O Brasil está fraturado na escolha do eleitor, pois os pobres votam em Lula com a esperança de um ambiente econômico que os favoreça, os não pobres de mais nível de renda dão mais votos a Bolsonaro. Nosso país precisa ter foco no resgate aos pobres, mas isso vai demandar do próximo governo políticas fortes e precisas para atacar o agudo da crise, e muita capacidade de escolha e decisão sobre o uso dos recursos públicos. O combate à pobreza é uma emergência.
Nada resolverá quem nega a existência do problema. O ocupante do Planalto negou que a fome exista no Brasil, apesar de ser uma realidade gritante. Na realidade, o que se vê desde 2019 é um país que aprofundou suas divisões de renda.
O grupo que vota majoritariamente em Lula ganha até dois salários-mínimos. Inclui os miseráveis e os que têm muita dificuldade de suprir as necessidades básicas. Do outro lado político ficam os que não são pobres.
Essa divisão revela o pior do país que o Brasil tem sido: excludente, apartado, com políticas sociais concentradoras de renda, com a captura do Estado pelas mais diversas elites, com as cicatrizes de uma nação, com n minúsculo, que se organizou em sesmarias, capitanias e escravidão.
Não devemos carregar essa bola de ferro acorrentada aos nossos pés que inibe o desenvolvimento econômico e social do país para sempre. Os governos são julgados pela qualidade das respostas às crises e este foi marcado por hesitações, incompetência, falta de foco, negação da realidade e demagogia eleitoral.
A conjuntura agora é muito mais grave do que no passado. Há armadilhas nas contas públicas que explodirão no início do ano próximo, o mundo está em recessão, os preços dos produtos que exportamos em baixa, o país estagnado sem contar a inflação galopante.
Milhões de brasileiros voltaram à pobreza e a atual administração seleciona dados que a favoreçam e ignora que todos os outros indicadores são muito ruins. Comparado com qualquer governo anterior este é muito pior.
O principal problema é que o governo não está olhando para a frente, e a política que ele desenhou não é sustentável, nem desejável. O desenho do Bolsa Família era melhor e foi, sem dúvida, um progresso e isso é consenso mundial. O gasto público eleitoreiro sem controle e sem parâmetros fiscais produz inflação crescente que empobrece ainda mais os pobres.
É preciso haver limites ao atual crescimento desenfreado da dívida e horizonte para a queda do déficit. Os pobres vivem os dramas provocados por uma resistente inflação de alimentos que terminará este ano em torno de 12%. Isso enquanto o subsídio faz a festa da classe média no posto de gasolina.
Os pobres precisarão de políticas de emprego e de renda focadas. Oitenta por cento dos que estão desempregados há mais de dois anos são das classes D e E. Eles são também maioria entre os endividados. O resgate dos pobres exigirá que o Brasil tenha políticas com foco em todas as áreas. Não podemos mais carregar ignomínia da fome e a vergonha da privação que devasta milhões de brasileiros.
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