Thiago Gomide
Thiago GomideReprodução Facebook
Por Thiago Gomide
Entrei no meu Fox 2014, com roda estepe vestindo camisa de titular, desalentado com o inferno que estamos vivendo. Até quando, meu Deus? Apesar de também trabalhar em uma rádio, preferi conectar o bluetooth. O YouTube que se encarregue de me entregar algo novo – baseado, evidente, nos meus consumos recentes.
Na curva final do aterro do Flamengo, surge algo que não reconheci. Voz que não entendi como algo que já foi identificado. Ao invés de acelerar, reduzi quase que instantemente. Sem drama. Não parei o carro. Mas reduzi. O que é isso? “Bem que se quis”, do tricolor Nelsinho Motta, tio da querida Taty Motta, aparecendo com agudos mais fortes.
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Cheguei no escritório ( ha-ha-ha) e fui entender mais sobre quem estava interpretando um dos clássicos da nossa música popular. Em minutos, estava enviando mensagem elogiando. Reuni a equipe e defendi que era mais que a hora de dizermos o que achamos. Alguns olhares atentos me acenderam a luz que ainda estamos distantes de nos declaramos, mesmo nesse instante de incertezas. Qual será o medo de afirmarmos o que achamos? Por que raios não podemos dizer?
Quando era estagiário do “O Pasquim 21”, encontrei o escritor Fernando Sabino em seu apartamento. Estava ali para pegar texto do autor de “Encontro marcado” para o semanário. Época que misturava máquina de escrever e aquele Word com cara de década de 1990. Com peito estufado deixei de dizer para Sabino que ele era meu ídolo. Por mais que estivesse mais algumas vezes, o estúpido orgulho me matou. Pobre ideia. O gênio morreu em 2004 sem ouvir isso. Eu morri sem dizer.
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Em um hotel em Ipanema, o músico Toquinho me fitava com aquele olhar caridoso de malandro paulistano. Eu tinha 18 anos e ele lançava um álbum em que dizia não haver mais tempo a perder. Com tenra idade não passa em mim nem uma brisa de realidade. Entrevistei o (então) cinquentão com o jeito estufado de ser apenas uma parada na caminhada. Era Toquinho. Era um dos grande das história. Era para eu ter dito “você é incrível, sou seu fã, você foi som da minha vida”. Mudo. Mudo fiquei.
Essa louca pandemia abriu as compotas de que é preciso declarar. Agora. Agora. Não em um segundo. Agora. Declarar o que deseja. E você? Declare!