A escritora morou na rua com os filhos, trabalhou como catadora de papel e
teve a vida transformada pelo poder da leitura
Por Thiago Gomide
Quando “Quarto de Despejo” foi publicado parece que uma grande cortina foi aberta. A obra de 1960 era o relato doído de como era a favela sob o ponto de vista de quem ali vivia.
Não tinha romance. Não tinha passar o dia e dormir no quentinho à noite. Não tinham firulas.
Após morar na rua com três filhos, a mineira Carolina de Jesus conseguiu um barraco de madeira às margens do rio Tietê, em São Paulo. Tudo muito simples, como pode-se imaginar.
O lixão atrás da residência incomodava, principalmente em dia de chuva, quando os restos insistiam em ser hóspedes.
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Semianalfabeta, Carolina saiu da pequena Sacramento, em Minas Gerais, para a grande São Paulo com 17 anos de idade. Nunca teve moleza. Chegou a ser presa injustamente acusada de ter roubado uma Igreja. Sofreu agressões. Não recebeu nem um “desculpa, foi engano” quando ficou revelado o engano do padre.
Na capital paulista, foi empregada doméstica. Nos intervalos do árduo trabalho, se dedicava aos livros da biblioteca do patrão. Talvez entendendo que livro é coisa de rico, o dono da casa demitiu a moça.
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Foi dessa maneira que Carolina descobriu a rua. Catou papel para sobreviver. Passou frio e fome. Ouviu de uma filha o pedido para ser vendida. Junto de centenas de desabrigados foi colocada em uma caçamba e “despejados” na favela do Canindé, pertinho do clube da Portuguesa.
De 1955 a 1960, nadando contra todas as marés, escreveu sua maior obra prima. “Quarto de Despejo” é uma sequência de relatos impactantes sobre o dia a dia da escritora. O leitor perde o fôlego a todo instante. As dores são divididas.
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A publicação se tornou best-seller rápido. Em todo o Brasil e em diferentes países. Carolina estampou capas de jornais. Deu entrevista para gringos. Mostrou que a literatura é também boia de salvação.
Enquanto os aplausos do asfalto se multiplicavam, as pedras dos vizinhos se aproximavam. Insatisfeitos por serem retratados, moradores da favela do Canindé ameaçaram a família da escritora. Teve que sair da comunidade.
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Carolina de Jesus lançaria ainda “Casa de Alvenaria” , em 1961, e “Pedaços de fome e provérbios”, em 1963.
Apesar do sucesso, morreu na pobreza, em 1977, com os filhos fazendo vaquinha com conhecidos para pagar o caixão.
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Em uma história só, o livro abriu as cortinas para que a alta sociedade entendesse os desafios da favela e escancarou uma nova realidade para uma mulher que estava marcada à passar desapercebida nessa injusta vida.
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Bruno Black
Impressiona a força do poeta Bruno Black.
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Capaz de reunir a poesia de diversas favelas do estado do Rio de Janeiro, o rapaz emenda um livro atrás do outro. "Tarja Preta" é o último lançamento.
Largou emprego fixo, com carteira assinada, para ser artista.
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