Os Estados Unidos receberam semana passada a Cúpula das Américas pela primeira vez em 28 anos. O que deveria ser uma oportunidade para Washington mostrar a força de sua liderança, mostrou, ao contrário, uma queda de influência norte-americana na região.
O presidente do México, o aliado mais importante, não compareceu à Cúpula após o boicote à participação de Cuba, Venezuela e Nicarágua.
Honduras e Bolívia também se ausentaram devido à seletividade dos convites e o Brasil reticente concordou em aparecer após arrancar a promessa de um primeiro encontro bilateral com Joe Biden.
Já países do Caribe fizeram um lobby bem-sucedido para evitar convite a Juan Guaidó.
A controvérsia é deplorável porque a América Latina é importante e foi relegada, por Washington, a um segundo plano.
Produtora relevante de alimentos e combustível, a região poderia contribuir para preencher a lacuna no abastecimento global deixada pela guerra na Ucrânia e pelas sanções à Rússia.
A América latina possui as maiores reservas de lítio e outros metais. Tem lugares excelentes para gerar energia eólica e solar. Por menos sorte é também a origem da maior parte da cocaína mundial.
Quando Clinton convocou a Cúpula inaugural, em 1994, não precisou convencer presidentes a comparecer ao evento.
O que estava sendo oferecido era uma iniciativa arrojada: as promessas de uma área de livre comércio que se estenderia do Alasca à terra do Fogo. Essas negociações acabaram em fracasso, mas a ideia continua sendo o ponto alto das ambições norte-americanas na região.
Confrontadas com isso, as ofertas prometidas por Washington no encontro foram escassas.
A prioridade foi uma declaração sobre a migração e as promessas de 300 milhões de dólares em ajuda. São substitutos fracos para acordos comerciais ambiciosos e grandes investimentos em infraestrutura que poderiam transformar as perspectivas de crescimento da América Latina e estimular empresas norte-americanas a transferir sua produção industrial.
A ausência do México e de parte da América Central são especialmente inoportunas para a declaração sobre migração. Ela não contou com as assinaturas dos países que estão por trás do maior aumento dos cruzamentos ilegais das fronteiras dois EUA nos últimos 20 anos.
A aversão do governo Biden a novos tratados comerciais privou a reunião do que poderia ter sido um trunfo. Os governos do Equador e do Uruguai se mostraram frustrados com a dificuldade em fazer Washington negociar sobre comércio e investimentos.
Houve outras decepções. Muito pouco foi feito para mudar as políticas punitivas da era Trump.
A China, em contrapartida, não está de braços cruzados. Durante o período de 15 anos encerrado em 2020, seus bancos estatais emprestaram 137 bilhões de dólares à América Latina e suas empresas fizeram 83 bilhões de dólares em aquisições.
Pequim se tornou o maior parceiro comercial da América do Sul e mais de vinte países da região se inscreveram na Iniciativa do Cinturão e da Rota da Seda, destinada a financiar grandes obras de infraestrutura.
A China pôs os negócios em primeiro lugar sem fazer restrições ao comportamento dos governos da região.
Os EUA estão perdendo espaço na América Latina para Pequim.
Se não conseguir se comprometer com uma agenda muito mais arrojada de comércio e investimentos, e com uma reavaliação de sua política para Cuba e Venezuela, os EUA se verão cada vez mais superados por Pequim na América Latina.