Teatro de Bonecos, com base na foto do LP de Cartola, também está na programação - Reprodução
Teatro de Bonecos, com base na foto do LP de Cartola, também está na programaçãoReprodução
Por Thiago Gomide
“Estou vivendo um péssimo momento. Que história você me indica conhecer? Me ajuda! Preciso me inspirar”.
Recebi essa provocação por e-mail de uma leitora, que por razões evidentes não terá seu nome revelado.
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Uma provocação de tirar o ar.
Prometi escrever essa coluna como resposta, além de tentar oferecer algumas palavras de conforto e indicar (fica a sugestão para todos que me leem, independente de como está se sentindo) tratamento profissional. Terapia salva.
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Pois bem...
O compositor e cantor Cartola é um dos pilares do samba, da cultura brasileira. Reverenciado mundialmente.
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A história de vida dele é cheia de reviravoltas, típicas de um personagem bem brasileiro.
Ele se envolveu com bebida e prostituição. Ficou noites sem dormir. Aos 17, estava órfão de mãe e brigado com o pai. Chegou a não ter canto certo para encostar a cabeça no travesseiro.
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Foi parceiro de Noel Rosa em letras e copos.
“O andarilho citadino Noel fazia visitas tão frequentes aos sambistas de morro que vira-e-mexe dormia na casa do compositor Cartola, em Mangueira. A “santa” Deolinda, primeira mulher de Cartola, cuidava de ambos após os porres homéricos que tomavam”, escreveu o pesquisador e escritor André Diniz, no “Almanaque do Samba”.
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Cartola levantou dinheiro como pintor, guardador de carro, zelador e até ajudante de obra. Vendeu diversas letras. Barato. Não foi reconhecido.
Estava no time que fundou a Estação Primeira de Mangueira, o que dispensa mais comentários. Chegou a se afastar da agremiação, mas terminou a vida em paz com a escola de samba.
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As letras de Cartola foram gravadas por inúmeros artistas, de Chico Buarque a Adriana Calcanhoto, de Maria Bethânia a Beth Carvalho, passando por Caetano Veloso, Lobão e Cazuza.
Por falar em Cazuza...
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“Registrado Agenor de Miranda Araujo Neto, meu filho sempre foi Cazuza, desde a maternidade. No Aurélio, significa uma vespa solitária, cuja ferroada é bastante dolorosa. Ele só se deu conta de que seu nome era Agenor aos 3 anos de idade, quando foi para a escola, o Colégio Chapeuzinho Vermelho, na Rua Prudente de Morais, Ipanema. Perguntava a mim mesma onde estava com a cabeça quando resolvi batizá-lo com esse nome. Até mesmo um irmão de João, registrado como Agenor, passou a vida sendo conhecido pelo apelido de Baby. Cazuza só assumiu seu nome de batismo quando descobriu que o grande Cartola também se chamava Agenor”, contou a forte Lucinha Araújo, no livro “Cazuza, só as mães são felizes”.
Cartola se chamava Angenor, por causa de um erro na hora do registro. Era para ser Agenor, sem o n.
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Cartola teve um grande amor: Zica, mulher responsável por tirá-lo do buraco. Existe um Cartola antes e um depois dela. Paixão de adolescência, Zica ajudou na recuperação de um Cartola cheio de problemas de saúde.
Juntos, lançaram o bar ZiCartola, reduto emblemático da música popular brasileira na década de 1960. Paulinho da Viola, por exemplo, começou tocando nesse espaço.
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O escritor Juliano Barreto, no bom livro “Mussum Forevis”, escreveu sobre a relação do biografado com esse cantinho emblemático da boemia:
“O sambista (Mussum) virou frequentador assíduo do lendário Zicartola, bar na Rua da Carioca aberto por Cartola e Dona Zica e instantaneamente escolhido como casa de boêmios e músicos com currículos lendários. O local servia a famosa feijoada da primeira dama do samba e tinha um estoque infinito de cerveja, atrativos mais do que suficientes para reunir a nata dos músicos do Rio de Janeiro. Quando não estava farreando ao lado dos bambas, Mussum ia muito ao Salgueiro, nas vendinhas de Seu Antônio Barateiro, Seu Lúcio e Dona Ana ou nas tradicionais rodas de jongo dos terreiros de macumba do Pedacinho de Céu. Passar um dia em casa era tão raro quanto ver alguém pagando a conta no Zicartola”.
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Em 1974, com mais de 60 anos nas costas, finalmente Cartola lança seu primeiro LP. E até a morte dele, em 1980, foram mais três lançados. Todos com muito sucesso.
Se eu lhe contar que Cartola ficou durante anos desaparecido, pode ser que não acredite. O jornalista Sérgio Porto, em Ipanema, que reconheceu o então flanelinha, abrindo portas em rádios e jornais.
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Em tempos de cólera, nada melhor que mostrar que a vida oferece reviravoltas. Amores incríveis. Amigos.
Nada melhor que lembrar Cartola porque é um personagem próximo, com profundidade, com os tons reais. 
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Fique bem, querida leitora, e lembre que "Fim da tempestade / O sol nascerá / Finda esta saudade / Hei de ter outro alguém para amar / A sorrir, eu pretendo levar a vida".
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Quer ajuda psicológica de graça?
Liga para o 1746. 
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Você vai ser atendida ou atendido pelos Centros de Atenção Psicossocial.
Não deixe de procurar ajuda.
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Quer saber mais sobre a vida do Cartola?
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Fiz um vídeo contando detalhes.
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Documentário disponível
Vamos para o profissional agora.
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Em homenagem ao “Dia da Consciência Negra”, a RioFilme, empresa de fomento ao audiovisual da Prefeitura do Rio, liberou o acesso ao belo documentário “Cartola, música para os olhos”, de Lírio Ferreira e Hilton Lacerda.
Clique aqui para ver.
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O valioso Denilson Monteiro
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A coluna entrevistou Denilson Monteiro, um dos biógrafos de Cartola.
O livro “Divino Cartola” se tornou obra procurada pelos amantes do samba e da literatura. Na Amazon, um autografado custa quase 1.000 reais. No Mercado Livre, o mais barato 340,00 reais.
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Quer saber como Cartola vendia as composições? Quer saber como ele teve aula de malandragem e acabou se tornando professor? Ouça aqui.
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Além de biógrafo de Cartola, Denilson escreveu sobre Chacrinha, Carlos Imperial, Ronaldo Bôscoli, entre outros.
Uma boa notícia é que ele está dando aula online sobre escrita criativa, personagens, entrevistas, bastidores de um bom livro e o repertório é gigantesco. O preço é bem em conta, ainda mais por se tratar de um dos grandes da nossa literatura. As aulas são individuais de 90 minutos.
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