A negação dos fatos e da realidade pura e simples não convencerá ninguém das nossas boas intenções. O caos pandêmico projeta uma imagem internacional extremamente negativa do Brasil que pode ser tema da política exterior
Por Cesário Melantonio Neto
Graças aos últimos dois anos de desdiplomacia, o Brasil alienou todos os seus grandes parceiros na União Europeia ficando com a Polônia, Hungria e Eslovênia. O desprezo que sofremos diariamente na Europa tem base nos erros cometidos pelo governo brasileiro destruindo anos de trabalho de aproximação com o velho continente.
Nem no período do regime militar a nossa imagem esteve tão abalada na mídia e na opinião pública europeias. A maioria dos países da União Europeia tem virado as costas para a atual administração brasileira. Ao insistir em ir na contramão da História nos principais temas internacionais, rompemos pontes que levaram décadas para a construção. Vamos esperar que a nova administração do Itamaraty - sem muito tempo disponível - trabalhe para restabelecer os estreitos vínculos que tínhamos com os mais importantes países europeus.
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Desde os tempos de Aristóteles, Platão e Sócrates as noções de moral, ética e virtude permeiam a atividade política interna e externa. Essa dimensão perdida da nossa atividade diplomática pode e deve ser recuperada se quisermos uma boa relação com as nações europeias imbuídas de uma visão filosófica da ética e da moral. A recente suspensão dos voos entre o Brasil e a França, resultado da situação sanitária, é apenas um exemplo das sanções crescentes que podemos sofrer globalmente.
A negação dos fatos e da realidade pura e simples não convencerá ninguém das nossas boas intenções. O caos pandêmico projeta uma imagem internacional extremamente negativa do Brasil que pode ser tema da política exterior. Ainda mais no momento em que se instaura no Senado uma Comissão Parlamentar de Inquérito sobre o assunto que terá repercussão na mídia mundial.
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O acordo comercial entre União Europeia e Mercosul encontra-se emperrado pela política ambiental desastrosa na Amazônia e no Pantanal em uma relação custo-benefício negativa para os interesses nacionais. O maior programa de proteção da Amazônia, com a Alemanha e a Noruega, foi paralisado por críticas do governo brasileiro.
Órgãos como o Ibama e o Instituto Chico Mendes de Biodiversidade estão hoje sem recursos para pagar as mínimas despesas. O ICM-Bio que fiscaliza as unidades de conservação não tem mais orçamento para pagar as contas de helicópteros e veículos, e nem mesmo para enviar fiscais no começo da temporada de incêndios no Brasil.
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A União Europeia gostaria de ver um compromisso maior com relação ao crescente desmatamento ilegal na Amazônia, mas a atual administração em Brasília prefere aliar-se com o garimpo e madeireiras ilegais sem nenhum remorso. A aplicação de sanções ao Brasil por essa política ambiental nefasta não está fora das cogitações da diplomacia europeia. Além disso, o tema ambiental é relevante para tentativa brasileira de ingresso na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
O Brasil de hoje é um país em vias de subdesenvolvimento e deixou o ranking das dez maiores economias mundiais. Mais cedo ou mais tarde, vamos precisar de uma melhor relação com a Europa para recuperar essa posição perdida. Países europeus, a começar pela Alemanha, a França e a Holanda, e agora cada vez mais os Estados Unidos, só vão aceitar que a OCDE inicie negociações formais para o país entrar na organização se o Brasil tomar medidas concretas para a proteção das florestas.
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O combate à desigualdade social pode igualmente melhorar a imagem do Brasil na Europa no momento em que os 20% mais pobres ganham apenas 3% da renda nacional, contra 4,7% na Argentina e 5% no México. A recuperação da dimensão social da nossa política exterior pode ajudar na melhoria da imagem internacional.
Como nova prioridade na relação com os europeus poderíamos colocar a política ambiental revista e reprogramada com a preservação dos recursos naturais e o fim do desmatamento. Este voltou a aumentar recentemente, no momento em que houve um enfraquecimento do atual quadro de proteção jurídica.
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As mudanças climáticas serão um tópico cada vez mais discutido e apoiado na União Europeia. Vamos passar da questão covid para a mudança climática como questão global principal. O mundo europeu está vendo este ano como um novo começo. O novo caminho irá em direção do natural e saudável. Alimentos, experiências e formas de produzir 100% naturais são o futuro.
O Brasil tem todas as condições para encaixar-se bem nessa economia ambiental global com imensas vantagens comparativas para o comércio internacional. Seria uma pena desperdiçar esse capital por erros cometidos na política ambiental com a Europa e o mundo.
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