Casa Villarino, berço da Bossa Nova no Rio, anuncia fechamento - Reprodução
Casa Villarino, berço da Bossa Nova no Rio, anuncia fechamentoReprodução
Por Thiago Gomide
Os bares de uma cidade contam muito de sua história.

Pode parecer papo de bêbado, mas é assim mesmo. Ao ir a Nova York, por exemplo, não pode deixar de conhecer o reduto etílico de Frank Sinatra ou de Jorge Luis Borges em Buenos Aires ou de Ernest Hemingway em Paris. Foram nesses lugares que cliques para clássicos da arte mundial surgiram.

No Rio de Janeiro há uma penca, cada vez menor, de bares que retratam parte importante da nossa caminhada. A Casa Villarino, na Av. Presidente Wilson, é um dos casos mais famosos.

Por ali passaram os principais escritores, artistas plásticos, poetas, músicos, empresários que tivemos entre a década de 1950 e ontem. O poeta chileno Pablo Neruda marcou presença. Conta-se que o compositor Ary Barroso escreveu as primeiras estrofes de “Aquarela do Brasil” naquelas mesas - e parede. No fundinho da loja, um encontro contribuiria para o surgimento da Bossa Nova.

Vinicius de Moraes e Antônio Carlos Jobim, o Tom, se conheceram na Casa Villarino. Vinicius precisava de alguém para musicar a peça “Orfeu da Conceição" e Tom estava sendo apresentado por Lucio Rangel. “Vai rolar um dinheiro, né?", perguntou o então duríssimo maestro. O final da história, conhecemos.

Luis Villarino Perez era um espanhol da Galícia. Chegou no Rio como tantos imigrantes: com uma mão na frente e outra atrás. Começou ralando como mascate de bilhetes lotéricos e outros objetos, vendidos na travessia das barcas Rio-Niterói. Ganhou dinheiro, montou lojas, bares, trabalhou com louças finas, imobiliária, chegou a ter um banco.
Após 67 anos, fecha a porta. Imensa perda. A coluna torce para que se reverta essa situação.