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A escolha eleitoral de outubro vai definir, mais do que nunca, os rumos do país e do nosso povo. O que deveria ser uma escolha fácil, quase óbvia, infelizmente não é o que temos percebido. Ao contrário, a opção pela barbárie ou pela civilização parece estar se cristalizando numa disputa acirrada e perigosa. É muito difícil enfrentar quem não tem limites, nem moral e nem ética e, muito menos, noção do ridículo; enfim, quem não joga o jogo democrático.
E o pior, confrontar quem usa a força do governo para desestabilizar as instituições. A militarização não é apenas uma opção, é também uma permanente forma de intimidar a estabilidade institucional. As ameaças constantes aos Poderes estabelecidos acabaram vulgarizando o debate e, muitas vezes, as pessoas nem respondem mais às insanidades ditas diariamente pelo presidente da República e pelo bando de serviçais sempre dispostos a agradar ao chefe.

As agressões permanentes foram consolidando na sociedade uma imagem, que de tão bizarra parece deturpada, de um chefe de Estado que, deliberadamente, fala para um grupo que depende dele e o apoia de maneira incondicional. Pouco importa se o país é motivo de chacota internacional ou se internamente todas as áreas estão sendo esfaceladas. A estratégia escolhida é de terra arrasada, é de destruir toda e qualquer conquista humanista das últimas décadas. E é uma destruição organizada, planejada e trabalhada.

A política de desmantelamento da Saúde, da Cultura, da Educação, da Justiça e da Segurança, dentre outras, visa a manutenção desses bárbaros no poder. Quanto menos a sociedade estiver organizada e consciente, mais facilidade o bolsonarismo terá de crescer e se espalhar.

E a tentativa de manter as pessoas permanentemente reféns do medo e da apreensão também é uma estratégia deliberada de poder. Mesmo antes da posse, esse bando se ampara na hipótese de um golpe militar e os exemplos são incontáveis. Desde a ameaça do próprio presidente da República de fechar o Supremo e o Congresso até as intimidações físicas e personalizadas aos ministros do Supremo Tribunal. Sem contar os inúmeros xingamentos, com palavras de baixíssimo nível, às autoridades constituídas. Tudo que nos envergonha e constrange é motivo de orgulho e regozijo por parte dessa gente sem limite.

Esse constante estado de tensão se apoia nas frequentes ações de esgarçamento das relações institucionais entre os poderes constituídos e nas atitudes governamentais de pensada beligerância. Por isso, a opção de armar a população. Hoje, cerca de um milhão e 400 mil armas estão nas mãos de civis, um contingente maior do que existe em poder da Segurança Pública.
O número crescente de militares em cargos tradicionalmente ocupados por civis parece dar a sensação de que sem eles o governo não tem estabilidade. As provocações grosseiras, antes tidas como privilégio apenas do presidente, agora já partem também de militares de alta patente, que aparentemente perderam o senso de responsabilidade. E a ingerência deles nos Poderes da República, especialmente no Judiciário, aparenta ser uma estratégia de dominação. Por que um ministro da Defesa faz visita formal ao chefe do Judiciário e assegura que as Forças Armadas cumprirão a Constituição? Ninguém se mobiliza para dizer o óbvio, o trivial e o básico, salvo se…

Faço essas reflexões para mostrar como é absurda a tese, tantas vezes repetidas, de que as urnas eletrônicas não são confiáveis e que o resultado das eleições poderá ser questionado. Tudo isso é pretexto para uma imaginada resistência armada a uma cada vez mais patente derrota.

É necessário que todos nós nos manifestemos dando nome aos pretensos golpistas. O Brasil não é um país de quinta para ficar nas mãos desses irresponsáveis bravateadores! A comunidade internacional já se manifesta pela necessidade de estabilidade democrática.

Resistir às bazófias desses siderados vai demonstrar quem é quem na hora da definição. Os bolsonaristas já fizeram a opção quando, expressa e claramente, apoiam a tortura, cultuam a morte e agridem os direitos das mulheres, dos negros, dos LGBTQI+, dos pobres e de todas as minorias.

Temos que voltar ao início e assumir que não haverá golpe e que a civilização vencerá a barbárie. Não podemos alimentar esse delírio. Vamos nos lembrar do velho Eça de Queiroz: “É o comer que faz a fome”.

Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay