Consumidor mostra a diferença de preços entre dois produtos:
Consumidor mostra a diferença de preços entre dois produtos: "Fiscal do Sarney" lacrou o estabelecimento Reprodução Internet
Por Thiago Gomide
Com o quilo do arroz custando quase 40 reais, andam até sugerindo que o brasileiro troque o companheiro de todas as horas pelo macarrão.
O presidente Jair Bolsonaro pediu patriotismo para os donos de supermercados, esquecendo que eles são apenas a ponta de uma cadeia que está presenciando mês a mês o aumento desse grão.
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Os fatores são múltiplos, vale ressaltar. A conta chega.
Nas redes sociais, vê-se crescer a indignação e até propostas de novamente a população fiscalizar e denunciar quais estabelecimentos estão aumentando abusivamente o preço.
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Será a volta dos “Fiscais do Sarney”? Será que, ao invés de alcançarmos o futuro, regrediremos à 1986?
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O negócio era brabo. Muito, muito brabo.
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Pela manhã, você ia comprar um pãozinho e pagava um tanto. Na hora do lanche era outro valor. Maior, claro.
A expressão “um dia atrás do outro” era otimista ao extremo.
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Com a inflação nas alturas, como diria a BandNews, “em 20 minutos, tudo pode mudar”.
José Sarney, o presidente, estava sendo cobrado para tomar uma atitude. Ou uma sequência delas. Resolver aquilo.
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Nesse instante, o Brasil atravessa uma de suas maiores epopeias financeiras: tivemos tantos planos econômicos e tantas moedas que era capaz do cidadão nem saber mais o que calcular.
Era Cruzeiro. Era plano Cruzado. Corta uma sequência de zeros daqui, coloca mais um bocado acolá. Uma doideira.
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No bojo das ações o Governo lançou a política drástica de congelamento de preços: estava proibido para qualquer comerciante aumentar ou abaixar os preços.
Com duração de um ano, todos os valores dos produtos foram tabelados por Brasília.
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Mas como averiguar? Mas como fiscalizar? Mas como?

A Superintendência Nacional de Abastecimento, a SUNAB, que deveria controlar, não tinha profissionais suficientes. Pensando ceticamente, nunca teria. Jamais.
Eis então que a cruzada cívica foi incentivada. Os consumidores defenderiam o programa do Governo.
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Emocionado, Sarney disse que cada brasileiro e cada brasileira deveria ser um fiscal de preços. Aplausos dos bajuladores e parecia que tudo estava indo para um caminho normal.
Pausa rápida no texto. Se você quer ver imagens e mais imagens desse período e conhecer outros detalhes, aperta o play nesse vídeo.

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Voltando.
O pedido presidencial foi escutado.
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Um exército de consumidores foi para os mercados atrás de deslizes. No peito um brochezinho verde e
amarelo valorizando a frase “eu sou fiscal do Sarney”. Na mão a tabela de preços estimados pelo Governo.
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Essa mobilização histórica ficou então com cara de movimento organizado, coordenado em vários lugares do Brasil, com núcleos regionais espontaneamente organizados e tudo.

Caso o estabelecimento não respeitasse, era um Deus nos acuda.
Tinha até quem lacrasse o supermercado. Tem noção disso? O fiscal popular berrava “tá fechado por descumprir o Sarney” e mandava ver.

Quer saber se isso deu certo, né? Politicamente, em um primeiro momento, sim. Economicamente não.
Logo em seguida veio o Plano Cruzado II, que fez a turma se perder ainda mais.
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Tô até batendo três vezes na madeira.
Olhando pelo lado positivo, uma herança nasceu em 1991. O Código de Defesa do Consumidor trouxe muito dos aprendizados dessa época dos fiscais.