Cesário Melantonio NetoDivulgação

A Frente ocidental contra Moscou já mostra sinais de divisão, com os aliados europeus de Washington cada vez mais rachados quanto à continuidade do envio de armas poderosas para a Ucrânia, que alguns temem que possa prolongar o conflito e agravar as suas consequências econômicas. O que está dividindo esses países é a divergência na percepção sobre a ameaça de longo prazo representada pela Rússia e se a Ucrânia conseguirá de fato prevalecer no campo de batalha.
O primeiro bloco, liderado pela França e Alemanha, está cada vez mais relutante em fornecer à Ucrânia armas ofensivas e de longo alcance de que precisa para retomar partes de seu território ocupadas pelo exército russo no Sul e no Leste. Esse grupo duvida que a Rússia venha a ameaçar diretamente a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
Por outro lado, Washington, Londres e um grupo de nações, principalmente do Centro e Norte da Europa, algumas delas ex-membros do bloco soviético, veem a ofensiva russa como um prenúncio de uma maior expansão de Moscou, fazendo da Ucrânia a linha de frente de uma guerra mais ampla contra o Ocidente.
As diferenças entre os dois grupos vieram à público com mais intensidade na semana passada, quando os chefes de governo da União Europeia realizaram uma reunião de cúpula sobre a Ucrânia. Os governos europeus conseguiram coletivamente chegar a um acordo sobre medidas para isolar a Economia russa que antes pareciam impensáveis, incluindo um embargo à maior parte do petróleo russo vendido para a Europa. Mas as opiniões seguem bastante divididas sobre os riscos da guerra e as chances ucranianas.
Declarações públicas dos líderes da França e da Alemanha e comentários de autoridades desses países sugerem que Paris e Berlim estão céticos de que Kiev conseguirá expulsar os russos e pediram um cessar-fogo negociado, provocando reclamações da Ucrânia de que está sendo pressionada a ceder parte do seu território a Moscou. Líderes dos países bálticos, Polônia e outros afirmam, por sua vez, que fornecer armas pesadas e cada vez mais sofisticadas para a Ucrânia é fundamental não só para sustentar a linha de batalha, mas também para reverter os avanços russos e desferir em Moscou o tipo de golpe que impediria Vladimir Putin de lançar qualquer outra ação militar no futuro.
Algumas nações europeias estão perdendo o apetite pela sustentação da guerra que acreditam ser impossível de ser vencida e que chegou a um impasse sangrento que está drenando recursos europeus e exacerbando uma recessão iminente. Por outro lado, Polônia e os países bálticos, que já estiveram sob o jugo do Kremlin, se veem como os próximos alvos da expansão russa.
O fluxo de milhões de refugiados ucranianos para esses países levou a guerra para muito mais perto da vida dos cidadãos comuns, enquanto que para a Alemanha, Áustria e Itália, o conflito é sentido principalmente através dos custos mais altos de energia. Os líderes da França e Alemanha ainda não visitaram Kiev. O primeiro-ministro alemão, Olaf Scholz, já alertou várias vezes que o conflito poderá levar à Terceira Guerra Mundial e à uma guerra nuclear.
A Alemanha não enviou tanques para a Ucrânia e concordou em mandar sete peças de artilharia pesada. Alguns funcionários do Ministério da Defesa alemão denunciaram a falta de vontade política. Cerca de 70% dos alemães apoiam essa política cautelosa de Scholz, segundo uma pesquisa feita no início de maio último. Outras pesquisas mostram dúvidas semelhantes na Itália, França e Áustria.
Cesário Melantonio Neto