Cesário Melantonio Neto: O agravamento da crise energética na Europa
O ministro da Economia alemão, Robert Habeck, afirmou que a situação está se agravando a ponto de o uso de energia como arma estar se tornando uma realidade
A pressão na Europa em busca de fontes alternativas de fornecimento de gás aumentou após Moscou impor sanções contra as subsidiárias europeias na estatal energética russa Gazprom e a Ucrânia interromper os fluxos em uma rota de trânsito de gás, elevando os preços do combustível.
A Rússia impôs sanções principalmente às subsidiárias europeias da Gazprom, incluindo a Gazprom Germânia, uma empresa de comércio, armazenamento e transmissão de energia que no mês passado a Alemanha pôs sob tutela estatal para garantir seu abastecimento.
Embora o movimento pareça ser em grande parte simbólico - equivalente a cerca de 3% das importações de gás russas da Alemanha - o Kremlin está demonstrando que não terá medo de pressionar o seu principal cliente. Os preços de referência de gás na Europa subiram mais de 20%.
A Rússia também impôs sanções à proprietária da parte polonesa do gasoduto Yamal-Europa que transporta gás russo para a Europa removendo uma potencial rota alternativa para clientes europeus receberem gás. Um site do governo russo publicou uma lista de empresas afetadas.
O porta-voz do Kremlin, Dimitry Peskov, disse que as empresas não mais podem participar do fornecimento de gás russo, nem em associação com outras entidades. Grande parte delas está baseada em países que impuseram sanções à Rússia em resposta à invasão da Ucrânia, a maioria países da União Europeia.
A Alemanha informou que algumas subsidiárias da Gazprom Germânia não estão recebendo o gás por causa das sanções. Berlim garante que busca alternativa para esse problema. O ministro da Economia alemão, Robert Habeck, afirmou que a situação está se agravando a ponto de o uso de energia como arma estar se tornando uma realidade.
A Gazprom e suas subsidiárias são afetadas. Isso significa que algumas das filiais não estão mais recebendo o gás russo. Mas o mercado está oferecendo alternativas. Habeck disse que as medidas russas parecem destinadas a elevar os preços, mas a queda esperada de 3% nas entregas de gás russo pode ser compensada no mercado, embora a um preço mais alto.
Os preços do gás no atacado na Europa dispararam em 2021, aumentando os encargos para famílias e empresas. Embora o armazenamento de gás alemão esteja cerca de 40% cheio, ainda é baixo para esta época do ano, e os estoques precisam ser acumulados durante o verão em preparação para o inverno.
Com conexões diretas de gasodutos com a Rússia, a Finlândia e os países bálticos dependem mais de gás russo do que outros países europeus. Se o fornecimento de gás russo for reduzido ou cortado, Finlândia, Estônia, Letônia e Lituânia podem ter de reduzir a demanda, observou a rede europeia de gás ENTSOG em suas perspectivas de verão.
Moscou anunciou as ações contra a Polônia e a Alemanha um dia depois que a Ucrânia interrompeu o abastecimento de gás para a Europa de Sokhranovka, culpando a interferência das forças russas, na primeira vez em que as exportações de gás via Ucrânia foram afetadas desde a invasão. O ponto de trânsito fechado pelos ucranianos geralmente lida com cerca de um terço do total das remessas de gás russo para a Europa, e a Ucrânia propôs que os fluxos pudessem ser redirecionados para um ponto de trânsito alternativo, SUDJA.
O chefe da operadora de gasodutos ucranianos GT-SOU informou que não reabrirá a rota de trânsito de gás russo para a Europa até que Kiev obtenha controle total sobre os seus gasodutos. A empresa declarou que suspenderia os fluxos por motivo de força maior, alegando roubo de gás por separatistas favoráveis à Rússia. O gasoduto cruza a região de Luhansk, na Ucrânia, parte da qual está sob controle separatista desde 2014.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.