Bob Marley joga futebol no campo do Chico Buarque: camisa do Santos foi presente ao fã do Pelé
Bob Marley joga futebol no campo do Chico Buarque: camisa do Santos foi presente ao fã do Pelé Reprodução Internet
Por Thiago Gomide
Dez a cada dez participantes de luaus já tocaram, cantaram ou balbuciaram alguma música do jamaicano Bob Marley. Não tem escapatória. Para iniciantes no violão, a clássica “No woman, no cry” é possível arranhar com poucos acordes. A versão de Gilberto Gil, da década de 1970, é ainda mais reconhecida. “Bem que eu me lembro/ Da gente sentado ali/ Na grama do aterro sob o sol/ Ob-observando hipócritas/Disfarçados rondando ao redor”, canta a turma em rodinha, à plenos pulmões.
Convidado para participar do lançamento de uma gravadora, Bob Marley se mandou de Londres para o Rio de Janeiro em março de 1980. Para abastecer, o jatinho precisou parar em Manaus. Em terras amazônicas, a trupe do reggae descobriu que o período em solo brasileiro teria os olhos atentos das forças de segurança. Atentos aos discursos de liberação da maconha, policiais marcaram em cima, embaçando a entrada dos músicos e impondo algumas restrições no visto, como não ter apresentações. Caso contrário, prisão.
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Com o cachimbo da paz deixado de lado, Marley foi direto para o Copacabana Palace. O badalado hotel e a praia mais famosa do país foram escolhidas à dedo. Pouco conhecido na época, ele pode dar uma corridinha no calçadão e parou pra tomar um suco de laranja em um dos bares da orla. Após alguns goles na bebida, arranhou o gogó cantando alguns sucessos. Nas raras filmagens da época, só um rapaz estende um guardanapo fininho, daqueles de lanchonete Chinesa, para pedir um autógrafo. Os garçons observam a distância, dando a impressão que ou ignoram o astro ou esperam que os gringos peçam uma lagostinha completa ou três postas de camarões VG. Mais Rio de Janeiro, impossível.
Fã de futebol, Bob Marley foi levado para uma peladinha no campo de futebol do Chico Buarque, o conhecido Polytheama. Chegou com três horas de atraso, mas artistas brasileiros, incluindo o nobre tricolor, e executivos da tal gravadora esperavam ansiosos. Foram vinte minutos de partida, onde se viu que a paixão do “rei do reggae” não era correspondida pela bola. Fez um gol em uma daquelas generosas entregadas do adversário. Como uma eterna lei informal do lugar, o anfitrião também precisa marcar (e vencer). Chico e o craque Paulo Cesar Caju balançaram a rede, aumentando a vantagem dos “amigos do Marley”, que ainda contava com um jornalista que precisou substituir o gravador pela chuteira. Faltava um para completar o time e o destino brindou.
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Tudo muito bom, tudo muito bonito, mas o ídolo precisava mostrar para o que veio. O Morro da Urca estava todo enfeitado para receber o rapaz. Não faltavam estrelas nacionais – nem a polícia, que estava de butuca. O saudoso Moraes Moreira e Baby, na época Consuelo, arrepiaram no palco. Evidente que todos queriam uma palinha, mas ficaram no desejo.
Na volta para a Inglaterra, compôs um dos hits da sua curta carreira, “Could You Be Loved” (Você poderia ser amado, em tradução livre). Em 11 de maio de 1981, aos 36 anos, Marley morreu de câncer. O reggae no Brasil não pararia de crescer. Semente também dessa viagem.
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"Everything's gonna be all right" (Tudo ficará tranquilo, em tradução livre), escreveu o músico em "No Woman, No Cry". Nada melhor para os dias de hoje. Que voltem logo os luaus. A garganta já tá pronta. Do violão basta trocar a quarta corda.
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Sobrevivência milagrosa à atentado
Em 1976, 7 homens invadiram a casa de Marley, na Jamaica, e dispararam mais de 80 tiros contra ele, a esposa e integrantes da banda.
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Até hoje alguns mistérios rondam esse fato: o motivo e como conseguiram sobreviver são dois deles.
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Caetano e Gil na Inglaterra
Exilada, a dupla tropicalista teve contato com o reggae em Londres, no final da década de 1960. Ambos se apaixonaram.
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Caetano expressa na letra de “Nine out of ten” ( Nove em cada dez, em tradução livre) que caminhava pela estrada de Portobelo, em Londres, escutando o ritmo.
Gilberto Gil, além de “No Woman, No Cry”, vai para a Jamaica na década de 1980 gravar “Vamos Fugir”, com produção do genial Liminha. Sucesso absoluto. 
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Eric Clapton
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O multifacetado Toni Platão lembrou esse colunista sobre a importância do cantor e compositor inglês Eric Clapton para a pulverização do reggae de Marley na Inglaterra.
A gravação da polêmica “I shot the sheriff” (Eu atirei no xerife, em tradução livre), de Bob Marley, ajudou a impulsionar a obra do jamaicano.
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Colônia
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Não custa lembrar que a Jamaica foi colônia britânica por quase 300 anos. Só foi conseguir a independência em 1962.