Projeto do Gustavo Capanema Oscar Niemeyer, Carlos Leão, Jorge Machado Moreira, Affonso Eduardo Reidy e Ernani VasconcellosCAU/RJ

Soa inacreditável. Daquelas conversas que deixamos de lado pela fantasia desmedida.
Só do Governo Federal dizer que está à venda o Palácio Capanema dá um embrulho que, talvez, só me reste explicar o peso desse espaço para a história do país.
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Adianto: essa sandice já pegou mal (pra variar!) em diversos países. Nenhum lugar sério, avançado, trata a arte com desdém. Não é ação compatível com o mínimo de estudo.
Pois bem, o Palácio Capanema é um divisor de águas na arquitetura. É construído de 1937 a 1945 mostrando ao mundo as curvas e cores do modernismo brasileiro. Enquanto falavam de arranha-céus, bailávamos com pilotis e terraço-jardim – assinado pelo genial Burle-Marx, diga-se de passagem. Com esse prédio, o Brasil inovou.
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Há um aproveitamento natural da luz e da ventilação, o que transforma o prédio em símbolo também do raciocínio ambiental. Estrangeiros se debruçam para entenderem, estudarem e se inspirarem na fórmula bem-sucedida até hoje.
O Palácio Capanema, que nasceu para ser a casa do então Ministério da Educação e Saúde Pública, tem as digitais de Le Corbusier e a dupla Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, a mesma que levantou Brasília.
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O poeta Carlos Drummond de Andrade trabalhou no Capanema. A sala do criador de “Quadrilha” está lá, com devidas reverências.
Cândido Portinari, um dos artistas mais conhecidos do Brasil, autor do painel “Guerra e Paz”, produzido especialmente para a sede da ONU em Nova York, teve sua trajetória mudada pelo Capanema.
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As composições em azulejo, que dão brilho aos pilotis, são assinadas por ele. Dentro do imóvel, na Sala Portinari, há 12 afrescos que formam um enorme mural, contando os ciclos econômicos do Brasil.
Em qualquer buraco minimamente inteligente no planeta, isso que acabo de escrever vale uma fortuna incalculável.
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O prédio é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o IPHAN.
Por fim, retorno ao ex-funcionário do Capanema: "No meio do caminho tinha uma pedra /
Tinha uma pedra no meio do caminho".
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Portinari velado no Capanema: encontro de opostos
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Ao morrer, em 1962, Portinari foi velado no Capanema, e teve gente de tudo que é jeito e matriz política: de Luís Carlos Prestes a Carlos Lacerda.

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O nome?
Gustavo Capanema era o ministro da Educação e Saúde Pública e pediu que fosse construído um prédio para ser a sede do Ministério.
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O Rio de Janeiro era Capital do Brasil.
O edifício recebeu o sobrenome do idealizador.
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Quadrilha
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Citei "Quadrilha", do Carlos Drummond de Andrade, e agora coloco na íntegra:
"João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história".