a investigação das posições sociais desses nossos consócios, investigações levadas a um tribunal onde não tiveram nem representação nem defesa”.

Resultado: em 1924 tivemos dois campeonatos cariocas.

O organizado pela nova entidade foi vencido pelo Fluminense e o dos outros clubes foi vencido pelo Vasco.

A batida de pé foi fundamental para alterar os rumos do futebol no Brasil – além de aprofundar os debates sobre preconceitos raciais e sociais.

Em 1925 os clubes voltariam a formar um mesmo grupo. O campeão foi o Flamengo.

Sem o Vasco, Pelé e tantos outros craques poderiam não existir.
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Vasco já usou uniforme do Flamengo
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Quer saber o motivo? A coluna já contou. Clique aqui
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Zico já jogou pelo Vasco
Quer entender esse fato? Clique aqui. Já falamos também.
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São Januário: maldição do sapo enterrado no estádio fez Vasco não ganhar nada
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Que história é essa? Você sabe que a coluna já contou. Clique aqui para ler. 
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Bicho, gandula e Eurico Miranda
Ainda poderia contar em detalhes o surgimento do bicho para os jogadores, o nascimento da palavra gandula ( tem a ver com a história do Vasco) e esmiuçar o momento que o Eurico Miranda foi visto votando em eleição presidencial do Flamengo.   
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Coluna dedicada
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Essa coluna vai como parabéns a todos os vascaínos, em especial para Thiago Francisco da Mata, que jogava a fina flor no recreio do Colégio Zaccaria e nas altinhas pelas praias da vida.