Cesário Melantonio NetoDivulgação

Um número crescente de países está impondo restrições à exportação de alimentos, inclusive o Brasil, como no caso do milho. Esta medida global é uma resposta à escalada mundial dos preços, aumentando a preocupação sobre uma potencial crise planetária dos alimentos.
Para enfrentar o problema, os Estados Unidos vão anunciar um plano internacional contra a fome e a insegurança alimentar, segundo a secretária do Tesouro, Janet Yellen. Conforme a Organização Mundial do Comércio (OMC), chega a 23 o número de nações que restringem a exportação dos alimentos e, dentre elas, o Brasil.
A Índia é o caso mais recente, na esteira de uma onda de calor recorde que destruiu boa parte da sua safra. O país que antes queria exportar parte do seu estoque, agora tornou-se um complicador adicional na insegurança alimentar. Claramente, a guerra da Rússia contra Ucrânia intensificou em todo o mundo o problema da falta de alimentos.
A guerra está tendo um impacto além da Ucrânia. Os preços apocalípticos dos alimentos podem ter um efeito desastroso sobre os pobres do mundo. O plano internacional contra a fome e a insegurança alimentar, apresentado na reunião dos ministros de finanças do G7, pretende que instituições como o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional e o Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento forneçam apoio emergencial para ajudar os países a aumentar a produção e a oferta de alimentos, e lidar com os preços mais altos.
Em documento apresentado na Organização Mundial de Comércio (OMC), o governo dos Estados Unidos menciona que o aumento recente dos preços de alimentos e a maior escassez desses produtos e de insumos ameaçam agravar a fome e a desnutrição, desestabilizar sociedades fragilizadas, como a brasileira, pelas desigualdades sociais extremas, favorece a migração crescente e causará graves perturbações econômicas.
As restrições às exportações de produtos agrícolas contribuíram fortemente para a crise alimentar de 2008 - 2010.
A Organização Mundial do Comércio conclamou os países, inclusive o Brasil, a evitarem restrições injustificadas como limites à exportação, constituição de estoques reguladores excessivos de produtos agrícolas e outras medidas que possam ampliar a atual insegurança alimentar. É urgente a busca de rotas alternativas para a exportação de grãos ucranianos para evitar uma crise de fome internacional.
Dezenas de navios, incluindo os que transportam cargas de alimentos para a África e o Oriente Médio, foram afetados pela invasão da Ucrânia por forças russas. Algumas nações estão trabalhando com a Organização Marítima Internacional para pressionar a Rússia a fim de estabelecer corredores seguros para o transporte marítimo de forma que produtos agrícolas perecíveis possam alcançar o seu destino.
A dificuldade no acesso a cereais, grãos alimentares, óleos e insumos agrícolas terá impacto sobre populações mais vulneráveis. O programa alimentar mundial da ONU calcula que 811 milhões de pessoas sofrem cotidianamente de fome. O maior problema é que a Ucrânia só consegue exportar por vias férreas para a Europa porque seus portos estão paralisados pela guerra.
O fornecimento global para a produção de trigo poderá cair pela primeira vez em quatro anos. O maior problema é a distribuição, ainda mais com as dificuldades de escoamento no Porto de Odessa. Há países que apostam em resolver seus próprios problemas, como a Índia, acumulando estoques e freando a exportação de alimentos.
Os limites da Organização Mundial do Comércio são claros no que concerne a tentativa de evitar uma crise alimentar mundial nos próximos meses. O máximo que os estados membros podem fazer é conclamar por moderação máxima para que não sejam impostas restrições às exportações. Outra medida quer transparência para quando os países forem adotar restrições avisarem com antecedência para que a informação chegue rapidamente aos operadores comerciais.
Cesário Melantonio Neto