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Há uma certa perplexidade no ar pelo resultado das eleições. Embora o Lula tenha conseguido chegar à frente do atual presidente da República em número de votos, o que é inusitado, resta um gosto amargo por uma contingência de fatores. Só ele, acima mesmo do PT, conseguiria superar um presidente em exercício no 1º turno. É sinalização clara de que venceremos em 30 de outubro e afastaremos os fascistas do governo.

A eleição deve sempre ser respeitada e a segurança das urnas nos remete a isso. E, numa democracia, o que deve prevalecer é a vontade da maioria. Mas uma análise do que ocorreu em alguns lugares é mais do que necessária. Não me refiro às surpresas e novidades eleitorais, que sempre ocorrem e fazem parte, tornando esse momento uma grande festa cívica e democrática. Eu me refiro ao Rio de Janeiro.

É muito espantoso, para quem procura dar às eleições no Rio alguma racionalidade, no que se transformou o estado. No Brasil, vivemos um período de obscurantismo tal que boa parte dos que vão comandar o país, no Congresso, são os que se destacaram pela condução desastrosa da pandemia e, logo, são responsáveis diretos por milhares de mortos. Ou o que prometeu passar a boiada e incendiar o meio ambiente. E até mesmo o que corrompeu o sistema de Justiça. E por aí vai.

Mas, no Estado do Rio, vivemos uma metástase democrática. A milícia domina abertamente, à luz do dia, 65% do território fluminense. A droga é responsável por outros 15%. Os últimos seis governadores foram presos ou afastados do cargo por corrupção. Com a assunção do vice, atual mandatário, presenciamos a prisão, nos últimos meses, de cinco secretários de estado. Inclusive o responsável por cuidar do combate ao crime. Recentemente, eclodiram vários episódios de corrupção com a descoberta de milhões de reais de dinheiro público sendo distribuído a funcionários fantasmas. É escândalo quase diariamente.

Qualquer um desses fatos, mesmo se olhados isoladamente, daria ensejo a um rigor maior, por parte do eleitor, na escolha de quem deveria gerir a coisa pública no Estado. Esqueçam! Mesmo com a confirmação de todos os fatos escabrosos, a população do Rio segue anestesiada. Pouco importa qualquer comprovação de desvio financeiro e, muito menos, prisões que ainda persistem. É como se o atual governador tivesse cumprindo um papel, aguardando na fila da prisão. Como se o eleitor já tivesse feito esse raciocínio e houvesse computado a prisão como fato inquestionável e inevitável. Como se a corrupção estivesse incorporada à vida cotidiana.

É assustador. Não se trata somente de ganhar ou perder as eleições, muito menos de divisão esquerda versus direita. Há, ao que tudo indica, uma conjunção macabra de fatores. O Rio é tão bonito, tão esplendoroso, com tanta riqueza e o povo tem charme único no cenário nacional, mas cultiva cultura que fomenta a individualidade e que, parece, ter desistido dos valores humanistas que deveriam forjar uma sociedade. A desigualdade, o descalabro, o descaso e os desmandos estão tão incorporados ao cotidiano que boa parte do fluminense não parece mais se importar com políticos desqualificados.

Essa cidade é a porta de entrada para o Brasil, é o retrato do país no exterior e é necessário resgatar o Rio. Foi dura e doída a derrota, pelo que ela representa e pela figura emblemática do candidato Freixo: o retrato da esperança e que encarna tudo que precisamos para derrotar os usurpadores do Rio. O pior é que esse foi o principal motivo do fracasso.

Mas precisamos cantar a música ‘Tá Escrito’, do Grupo Revelação, que ouvi tantas vezes na campanha: “Erga está cabeça, mete o pé e vai na fé, manda essa tristeza embora, basta acreditar que um novo dia vai raiar, sua hora vai chegar.”

Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay